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Conheça os super-heróis da linha de frente contra o coronavírus

Médicos, enfermeiros, técnicos e outros profissionais que trabalham atendendo pacientes suspeitos de Covid-19 relatam dia a dia de batalha

Reportagem: Bianca Dilly

O relógio marca 13 horas pontualmente. A técnica de enfermagem chega em um hospital de São Leopoldo para o seu turno. Bate o ponto e segue para a área limpa. É lá que começa a se preparar para o trabalho, colocando os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) necessários para evitar a contaminação do novo coronavírus. É lá, também, que deixa todos os anseios e angústias de mãe e esposa para vestir a "capa" de profissional da saúde.

Pouco depois, às 13h45, em outro hospital, agora em Novo Hamburgo, a enfermeira inicia a paramentação. Tem mais seis horas de batalha pela frente. E a força, neste momento, não está apenas nela. É compartilhada entre todos os colegas da equipe. "O seu EPI não fechou direito" e "lembra de higienizar bem as mãos" são frases muito comuns neste local.

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Em um pronto atendimento da rede privada de São Leopoldo, um médico internista está na linha de frente das emergências. Ele tem os primeiros contatos com pacientes mais graves, que podem vir a necessitar de internação. Desde março, o domingo de Páscoa foi o primeiro dia em que ele não se deslocou até a unidade. Dedicação diretamente proporcional à responsabilidade que carrega e muito amor à profissão.

Já em outra casa de saúde pública de Novo Hamburgo, o coordenador da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, que cuidou do primeiro caso do Brasil de um bebê recém-nascido com Covid-19, busca se manter firme para passar a mesma segurança a todas as equipes de profissionais do local. Para isso, trabalha como se o hospital fosse sua casa e cuida dos pacientes como se fossem seus familiares.

Linha de frente

Estes quatro profissionais estão diretamente em contato com a pandemia que atinge o mundo todo, por fazerem parte da linha de frente do combate à doença, também estão suscetíveis à infecção. Só em Novo Hamburgo, dos 26 casos confirmados até o momento, 11 são de profissionais da saúde que residem no Município. O número representa 42,3%, ou seja, quase metade do total de pacientes.

Mas o número aproximado de afastamentos é bem maior, cerca de 220, "pois muitos retornam ao trabalho enquanto outros saem", explica a Prefeitura, por meio da assessoria de imprensa. Isso representa 11% em média de profissionais da Fundação de Saúde Pública de Novo Hamburgo (FSNH) que estão afastados com algum sintoma suspeito.

Em São Leopoldo, há 18 casos confirmados de coronavírus, porém, nenhum deles é de profissional da saúde. No entanto, na rede pública, somam 9,5% os afastamentos do trabalho. São 71 profissionais afastados, sendo 45 por sintomas gripais e/ou isolamento. No Hospital Centenário, a porcentagem de afastamentos é de 7,3%. Porém, nem todos são da assistência direta. Dos 51 afastados, 28 têm sintomas gripais.

Canoas tem 16 diagnósticos da Covid-19, mas que não se tratam de trabalhadores da área. 

Das 22 mortes até o momento no Estado por Covid-19 é de profissional da saúde. Trata-se de uma técnica de Enfermagem de 44 anos que trabalhava no Grupo Hospitalar Conceição.

Já no Brasil e no Estado, não há levantamentos específicos sobre o número de casos de coronavírus confirmados entre médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem. O que se sabe é que por trás de cada estatística há pessoas, equipes dedicadas, pais e mães de família, filhos. Mas há, também, muito empenho e uma rotina que se transforma para que possam se doar no cuidado ao próximo. São os super-heróis de aventais impermeáveis, toucas, luvas e, por vezes, até duas máscaras.

Morte de profissional da saúde

Das 22 mortes até o momento no Estado por Covid-19, uma é de profissional da saúde. Trata-se de uma técnica de Enfermagem de 44 anos que trabalhava no Grupo Hospitalar Conceição.

No Hospital Centenário

A porcentagem de afastamentos é de 7,3%. Porém, nem todos são da assistência direta. Dos 51 afastados, 28 têm sintomas gripais.

Afastamentos em São Leopoldo

Na rede pública de Saúde leopoldense somam 9,5%. São 71 profissionais afastados, sendo 45 por sintomas gripais e/ou isolamento.

