Um boto foi encontrado morto na manhã desta quinta-feira (4) nas areias do Balneário Presidente, em Imbé, no litoral norte. Não bastasse o fato ser trágico, o animal era um macho adulto de uma população descoberta recentemente no litoral gaúcho e já havia sido identificado por biólogos do Ceclimar.
Neste caso, o boto foi encontrado com uma rede fina, do tipo passadeira, que provavelmente foi utilizada por pescadores ilegais, sem relação com os pescadores profissionais da cidade. O material de pesca estava enrolado na cauda do animal, que teve dificuldades para nadar, acabou sofrendo asfixia e morrendo.
Em conversa com o Jornal NH, o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ignacio Benites Moreno, falou que o animal encontrado fazia parte da espécie Tursiops gephyreus, conhecida como boto ou boto-de-lahille, que foi redescoberta no litoral gaúcho e já está ameaçada de extinção. O professor também destacou que o animal havia sido avistado na região durante dezembro de 2018, fazendo parte de um grupo descoberto nos últimos anos, sem relação com os animais que residem na região da barra do Rio Tramandaí.
A descoberta deste novo grupo ocorreu através do Projeto Gephyreus, que busca entender a distribuição e a dinâmica da espécie na região sul do Brasil. Na região de Tramandaí e Imbé existem duas populações de botos: os que residem na barra do Rio Tramandaí e são conhecidos pela sinergia com os pescadores, e os que residem na orla, além da arrebentação.
Sobre a morte do animal, Ignacio disse que "é muito triste ver um animal que nós estamos acompanhando, conhecendo seus comportamentos e saber que ele morreu, por conta de alguma atitude irregular". Segundo o pesquisador, em análise preliminar, o tipo de rede localizada não se assemelha com os materiais utilizados pelos pescadores tradicionais da região durante o inverno. Vale destacar que a pesca na região é fortemente regulamentada e liberada para pescadores registrados no período entre 15 de março e 15 de dezembro.
Para Ignacio, a parceria com os pescadores vem apresentando bons resultados a longo prazo, e que "semana que vem eles terão uma capacitação para falar sobre as dinâmicas de pesca e como isso influencia na biologia do ecossistema, para informar sobre como podem ajudar". Ainda segundo o pesquisador, os pescadores costumam auxiliar os animais que ficam presos às redes, mas costumam ter receio de comunicar ao Ceclimar, por medo de eventuais punições.
Para a sobrevivência do boto, é fundamental que sejam tomadas atitudes de preservação e conscientização a respeito da espécie, como as que são realizadas através do projeto Botos da Barra e de outras iniciativas do Ceclimar. "O Rio Grande do Sul é muito importante para a fauna de mamíferos marinhos no Brasil, sendo o estado que conta com a maior diversidade de espécies de pinípides (leões e lobos-marinhos) e também de cetáceos (botos, golfinhos e baleias", acrescentou o professor.
A morte do boto ocorreu em meio a uma reunião nacional que tratava sobre a conservação de outra espécie, a toninha, que também sobre com as pressões ambientais.