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Notícias | Região Exclusivo

Estrutura da rodoviária de São Leopoldo corre risco de colapso, aponta laudo

Sem manutenção, espaço se deteriora enquanto os projetos não saem do papel

Por DANIEL STEIN ROHR
Publicado em: 16.06.2019 às 21:27 Última atualização: 16.06.2019 às 21:27

Se até quem circula pela Rodoviária de São Leopoldo consegue atestar a precariedade da estrutura, especialistas no assunto alertam que há risco de colapso em parte da cobertura. Um laudo pericial ao qual a reportagem teve acesso, que consta em uma ação popular movida pelos lojistas da rodoviária contra a Prefeitura, mostra que há problemas de corrosão em diversos pilares, além de fissuras e trincas na alvenaria das paredes e infiltrações no telhado.

Foto por: Diego da Rosa/GES
Descrição da foto: Pilares da área em frente à Avenida Dom João Becker estão em avançado estágio de corrosão

Assinado pela engenheira civil Carla Beazutti, o documento de 46 páginas deixa claro, em sua conclusão, que há risco para os usuários da rodoviária. "Consideramos que existe perigo de colapso estrutural na cobertura da área de serviços, onde ainda não foi executado serviço de reparo na base dos pilares metálicos, bem como nas marquises norte e sul (concreto armado), leste (metálica) e cobertura do ponto de táxi (metálica), que demandam a execução de um plano imediato que mitigue esta condição", escreve a autora.

Os problemas mais aparentes estão nos pilares de ferro que sustentam a cobertura. "Mesmo um leigo pode verificar que os pilares que dão sustentação ao sistema estão muito danificados por corrosão em sua base, em alguns casos, o pilar já perdeu o contato com a base, evidenciando que a estrutura está suportando o pilar e não este suportando a estrutura", atesta a engenheira civil. Na parte da rodoviária ao qual os ônibus têm acesso, esses pilares receberam o reforço de sapatas de cimento, em uma obra emergencial executada a pedido da associação de lojistas.

O laudo termina com uma conclusão nada alentadora para as cerca de 3,5 mil pessoas que utilizam a rodoviária diariamente. "A estação rodoviária, objeto da perícia, está comprometida quanto ao seu desempenho, haja vista a deficiência de sua performance quanto a estanqueidade a água, durabilidade e corrosão da estrutura metálica", sacramenta a engenheira civil.

Investimento?

Secretário de Gestão e Governo, Marcel Frison afirma que a Prefeitura não tem conhecimento desse laudo. "Nunca foi entregue nada. Seria interessante que fosse apresentado por quem fez. Mas não precisa ser expert para perceber que precisa fazer uma reforma ampla, só que não faz sentido a gente gastar dinheiro se estamos buscando investimento privado", diz Frison, referindo-se ao projeto elaborado pelo governo para remodelar o espaço.

Associação de lojistas fez reparos emergenciais

Desde 1994 administrando as passagens da Rodoviária de São Leopoldo, o gerente da rodoviária, Júlio Lara, explica que, durante a concessão, a responsabilidade pela manutenção era da Imobiliária Ativa, empresa que venceu a licitação que ocorreu em 1995. Ao longo desse período, porém, Lara denuncia que a empresa se absteve. “Essa empresa teria uma série de responsabilidades com o terminal, mas nunca fez nada. Ela só ampliou e remodelou o terminal. Desde então nunca fez manutenção. Nem do telhado, nem da parte elétrica, nem pintura, nem parte hidráulica. Nada”, resume Lara.

Diante do descaso, os lojistas criaram uma associação e passaram a recolher uma espécie de condomínio, para quitar despesas cruciais, como limpeza e energia elétrica, além de reparos emergenciais. Um exemplo desse reparo foram as sapatas construídas ao redor dos pilares. “A associação não tem caixa para fazer uma reforma mais ampla. São 3 mil metros quadrados. Hoje a rodoviária se encontra em estado precário. A estrutura se deteriorou. O estado geral é de precariedade”, lamenta.

Foto por: Diego da Rosa/GES
Descrição da foto: Sapatas foram inseridas de forma emergencial para sustentar alguns pilares

Como o contrato de concessão foi encerrado em 2017, a gestão da rodoviária retornou para a Prefeitura, que agora cobra os aluguéis dos comerciantes. Mas, como o Município pretende repassar a estrutura novamente à iniciativa privada, o espaço encontra-se em um limbo. “Estamos ali controlando de uma maneira precária. O condomínio administra o entorno. Estamos conduzindo de uma maneira que não é ideal”, reconhece Frison. Representantes da Imobiliária Ativa não foram localizados pela reportagem.

Principais problemas apontados no laudo

• Corrosão na base dos pilares metálicos da estrutura de cobertura da área de serviço

• Fissuras e trincas na alvenaria de vedação, que por sua vez provocam outras manifestações patológicas como infiltrações e umidade

• Problemas de obstrução das calhas de cobertura

• Descolamento generalizado de revestimento, comprometendo demasiadamente a estética da construção

• Problemas de infiltrações não oriundas de rachaduras, mas por problemas de manutenção preventiva nos telhados e suas estruturas

Rotina de apreensão entre usuários

Para quem circula pela rodoviária com frequência, a apreensão se tornou um hábito - não tanto pelas condições estruturais do prédio, e sim pela insegurança. Morador de Dois Irmãos, o aposentado Raul Martins, 69 anos, sabe bem o que é isso. Ele desembarca em São Leopoldo todos as semanas para visitar o filho, que mora no bairro São Miguel, e já precisou se desvencilhar de um pedinte que o interpelou. "Ele ficou na minha frente e me segurou. Eu empurrei ele pra longe e aí ele desistiu. Mas isso eu já vi mais de uma vez. A gente fica ressabiado, acaba um alertando o outro", revela.

Esse problema, no entanto, já foi maior. Hoje, um segurança contratado pela associação de lojistas fica na rodoviária durante o dia, e garante a paz aos usuários. "Se eu não estou aqui, isso vira um caos. Eu ando com dois porretes para me defender, porque já vieram pra cima de mim em seis. Eles fazem baderna e acham que estão com a razão", conta o segurança, que preferiu não se identificar.

Ambicioso demais, projeto será refeito

Apresentado pela Prefeitura há um ano, o projeto para remodelar a rodoviária com investimentos privados de até R$ 25 milhões não avançou. Ambicioso, o projeto original previa ampliação de 67,6% na área de lojas e três andares de estabelecimentos. Também estava prevista a construção de um jardim suspenso no terceiro andar, com vista para o rio, uma passarela para fazer a ligação com a Prefeitura e um prédio para abrigar órgãos de segurança.

Secretário de Gestão e Governo, Marcel Frison explica que a Prefeitura teve dificuldades para encontrar interessados nos moldes em que o projeto foi concebido. Por isso, a peça está em revisão. "Aquele projeto ficou com um preço bastante alto e tivemos muitos questionamentos. Não houve maiores interessados no projeto como um todo. Estamos diminuindo as expectativas, o orçamento, e preparando uma outra proposta que seja viável", diz. Ele atribuiu a mudança, em parte, ao momento econômico. "A conjuntura mudou muito. Hoje o dinheiro está escasso, todo mundo retraído e a gente vai ter que se adequar."

 

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