Todos os cuidados de quem convive em área de risco

A enfermeira Fabiane de Aguiar trabalha no Hospital Centenário Foto: Ana Garske/Divulgação Hospital Centenário
O cuidado com os detalhes é o segredo da técnica de enfermagem Fabiane de Aguiar, 36 anos, para passar por essa situação da melhor forma possível. A profissional realiza plantões todas as tardes na emergência para Covid-19 do Hospital Centenário, em São Leopoldo. Seu trabalho começa antes mesmo de lidar com os pacientes. "Para cada doença, dentro dos hospitais, nós usamos os EPIs necessários. No caso do coronavírus, para entrar na chamada 'área contaminada', colocamos duas máscaras, por exemplo. A N95 e ainda a cirúrgica por cima. Fora o restante dos EPIs", explica.

Entra no plantão às 13 horas e só sai às 19 horas, muitas vezes sem nem utilizar o banheiro. "Procuro não tomar muito líquido nesse período. Também não quero precisar trocar de EPI, porque sei que lá na frente o que usei a mais pode fazer falta", descreve, acrescentando que a instituição oferece todo o suporte necessário. "Eu sei que se eu precisar, o hospital vai me dar outro EPI. Só que tenho que pensar como cidadã neste momento", avalia.

Fabiane conta que não é fácil ficar seis horas ininterruptas vestindo todo o aparato de segurança. "A máscara nos deixa com uma sensação horrível e os óculos acabam embaçando. No final do plantão, a gente fica com o rosto todo marcado. Também fico o tempo inteiro me policiando, tentando controlar a mente para não colocar a mão no rosto", afirma. Para ela, são dois tipos de cansaço que atingem os profissionais da área. "É um desgaste físico que sentimos, além do psicológico, que é muito forte também. Quem vê de fora pode nem imaginar isso", desabafa.

As preocupações que sente no ambiente do hospital se estendem também ao lar. "Quando chego em casa, tiro o sapato, coloco a roupa dentro da máquina de lavar e vou direto para o banho. Fico sem contato com a minha filha de 5 anos, Gabriela, logo ao voltar do trabalho", destaca. Mesmo depois de toda a higiene, a técnica de enfermagem diz que o receio não se esvai totalmente. "Não tem como ficar 100% tranquilo, nem abraçar a minha filha sem sentir essa angústia. O medo maior dos profissionais da saúde é de não contaminar os nossos familiares", acrescenta.

Além dos anseios ligados à profissão, assim como todas as pessoas, os profissionais da saúde lidam com a novidade, o indefinido. "É uma situação que, por mais que já estejamos preparados, trabalhando na área há bastante tempo, fazendo faculdade, consultando livros, estudando, enfrentando vários tipos de doenças, a gente nunca pensa em passar", pontua. Mesmo com a pandemia da H1N1 em 2009, Fabiane frisa que a comparação não é a mesma.

Por isso, a técnica de enfermagem afirma que está preparada para o pior, mas querendo o melhor. "Preparo o meu psicológico para uma batalha. Temos que estar bem física e psicologicamente para saber que vão ter óbitos e vamos ter colegas de profissão contaminados. Mas estou preparada para enfrentar o que vier", destaca. E o que conforta a profissional é contar com boas estruturas como a do próprio Centenário, que dividiu o hospital em dois para impedir o contato de pacientes de outras doenças com os de coronavírus. "Nestas duas estruturas os profissionais realizam o primeiro atendimento, de forma que o paciente só entra na área isolada, ou seja, na emergência, após criteriosa avaliação", detalha a presidenta da casa de saúde, Lilian Silva.

220

é o número aproximado de afastamentos, "pois muitos retornam ao trabalho enquanto outros saem", explica a Prefeitura, por meio da assessoria de imprensa.

Equipe fortalecida para enfrentar o 'inimigo invisível'

Enfermeira Cleide Geittenes Albino, Hospital Unimed, em Novo Hamburgo. Profissionais da linha de frente no combate ao coronavírus. Foto: Carlos Rissotto/GES-Especial
Para a enfermeira Cleide Geittenes Albino, 38 anos, o que faz a diferença no enfrentamento ao "inimigo invisível" é o trabalho em equipe. A profissional atua no Hospital da Unimed, em Novo Hamburgo, onde a união do grupo prevalece como a principal arma secreta desta "guerra". "Conversamos muito. Quando um colega se expõe um pouco mais, porque precisou manipular mais um paciente, a gente troca ideias do que fazer, para se ajudar, acalmar, acalentar", sublinha.

Enquanto enfermeira, na linha de frente direta, precisa de maneira ainda mais acentuada repassar segurança e orientações. "Precisamos estar mais fortes, porque tem uma equipe que depende de nós. Precisamos estar positivos, mostrando que as coisas vão dar certo", comenta. Pensando nisso, o grupo e a instituição adotaram duas medidas principais.

