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Notícias | Região Luto na música

'Dos palcos para uma máquina de hemodiálise': a luta de Porca Véia

Gaiteiro não resistiu as complicações provocadas pelo diabetes e morreu nesta sexta-feira, aos 68 anos

Publicado em: 12.06.2020 às 15:10 Última atualização: 12.06.2020 às 15:17

Porca Véia havia deixado os palcos há 6 anos Foto: Arquivo Pessoal
Um dos ícone do tradicionalismo gaúcho, o gaiteiro Porca Véia morreu nesta sexta-feira (12) em Novo Hamburgo. Há seis anos, ele já havia deixado os palcos por conta de complicações severas provocadas pela diabetes. Por conta da doença, o músico fazia sessões de hemodiálise três vezes por semana, havia amputado um dos pés e tomava uma série de medicamentos. Há um mês, passou por uma cirurgia nos rins. 

Em novembro do ano passado, Porca Véia concedeu uma entrevista exclusiva ao jornal ABC, do Grupo Sinos, onde falou sobre a carreira, a doença e a família. Abaixo, reproduzimos a conversa feita na casa do músico, em Ivoti. 

Você é técnico agrícola. Como e quando a carreira musical entrou na sua vida?
Comecei minha carreira na música com trinta e poucos anos. Deus me disse: 'larga tudo isso aí e vai cumprir a tua missão, que é tocar gaita e alegrar as pessoas'.

Você foi aluno dos consagrados gaiteiros e cantores Honeyde e Adelar Bertussi. O que isso representou na sua carreira?
Eu sou um seguidor, sempre tive eles como ídolos. Desde guri, sempre gostei muito do acordeon. Eles foram uma referência para mim. Foi a primeira dupla de gaiteiros do Rio Grande. Todos gaiteiros da minha idade queriam ser iguais aos Irmãos Bertussi. Mais tarde achei o meu rumo, mas sempre baseado na obra deles.

Mas os primeiros passos na carreira, como foram?
Eu estava na Escola Agrícola de Viamão, com 17 ou 18 anos. Tinha um monte de guri que tocava gaita lá. Tinha o CTG Vaqueanos da Cultura no colégio. Me entrosei com o pessoal e comecei a tocar uma gaita que tinha por lá. Fiquei lá por três anos e participei de 20 concursos de gaiteiros e ganhei 19. Daí me destaquei com instrumentista em festivais e recebi convites para várias apresentações.

E quando surgiu o apelido Porca Véia?
Surgiu na escola agrícola. Lá os apelidos se sucedem. Tinha um cara que chamavam de Porca Véia. Ele saiu quando entrei na escola. Era parecido comigo. O apelido ficou para mim.

E a marca do cabelo comprido você traz da época da escola?
Sim, lá eu já tinha o cabelo comprido. A boina comecei a usar depois.

Quantos anos tocando baile?
Foram 33 anos tocando baile. Criei o Grupo Cordiona para me acompanhar e, depois que parei, o grupo segue em frente.

Por que você teve que encerrar a carreira?
Eu tenho diabete. Tive uma degeneração crônica renal. Fui para a hemodiálise e tentei um transplante de rim, mas não deu certo. Eu estou aguardando um transplante. Em 2013, encerrei a carreira. Mas o Cordiona segue. Recentemente fizemos o lançamento de um novo CD.

Como é a vida do Porca Véia sem os bailes e a gaita nos braços?
É complicado. Não tenho vergonha de dizer que, logo no início, a gurizada saía nos finais de semana pra tocar e eu cansei de ficar chorando pelos cantos. Eu estava acostumado a ir junto. Foi muito brusco. Eu saí direto dos palcos para uma máquina de hemodiálise. Uma virada de ponta cabeça num soco só.

O que você gostaria de dizer para os seus fãs, que não podem mais vê-lo nos palcos?
Que a saudade que eles sentem de mim é a mesma que eu sinto deles. Infelizmente a doença me tirou dos palcos e eu agora tenho que tratar para não morrer. A doença é malvada. Mas eu tô lutando.

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