Na rota do tráfico internacional, Novo Hamburgo teve 1,27 tonelada apreendida em 6 meses

Prejuízo é de R$ 7,7 milhões ao narcotráfico

Por Suélen Schaumloeffel

 

 

Quase 1,3 tonelada de drogas apreendidas em Novo Hamburgo nos seis primeiros meses do ano, pelas polícias civil, militar e federal, mostram que a cidade tem papel crucial na rota internacional do tráfico. São mais de mil quilos de maconha e cerca de 265 quilos de cocaína. O prejuízo para os narcotraficantes chega a R$ 7,7 milhões. A estimativa é feita a partir dos valores médios de venda do quilo da droga, conforme dados da Polícia Civil.

A apreensão mais recente ocorreu na noite de terça-feira, no Centro, quando 25 quilos de maconha foram encontrados pela Brigada durante abordagem. No dia 11 deste mês, a Polícia Federal realizou a maior apreensão de cocaína do ano no Estado em Lomba Grande - 255 quilos. Já a maior apreensão de maconha feita em 2019 na cidade foi em abril, quando a BM chegou a quase 300 quilos no bairro Vila Diehl.

REPRESSÃO

Segundo o delegado Alexandre Quintão, titular da 3.ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo (3.ª DP), que em março também realizou a apreensão de grande quantidade da droga, o número alcançado pelos órgãos de segurança é expressivo. "Não é um número comum para Novo Hamburgo, mas é elogiável o trabalho realizado na repressão ao tráfico. Os resultados significam que as investigações deram o bote na hora certa", ressalta. Em média, a 3.ª DP realiza a apreensão de meia tonelada de droga anualmente.

 

Terra de facção

As apreensões realizadas em diferentes circunstâncias evidenciam que Novo Hamburgo é parte de rota internacional do narcotráfico. Mas por quê? Segundo Quintão, que atua há cerca de dez anos na região, são diversos fatores que fazem do Vale do Sinos, especificamente o território hamburguense, rota frequente para escoamento e distribuição de drogas. "O principal fator deve ser porque é a cidade onde nasceu uma das maiores organizações criminosa do Estado, que surgiu entre bairros de Novo Hamburgo e São Leopoldo, e criou ramificações por toda a região. Justamente por isso há uma tendência de grandes volumes de droga passar por aqui."

 

Ações de inteligência

Em 2019, a Brigada Militar (BM) apreendeu 418 quilos de drogas na cidade. É seis vezes mais que o total de 2017, por exemplo. "O setor de inteligência do batalhão e do Comando Regional atuam em conjunto com agências, trocando dados, informações e buscando monitorar e verificar movimento de criminosos e probabilidades de ações criminosas nas respectivas áreas de responsabilidade. Detectada qualquer possibilidade de ação criminosa, as informações obtidas são repassadas ao policiamento para a devida intervenção", explica o comandante do 3º BPM, tenente-coronel Márcio Uberti Moreira. Nos cinco primeiros meses do ano, a corporação fez 114 prisões relativas ao tráfico na cidade. Nos três anos anteriores o número, no mesmo período, ficou em 105 registros.

 

Relações exteriores

A relação da facção criminosa hamburguense com os traficantes paraguaios e argentinos também chamou atenção de outros criminosos e, com interesse no mercado do Vale do Sinos, passou a render frutos para os traficantes independentes, vindos de municípios da fronteira oeste do Estado. "Com know-how, o conhecimento do esquema do tráfico e a facilidade de contato com os fornecedores estrangeiros, pessoas vindas dessas cidades de fronteira também passaram a traficar sem ter alguma ligação com a facção. Esse grupo também movimenta um volume considerável de drogas aqui na região."

O terceiro ponto relevante para o tráfico são as inúmeras rotas terrestres que possibilitam o recebimento e escoamento rápido da droga. "As inúmeras rodovias da região facilitam que a droga venha até aqui e seja pulverizada com extrema agilidade. Como se sabe, o transporte da droga é feito por caminhões e carros, que normalmente são acompanhados de batedores. Por isso, a preferência é por rodovias movimentadas, onde não chamem a atenção da Polícia Rodoviária, por exemplo", expõe o delegado. Como Novo Hamburgo fica perto de importantes rodovias e também entre importantes regiões que compram a droga, torna-se favorável que seja um ponto de distribuição. "Na apreensão que fizemos em março, no bairro São José, localizamos 220 quilos de maconha, mas depois, durante a investigação, apuramos que o carregamento era de 500 quilos e em um dia e meio metade dessa droga já havia sido distribuída."

 

Investigação constante

Conforme Quintão, normalmente as grandes apreensões são feitas pela Polícia Rodoviária Federal, pois realiza trabalho de monitoramento das estradas, impedindo que a droga chegue ao destino. "Mas dentro das cidades que são destino dessas cargas, é feito um trabalho muito interessante de monitoramento constante para tentarmos agir antes que essa droga seja distribuída." O delegado frisa que o conhecimento da região, das pessoas e de como o tráfico se desenha no território é importante para a eficácia das ações policiais.

 

Maior queima da história

A Polícia Civil realizou na última quarta-feira (26) a incineração de 6,5 toneladas de drogas. Essa é a maior queima de entorpecentes da história da organização gaúcha. O material foi apreendido ao longo de três anos em todo o Estado e só pôde ser incinerado após autorização judicial. A maior parte da carga é composta por maconha, que soma 6,2 toneladas. Também há ainda cocaína, crack, ecstasy, LSD e outras drogas. A data foi escolhida em alusão ao Dia Internacional de Combate às Drogas, ocorrido ontem.

 

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