A primeira partiu dos próprios profissionais, como forma de fortalecer uns aos outros. "Criamos um grupo de oração, independentemente de religião. Marcamos um horário e cada um faz a oração de sua casa ou onde estiver. Porque precisamos de fé, esperança e fortalecimento emocional", diz, acrescentando que sempre pede para a sua equipe proteção, bênçãos e força para lidar com a situação. "Isso acabou criando um vínculo muito forte entre todos", relata.

Institucionalmente, a Unimed Vale do Sinos organizou uma estrutura especial para atendimento dos pacientes na casa de saúde e para a melhor atuação dos profissionais. "Quando tudo [a pandemia] iniciou, que realmente começou a chegar aqui, tivemos que criar um plano de ação. Ampliamos nossas UTIs e criamos um espaço exclusivo para Covid-19 separado dos outros pacientes", descreve. Da mesma maneira, os funcionários receberam um espaço extra. "Temos uma área de paramentação, um local para descanso, banheiros, tudo para o nosso bem-estar", salienta.

Com toda a estrutura à disposição, Cleide diz que o receio não é consigo mesma. "Sabemos da importância do nosso papel. Temos, sim, medo de nos contaminar e acabar contaminando a nossa família, colocando pessoas em risco", resume. Por isso, ela toma todos os cuidados necessários para diminuir ao máximo a possibilidade de infecção. "Tomo banho no hospital, coloco outra roupa, chego em casa e tomo outro banho, uso sempre o mesmo sapato quando estou fora, o meu carro ninguém usa, fora todas as questões básicas de higienizar as mãos", lista. Até o filho de 5 anos, Lorenzo, já entende um pouco do que está ocorrendo e por que não ganha um abraço da mãe assim que ela chega em casa. "Ele brinca comigo 'é a Covid, né, mãe?! A gente também não pode ver a vó por causa da Covid'", conta, emocionada.

E, se por um lado, os anseios e precauções são grandes, há outro aspecto que surge nesse momento. "Para muitos pacientes que estão ali, o último afeto quem vai dar somos nós. Eles, talvez, podem não ter mais contato com a família. É tamanha a importância da nossa profissão que vemos isso nos olhos deles", frisa, complementando: "Ao mesmo tempo, sabemos que faremos o que for necessário, e isso vai criando mais força. Todo mundo está nos parabenizando pela nossa profissão, algo que nunca foi valorizado, estava esquecido, e assim vamos superando os pensamentos ruins", salienta.

Equilíbrio entre o físico e emocional para trabalhar

Médico internista Rafael Vilanova, do pronto atendimento da Unimed em São Leopoldo Foto: Divulgação/Unimed Vale do Sinos
O médico internista Rafael Vilanova, 30 anos, consegue contar nos dedos o número total de dias em que não esteve na unidade em que atua desde que a quantidade de casos de coronavírus começou a crescer na região, em meados de março: um. Somente no último domingo, de Páscoa, ele não foi até o Pronto Atendimento (PA) da Unimed Vale do Sinos em São Leopoldo. "Na minha escala, eu trabalharia de segunda a sexta-feira. Mas, mesmo aos sábados e domingos, estou indo ver pacientes internados, acompanho o fluxo de atendimentos, converso com a equipe. Acho que é necessário", diz.

Vilanova, que também é diretor técnico da unidade, participou das alterações na formatação dos atendimentos e ambientes para separação de casos Covid-19 e não Covid-19. Mas, para ele, outro detalhe, não ligado às tarefas protocolares, se torna fundamental neste momento. "Além da inteligência emocional é essencial. Talvez até mais importante do que o conhecimento técnico. A gente estuda, mas nunca se prepara especificamente para momentos como esse", frisa. Por mais que o profissional tenha concluído uma graduação, uma pós ou especialização com maestria, não basta apenas isso. "Todos que saem da faculdade têm o mínimo de conhecimento necessário. E a gente consegue se atualizar facilmente hoje em dia. Só que a maneira como cada um vai lidar com a situação é algo que não nos ensinam na faculdade", descreve.

Pensando nisso, a unidade e a instituição tomaram algumas medidas para aprimorar o trabalho dos profissionais. "Foi providenciado que a equipe se sinta segura, com todos os EPIs necessários, também para ofertar o melhor atendimento ao paciente", cita. Outra ação foi a aproximação com os colaboradores. "No convívio diário, vamos conversando, esclarecendo dúvidas, acalmando os ânimos. Isso melhorou bastante e mostrou que o espírito de união vai prevalecer", aponta. Dessa forma, Vilanova afirma que pouco a pouco, a cada paciente atendido, o fluxo vai sendo otimizado. "Eles foram vendo que as coisas estão indo bem e o clima de tensão, o emocional, a ansiedade e preocupação visíveis em toda a equipe no início, desde quem trabalha na recepção até o atendimento final, foram diminuindo", destaca.

