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Notícias | Região Novo Hamburgo

'Ele conhecia a minha família', diz jovem que acusa Enfermeiro Vilmar de assédio

Confira a entrevista exclusiva a adolescente

Por João VÍCtor Torres
Publicado em: 02.09.2019 às 07:23 Última atualização: 02.09.2019 às 11:21

A jovem que registrou boletim de ocorrência no final do mês passado, relatando caso de suposto assédio sexual que teria sido cometido contra ela pelo vereador de Novo Hamburgo Vilmar Emílio Heming, o Enfermeiro Vilmar, concedeu entrevista exclusiva ao Jornal NH.

Acompanhada da mãe, a jovem, de 17 anos, explica os motivos que a fizeram levar o caso à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Novo Hamburgo. A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar os possíveis fatos. Atualmente, as investigações estão na fase da coleta de depoimentos, que deve seguir ao longo desta semana, pois nem mesmo o parlamentar foi ouvido.

A adolescente comenta que conheceu Vilmar antes mesmo dele iniciar carreira na vida pública e frisou que a denúncia não possui relação com questões políticas. "Eu nem era nascida e ele conhecia a minha família", lembra. Ou seja, diferente daquilo que o parlamentar tem defendido por meio das redes sociais, de que seria alvo de perseguições por parte de adversários.

A menor ainda afirma que o começo do possível assédio ocorreu, na verdade, pessoalmente. E depois teria seguido nas redes sociais até o mês passado. Ela também relata ter recebido ameaças e comenta a quem eram endereçadas. Além disso, confirma que está em tratamento médico para superar o abalo psicólogo sofrido. Durante a conversa, ressaltou que "não sabia mais como lidar com aquela situação" e tomou a iniciativa, ao lado da família, de procurar a polícia.

Entrevista

Há quanto tempo você conhece o Enfermeiro Vilmar?

Adolescente: Eu nem era nascida ainda e ele conhecia minha família. Ele começou a frequentar minha casa há uns dez anos.

Quando esta situação de assédio começou?

Adolescente: Primeiro, começou a me convidar para fazer visitas nos pacientes dele. Como não tinha nada contra e até então não sabia a pessoa que ele era, aceitei, mas pedia: 'avisa a minha mãe que estou indo contigo' e tal horário me busca em casa e me traz de volta. Num certo momento me convidou para ir num bairro distante, então, falei: 'avisa a minha mãe'. Ele avisou. E neste dia aconteceu o assédio no carro. Lá por janeiro ou fevereiro.

Essas visitas eram por conta de algum trabalho voluntário?

Adolescente: Isso.

O caso não ficou apenas em mensagens? Ocorreram pessoalmente?

Adolescente: Sim. Ele nem me assediava por mensagens ainda. Eram apenas assuntos de trabalho, sobre os pacientes, sobre nosso campo de trabalho. Nunca falou nada de mais, tanto que se tivesse falado, nunca teria saído com ele. Na verdade, a gente nem saía. Íamos a trabalho.

Quando você identificou que estaria sendo vítima de assédio?

Adolescente: Quando falava as coisas que queria fazer comigo a sós, em motel, na casa dele. Ele me convidava para ir na casa dele assistir filme.

A partir do momento em que começaram as mensagens, o que mais lhe incomodava?

Adolescente: As fotos que ele mandava. Se apenas falasse, talvez não seria tão angustiante, quanto fotos dele com outras e dizendo que queria fazer o mesmo comigo. Fui aturando para conseguir ter provas que ele tinha feito tal coisa, porque só eu falando não seria suficiente.

O que passava pela sua cabeça ao receber e ler essas mensagens?

Adolescente: Sentia nojo, medo. Era um trauma que tenho até hoje. Eu, particularmente, não consigo confiar em ninguém mais. Não consigo nem mais me envolver com outras pessoas por medo de não conseguir sair da situação. Sair da situação dele era difícil, porque bloqueei ele diversas vezes e ele continuava mandando mensagens por fake (perfis falsos), por outros números de telefone, ou pessoalmente vinha falar comigo.

As mensagens iniciaram a partir de quando?

