Esposas lavavam dinheiro sujo de facção

Mulheres de criminosos agiam para ocultar patrimônio: droga vinha do exterior

Por Susi Mello
Colaborou: Suélen Schaumloeffel

As mulheres de dois criminosos de uma das maiores facções do Estado foram presas temporariamente nesta sexta-feira (28), em Novo Hamburgo, na Operação Borgata da Delegacia de Repressão ao Crime de Lavagem de Dinheiro (DRLD), do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), porque agiam na ocultação do patrimônio do tráfico de drogas e também na gestão dos "laranjas". As duas, ambas com 32 anos, estavam em casas de luxo no bairro Canudos, na Rua Bruno Werner Storck, e no Rondônia, na Rua Maranhão. Elas eram as responsáveis por liderar um esquema de lavagem de dinheiro da facção.

Outros dois homens foram presos - um em Novo Hamburgo e outro em Campo Bom. Os dois têm antecedentes criminais por tráfico. Um quinto homem, de Novo Hamburgo, está foragido, mas permanece na mira da Polícia Civil. O Ministério Público, através do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) Núcleo Lavagem de Dinheiro, acompanhou a ação. A polícia analisará os documentos, celulares e realizava ontem oitivas dos envolvidos para remeter ao inquérito policial.

Responsável por trazer a maior parte da cocaína que entra no Estado, o grupo criminoso movimentava cerca de R$ 500 mil por semana com o tráfico internacional. Ao todo, a Justiça autorizou o bloqueio de R$ 5 milhões em bens e dinheiro. Cinco imóveis de luxo (dois em Novo Hamburgo, dois em Campo Bom e um em Lajeado) foram sequestrados. A Polícia Civil ainda apreendeu uma caminhonete Fiat Toro, uma moto BMW e R$ 27 mil em dinheiro. A operação também realizou o bloqueio de sete contas bancárias, 47 quebras de sigilo bancário, fiscal e financeiro.

ALTO ESCALÃO

Foto por: Susi Mello/GES-ESPECIAL
Descrição da foto: Denarc: delegado Nonnemacher e diretor Urach detalharam a operação à imprensa ontem
De acordo com o delegado do Denarc, Adriano Nonnemacher, a dupla de mulheres fazia parte do alto escalão da organização criminosa, coordenada por dois homens que estão presos. A presa no bairro Rondônia, segundo o delegado, é mulher de Marizan de Freitas, 31 anos, que está na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). O outro é Antônio Marcos Braga Campos, o Chapolin, 36, que está em um presídio federal, cuja mulher era a presa em Canudos. "Agora esperamos que, de forma pioneira, eles tenham condenações também por lavagem de dinheiro", declara Nonnemacher, o que aumentaria a pena de três a oito anos.

 

Esquema usava ''laranjas''

As duas mulheres, com antecedentes por ingresso de celular em presídios, moravam nos bens que eram ocultados pela lavagem de dinheiro. O delegado do Denarc explica que os imóveis luxuosos, com piscinas, estavam em nome de terceiros, de amigos dessas mulheres, que eram ligadas ao primeiro escalão da facção criminosa. "Elas que gerenciavam para ocultar esse patrimônio", declarou o delegado Nonnemacher ao Jornal NH, após coletiva de imprensa no Denarc, junto com o diretor Vladimir Urach. Nonnemacher explica que elas recebiam esse dinheiro em espécie, depositavam em suas contas bancárias ou realizavam operações de compra de bens. Esses bens eram repassados por meio de contratos de gavetas. Elas pegavam "laranjas", que representam uma segunda camada do esquema, para que emprestassem seus nomes para que os bens fossem levados a registro imobiliários e civis.

Droga vinha do exterior

O delegado do Denarc, Adriano Nonnemacher, diz que devido a astúcia das lideranças no tráfico internacional, as drogas vinham de duas rotas. Uma delas é do Peru e Colômbia, com entrada via Amazonas, e a outra rota é do Paraguai, com acesso ao Brasil por Mato Grosso. No Amazonas, explica o delegado, as lideranças contratavam pilotos brasileiros que vinham da Colômbia e Peru, provavelmente de cidade de Santa Helena, ao norte do Amazonas. Em certo ponto iam de avião, seguiam posteriormente por rios navegáveis, trazendo a droga em pasta base. Depois, via terrestre, vinha do Mato Grosso até o Rio Grande do Sul. Já a rota do Paraguai, vinha cocaína, crack e maconha. "São toneladas mensais e bimensais que eram movimentadas por essa organização em períodos curtos. Não tem como quantificar, mas com certeza são toneladas", assegura.

"Eles realizavam a distribuição dessas drogas em várias cidades do Rio Grande do Sul. As duas lideranças, primeiro escalão e mais lideranças regionais, nos Vales do Sinos, Paranhana, do Taquari e do Rio Pardo, além da Serra gaúcha, distribuíam cocaína, chegando a 500 mil reais por semana somente em uma célula regional", destaca Nonnemacher.

 

Ouça os áudios

Saiba mais

 A investigação começou há quatro meses. Os documentos apreendidos são importantes para comprovar a ligação dessas lideranças que estão em penitenciárias. O Denarc não divulga os nomes dos presos temporários.