E da mesma maneira que os anseios atingiram os colegas, o médico se viu em uma posição difícil. "Com certeza, a preocupação existe e a gente fica aflito, quando se está ali, na linha de frente, e se sabe que vamos atender vários casos suspeitos. Mas a própria segurança de estar usando os EPIs nos conforta", evidencia. Fora do Pronto Atendimento, o dia a dia também mudou. "Minha vida é da casa para o hospital e do hospital para casa. Hoje eu saio da unidade e vou direto para lá, não passo em nenhum outro local. Tiro os calçados na área suja, coloco a roupa para lavar e vou para o banho", relata. Até que tenha realizado todo esse processo, o contato com a esposa, a assessora de investimentos Anna Carolina Persio, 30, fica restrito. "Tento evitar, antes que eu tenha feito tudo isso. O bom é que ela não é do grupo de risco, nem eu, o que nos deixa mais tranquilos", acrescenta. O convívio com outras pessoas próximas também está limitado. "É porque temos uma preocupação com a vida, com a família, amigos e equipe. Só que isso não é só para a área da Saúde. Todos voltaram a pensar mais nisso", finaliza.

11%

em média é o total de profissionais da Fundação de Saúde Pública de Novo Hamburgo (FSNH) que estão afastados com algum sintoma suspeito.

Recompensação ao fazer o bem aos pacientes

Pierre Prunes é coordenador da UTI Neonatal do Hospital Municipal de Novo Hamburgo Foto: Lu Freitas/Divulgação-PMNH
Mesmo para quem tem mais de 20 anos de experiência na profissão, a situação não é fácil. O pediatra e neonatologista Pierre Prunes, 45 anos, que também é coordenador da UTI Neonatal do Hospital Municipal de Novo Hamburgo (HMNH), foi o responsável por tratar o primeiro caso de contaminação em um bebê recém-nascido. É uma situação rara, que se repetiu um mês depois, em São Paulo. "Também acabei me organizando para integrar o comitê de gestão de plano de contingência da pandemia no hospital", explica, sobre suas atribuições.

Assim, ele auxilia na organização das atividades do HMNH nesse período. "As mudanças vão desde os cuidados básicos", conta. Até mesmo outros detalhes, como a restrição para apenas uma entrada no hospital, visando um controle maior dos fluxos, além da alimentação dos profissionais de saúde, que estão evitando pedir deliverys, fazem parte do novo contexto. A dificuldade na obtenção dos EPIs e a onerosidade dos mesmos são outros desafios enfrentados diariamente.

Além disso, as reuniões com as equipes também se transformaram. "Nessas condições, sistematicamente, a direção do hospital, com os coordenadores setoriais, faz reuniões ao ar livre, no pátio, sempre respeitando o distanciamento necessário, até para darmos o exemplo", relata. Da mesma maneira, são repassadas orientações gerais sobre uso de EPIs, por exemplo, e até o fortalecimento do desempenho de cada um. "É importantíssimo o trabalho que a instituição faz, desde antes da pandemia, de exaltar o trabalho de cada equipe", afirma.

E em um momento tão difícil, os trabalhadores podem precisar de um apoio extra. Por isso, a equipe de psicologia está atuando em uma chamada "busca ativa", entrando em contato com todos, independentemente de solicitação ou não. "Até porque eles demonstram todos os receios, do medo sobre a necessidade de estar dentro do hospital, medo de passar para a família, que muitas vezes integra pessoas mais idosas", justifica. Às vezes, com sensibilidade, a coordenação chega a optar por afastar o profissional por dois ou três dias, para que ele consiga voltar melhor, mais relaxado.

Ainda que se esforce para separar o emocional do trabalho realizado na prática, Prunes lembra que não é tão simples assim. "Gera um pouco de tensão. Tem o distanciamento da família, por exemplo. Eu já saí de casa e fiquei 24 horas fora, em função do trabalho. Para a minha filha, Mariana, de 9 anos, não é fácil de entender", conta. Para a pequena, não faz sentido que as pessoas estejam realizando o isolamento domiciliar e o pai não. "Ela me pergunta: 'se a mamãe fica em casa, por que tu tem que ir?'. Aí às vezes chora um pouco, com medo de que aconteça o pior pra mim" descreve.

