No último sábado (13), Bruna Kroth, 26 anos, entrou caminhando pelo palco para receber o diploma na cerimônia de formatura de Psicologia na Universidade Feevale. Sonho desejado por muita gente num País onde o acesso ao ensino superior ainda é algo distante para a maioria. Mas no caso de Bruna, a conquista acadêmica não foi a grande vitória da noite. Ela caminhou. Mesmo sem pernas, ela caminhou.
Diagnosticada aos 2 anos com meningite meningocócica tipo B, doença que provocou a amputação das pernas, Bruna conseguiu entrar caminhando na cerimônia de formatura de Psicologia e receber o diploma. "Desde o dia que descobri quando seria a formatura, comecei os preparativos. Ainda estava em fase de adaptação da prótese, falei com a fisioterapeuta e ela disse que tinha plenas condições porque o amputado bilateral é quase certo que tenha que usar duas muletas sempre, tem um desgaste físico maior e é difícil ter equilíbrio. Estava nervosa, então, entrei de mãos dadas com a paraninfa Ana Cristina, mas para receber o diploma fui sozinha", conta Bruna.
Com moderação
A prótese utilizada é a permanente, depois de um tempo de adaptações e ajustes. Mas a cadeira de rodas não é totalmente deixada de lado. "Fiz o encaixe definitivo para a formatura. Às vezes, as pessoas me enxergam sem a prótese e perguntam o que deu errado. Mas não deu errado. Não se pode usar o tempo todo. Principalmente em dias quentes, a perna incha e precisa ter circulação. Agora vou treinar mais subidas e degraus."
Além da cerimônia no Teatro Feevale, Bruna, que mora em Campo Bom, celebrou o momento com a família numa festa em um salão do município. "No salão eu entrei com minha mãe, ela me ajudou a segurar o diploma. Cheguei na festa e passei vídeo sobre a minha vida. Dei a volta no salão e vi várias pessoas chorando, emocionadas, e foi um momento indescritível. Foi uma vitória muito maior. Meu sonho era conseguir carregar o diploma. Fiz mais que isso", diz Bruna.
A psicóloga já pensa no futuro. "Estou muito feliz, cheia de planos e sonhos. Quero fazer prova de residência para o Hospital das Clínicas, e estou cuidando concursos", conta Bruna, que precisou controlar o ímpeto. "No momento estou em repouso, fiz cirurgia em maio, mais um enxerto de pele na região do glúteo, porque tava quase virando escaras. Mas não parei totalmente. Me matriculei na pós-graduação de Psicologia clínica e ano que vem pretendo retomar a natação", destaca.
O equipamento ortopédico que hoje é utilizado pela psicóloga foi adquirido por meio de uma campanha iniciada em 2016, chamada "Caminhando com a Bruna", que teve envolvimento da comunidade e do técnico do Grêmio, Renato Portaluppi. "Por isso, faço um agradecimento especial a todos que me ajudaram e me deram carinho neste momento", ressalta Bruna.
Embora seja um exemplo de superação e garra, Bruna lembra daquilo que nem sempre é visto nos holofotes. "Às vezes, romantizam muito. Veem tudo pronto, como na formatura, que foi lindo, mas é preciso ver a dificuldade de encontrar emprego, para se locomover. Eu ainda tive como fazer faculdade, tenho carro, mas a maioria não tem nem transporte público acessível. Onde moro, por exemplo, o comércio não é nada acessível. Mesmo com as próteses eu vou ter dificuldades, há limitações", observa.