Em metade de mandato, os quatro vereadores de Sapiranga afastados dos cargos pela Justiça foram eleitos pela primeira vez em 2016. Novato, o quarteto passa por maus lençóis. Alessandro Vargas de Melo (PP), Cesino Nunes de Carvalho, o Dula (PP), Valmir Pegoraro, o Baxo (PDT), e Leonardo Braga (PSDB) foram notificados da decisão pela Câmara na quinta-feira à tarde.
Os dois progressistas e o pedetista devem ser indiciados por corrupção ativa, já o tucano por corrupção passiva. Ontem, o delegado Fernando Pires Branco disse durante o programa Ponto e Contraponto, na Rádio ABC, que o inquérito policial será concluído até o final da próxima semana.
Repetição
Conforme o professor da Universidade Feevale, consultor e cientista político, Everton Rodrigo dos Santos, "estas práticas se repetem porque a corrupção, enquanto fenômeno político, não é um problema moral como entende o senso comum, a maioria das pessoas", diz.
Para ele, "o problema da corrupção é estrutural, ele está ligado tanto com o desenvolvimento das sociedades, econômico, social, quanto com as estruturas de vigilância sobre os gestores públicos", complementa. "Sociedades mais desenvolvidas e democráticas tendem a ser menos corruptas do que sociedades menos desenvolvidas e menos democráticas. O Brasil fica com as últimas, daí a repetição das práticas", acredita.
Outra questão está ligada com a estrutura política consolidada. "É preciso ter vigilância sobre a coisa pública, o que não temos no Brasil, nos municípios onde de fato a vida do cidadão brasileiro ocorre", reforça Santos.
Santos ressalta, por exemplo, que "negociações de cargos, de espaços de poder, de maneira clara e aberta é parte da política e algo absolutamente legítimo nas democracias parlamentares".
Entretanto, delimita o que não está de acordo com as regras do jogo. "O que não é correto é a compra de votos, o enriquecimento ilícito, o favorecimento pessoal. O uso da coisa pública para beneficiamento pessoal", completa.
Santos ainda comenta o papel do cidadão e da sociedade como um todo em relação à política. O professor considera que o bom funcionamento do Estado passa diretamente pelo envolvimento das pessoas. "Os cidadãos dão o tom do funcionamento da política, neste sentido, não há possibilidade de existir gestores desonestos num mar de uma sociedade honesta e casta. Em muitos casos, o cidadão que fica horrorizado com os escândalos políticos é o mesmo que sonega imposto de renda, que compra produto sem nota, que fura a fila", complementa.
Dos quatro vereadores procurados pela reportagem, apenas Leonardo Braga comentou as acusações. O tucano negou envolvimento e prometeu entrar com recurso para reverter a decisão. "Não solicitei, muito menos recebi vantagem para troca de apoio, pois nem sequer no Alessandro votei", afirmou, por meio de nota. "Confio na Justiça e que tudo será esclarecido, com a minha inocência comprovada", completou.
Advogado de Cesino Nunes de Carvalho, o Dula, Heitor Bigliardi informou que recorrerá da decisão e pretende ingressar com recurso no Judiciário até quarta-feira. Já Rafael Noronha, responsável pela defesa de Alessandro Melo, considera afastamento é "desproporcional" e também recorrerá. Valmir Pegoraro, o Baxo, não atendeu as ligações realizadas pela reportagem.
A Polícia descobriu possível esquema para compra de voto na eleição da Mesa Diretora ano passado. Duas chapas disputavam o comando. A vencedora, liderada por Olívia Steigleder (PP), e a derrotada, por Alessandro Melo. Áudios e conversas contidas no celular de Melo, preso mês passado por comércio e porte ilegal de arma, foram extraídos com autorização da Justiça.
Com base nisso, Branco afirma que o acordo entre o progressista e Braga contemplava o recebimento de R$ 10 mil reais, além do direito ao vereador do PSDB em indicar um cargo de confiança na Câmara, para votar em Melo. Baxo e Dula teriam auxiliado a arrecadar o dinheiro supostamente repassado a Braga.