Mas o médico sabe da importância de cumprir sua função. "É complicado, é uma hora que a gente tem que se manter firme. Somos os marinheiros chefes do navio e tem toda uma equipe que precisa de ti. Precisamos dar as mãos, entre aspas, estarmos unidos sem estar juntos, para o bem comum", frisa, destacando que o objetivo final é passar mais uma vez pela adversidade, pelo melhor do paciente. Para ele, o mais importante, agora, é a doação feita por cada profissional da saúde – para o seu ofício para a sociedade. "É o maior presente que pode trazer satisfação pessoal, trabalhar assim", arremata Prunes.

Importância do apoio psicólogo

Esther salienta a ajuda da família e de toda a comunidade Foto: Divulgação/Universidade Feevale
Para a professora do curso de Psicologia da Universidade Feevale Carmen Esther Rieth, os profissionais da saúde estão habituados a lidar com situações extremas e difíceis que envolvem vida e morte. Mas, normalmente, segundo ela, essas situações estão situadas "no outro". "Na minha percepção, é exatamente esse o ponto que torna tudo muito diferente. Dessa vez, eles próprios estão em risco muito maior", explica.

Por isso, Carmen destaca que é fundamental que os profissionais cuidem de si mesmos, para que possam cuidar de outros. "Quando me refiro a esse cuidado, é o de refletir sobre o que está vivendo, conversar com colegas, familiares ou procurar ajuda profissional on-line para que esses sentimentos e pensamentos possam encontrar significado e ir conseguindo estabelecer novas rotinas e prioridades de vida", descreve.

Outras ações que podem ser realizadas nesse sentido, de acordo com a psicóloga, são simples, mas devem ser feitas dia a dia. "A necessidade de descanso, visto que pode afetar a própria resposta imunológica do profissional; atividade física prazerosa, que permite um certo extravasamento dessa angústia; e escolher atividades que gosta, que não tenham relação com o tema pandemia, como filmes, cozinhar, entre outros", sugere.

Além disso, deve haver uma relação de compreensão com familiares e a instituição em que trabalha. "Um aspecto que tenho percebido é o fato do profissional da saúde ser uma espécie de 'porta voz' de notícias confiáveis para a família e amigos. Se esse for o caso, uma sugestão é combinar um momento específico, talvez uma vez ao dia, para isso", aponta. E, na empresa, ter condições de segurança para o trabalho é essencial. "Creio que uma forma importante que as comunidades têm de demonstrar o apoio aos profissionais é ficando em casa", afirma, explicando ser uma forma de valorizar o empenho dos profissionais da saúde.

O que tem sido feito pelo poder público

Em relação às orientações de segurança, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) informa que os hospitais e profissionais de saúde devem seguir as normas estabelecidas em protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde. Da mesma forma, o Estado explica que disponibilizou uma rede virtual que interliga profissionais de saúde para atendimento e apoio durante pandemia. Trata-se de uma teleconsultoria, com atendimentos por diversos canais, como redes sociais e aplicativos de trocas de mensagens.

Aos profissionais da saúde de Novo Hamburgo, estão sendo disponibilizados atendimentos on-line em saúde mental. Dois grupos de voluntários com psicólogos e psiquiatras se uniram para prestar o serviço, que vai desde os envolvidos na higienização, esterilização, médicos, técnicos, enfermeiros até recepcionistas. A inscrição pode ser feita pelo e-mail saudementalsolidaria2020@gmail.com.

Em Dois Irmãos, a médica e coordenadora do Programa de Saúde da Secretaria de Saúde, Assistência Social e Meio Ambiente, Maristane Strada, afirma que houve preocupação com a reação emocional dos profissionais. "A principal angústia pareceu inicialmente relacionada ao desconhecido, pelo fato de ser uma doença nova, ainda em estudo, com protocolos e orientações que se modificam ou pelo menos se acrescem a cada dia", frisa, mas acrescenta que a situação vem melhorando. "Angústias e incertezas que pouco a pouco foram sendo respondidas e que certamente nos deixarão algum legado futuro", ressalta.

Uma linha de telefone com apoio psicológico, terapias comunitárias de equipe, sugestões de atividades físicas publicadas on-line, dicas para uma alimentação mais saudável e alguns casos de trabalho home office estão entre as ações adotadas em Campo Bom, de acordo com a secretária municipal de Saúde, Suzana Ambros Pereira.

Estância Velha também dispõe de atendimento psicológico on-line, que pode ser solicitado por meio do whatsapp (51) 99782-5754. O contato inicial deve ser feito repassando o nome do profissional, sua função e local de trabalho. São atendimentos oportunizados por meio da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). "Também permanecemos respeitando a jornada diária de trabalho", complementa a secretária da Saúde, Lenir Reichert.

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