Adolescente: Quando eu disse que contaria para a minha mãe o que aconteceu no carro. Falei: 'vou contar para minha mãe que tu fez isso comigo'. Ele pediu desculpa e começou a me ameaçar. Ao chegar em casa, vi '300 mil' mensagens dele que pararia, mas começou a me ameaçar, que se contasse (para a mãe), faria tal coisa comigo. Na verdade, não seria comigo. Faria com minha família, meu ponto fraco. Quando eu percebi que ele faria coisa pior, bloqueei ele. Aí começou a mandar mensagens no Facebook, em SMS, dizendo que me queria e sentia vontade de ficar comigo. Eu questionei: por que fez aquilo no carro? E ele disse: 'porque eu sinto vontade de ficar contigo. Tu é a pessoa que eu gosto'.

O que foi determinante para fazer a denúncia?

Adolescente: Quando descobri que ele fazia com outras. Não era só eu a vítima. Não era só eu a menor de idade. Outras pessoas vieram me alertar.

Dentro do seu ambiente de trabalho, alguém tentou te demover da ideia de denunciá-lo?

Adolescente: Sim. Uma certa pessoa disse para que eu procurasse outro lugar (e não a Polícia), que não era para eu ir denunciar ele.

O vereador deixa subentendido que a denúncia teria a ver com perseguição política. Qual a sua posição?

Adolescente: Não. Ninguém da política veio me perguntar, questionar ou mandar eu denunciar. Até hoje ninguém veio conversar comigo, então, não tem ele falar que é perseguição política. Foi uma iniciativa minha e da minha mãe.

Ao longo das conversas, você alertou o vereador de que esses supostos atos eram assédio. Mesmo assim, ele continuou?

Adolescente: Sim. Dizia que sabia que eu não faria isso (a denúncia) com ele.

Pela maneira como as mensagens eram possivelmente escritas, chegava a se sentir "pressionada" a sair com ele?

Adolescente: Sim. Um dia chamei ele e disse: 'tu acha que manda em mim?'. Outra vez, ele disse que, 'posso muito bem te pegar no local do teu serviço e levar à força. Não preciso do teu sim'.

Se sentiu ameaçada?

Adolescente: Sim. Tanto que por isso demorei que a denunciar. Como falei a vocês, ele não me ameaçava, mas minha família. Ele tem medo dos meus familiares. De mim, ele não tem medo, por ser menor de idade, por não saber como me defender. Eu sei o que é certo ou errado, mas não sabia como me defender. Não entendia muito tudo isso. Por isso demorei tanto tempo para denunciar.

Após o registro do boletim de ocorrência, ele seguiu te procurando?

Adolescente: Não. Logo depois que denunciamos, ganhamos medida protetiva. Antes, quando existiam boatos, ele veio atrás.

Entre o registro de ocorrência e a medida protetiva, ele ainda te procurava?

Adolescente: Não. Ele procurou apenas a minha mãe.

Como tem enfrentado essa situação?

Adolescente: É difícil. Estou me tratando com psicólogo e psiquiatra. Estou tomando medicamento. Têm vezes que não consigo dormir. Até no meu local de trabalho está difícil. Não consigo estudar para as provas, nem ter uma rotina como antes. Em tudo eu lembro dele. Lembro das ameaças. Ainda tenho medo. Não conseguiria encontrar ele hoje nem que fosse de longe. Acho que fugiria.

Qual o desfecho que você espera deste caso?

Adolescente: A única coisa que eu quero é paz e que ele pague pelo que fez.

Algumas pessoas, nas redes sociais, duvidam da veracidade dos diálogos. O que tem a dizer?

Adolescente: Espero que elas não passem por isso. Hoje em dia, vocês sabem, é difícil a mulher denunciar. Sempre acham que ela quer algo em troca. Não quero nada que venha dele. Quero que a Justiça faça o correto. Nada além disso. Espero que elas parem (de falar).

Qual o peso deste caso na sua vida?

Adolescente: Todo possível. Os medicamentos são fortes. Dependendo, se esqueço de tomar, preciso tomar dose dupla e passo mal. Não apenas eu estou sofrendo, minha família também. Minha mãe não consegue dormir, corre comigo para os hospitais. A gente está com uma vida diferente daquela que tínhamos antes.

Pensou em transformar seu caso em uma luta contra o assédio?

Adolescente: Sim, por isso fui denunciar.

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