"Há funcionários da Refap [Refinaria Alberto Pasqualini] que estão há dez dias sendo mantidos trabalhando. Eles montaram dormitórios improvisados na empresa e dormem por lá mesmo. E o ambiente de opressão é enorme. Falam que, por contrato, o funcionário não pode abandonar o posto se não houver um substituto na estação de trabalho. Senão, é desligado da Petrobras. Então, alguns trabalhadores foram ficando. Não é a primeira vez que isso acontece. E o pior é que a chefia à noite vai para casa dormir. Só quem se rala é o peão." O relato acima é de um funcionário da Refap em Canoas. Ele trabalhou por quase uma semana inteira na refinaria até conseguir ser liberado. Com receio de represálias, o trabalhador preferiu não ter o nome divulgado.
De acordo com o presidente do Sindicato do Petroleiros do Rio Grande do Sul (Sindipetro-RS), a situação descrita pelo operário é conhecida e praticada pela Petrobras já há um bom tempo. Presidente do Sindipetro-RS, Fernando Maia afirma que a empresa está intransigente quanto a qualquer diálogo com a categoria. A adesão de 80% dos 700 trabalhadores da Refap na greve continua, motivo pelo qual a tensão é grande entre ambos os lados. "Este tipo de conduta adotada pela gerência da empresa fere o bem-estar do trabalhador", diz. "O ser humano não é máquina", argumenta. "Sabemos que existem as ameaças."
Nossa reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Petrobras, porém ainda não houve uma resposta da empresa, que classificou, desde o começo do movimento, a greve como "descabida."
A paralisação dos petroleiros é nacional e foi alavancada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) como resposta a recente demissão em massa de mil funcionários da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen), no Paraná. É que lá houve quebra no Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), segundo os representantes da categoria. O objetivo do Sindicato dos Petroleiros do RS é justamente impedir que o mesmo aconteça com os 700 funcionários diretos e outros 800 que hoje trabalham na Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas. "Eles só chamaram os trabalhadores e avisaram que estaria todo mundo demitido em 90 dias", frisa o diretor do Sindipetro-RS, Dery Beck Filho. "Queremos garantir que cada um dos trabalhadores receba o tratamento e os direitos que tem", defendeu. "Então a greve vai continuar."