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Notícias | Região Luto na música

Tradicionalistas lamentam a morte de Porca Véia

Músico morreu nesta sexta-feira (12), aos 68 anos

Por Bruna Mattana*
Publicado em: 12.06.2020 às 17:21 Última atualização: 12.06.2020 às 21:52

Porca Veia Foto: Inézio Machado/GES
A cultura gaúcha perdeu, nesta sexta-feira (12), um ícone. Assim, Elio da Rosa Xavier,  o Porca Véia, é definido por colegas e amigos. Aos 68 anos, o músico, que aprendeu os primeiros acordes de gaita com os irmãos Honeyde e Adelar Bertussi, dupla consagrada de Caxias do Sul, deixa seu legado para as futuras gerações. É em tom de emoção, respeito e carinho que tradicionalistas de todas as querências se despendem de Porca Véia.

O vice-presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), adido cultural do Estado e presidente da Comissão Estadual dos Festejos Farroupilhas, César Oliveira, diz que Porca Véia é um ídolo. "Não consigo chamar ele de colega. Seria muita audácia me comparar a um ídolo. Eu escutei a gaita dele nos festivais, mas também fui a fandangos com o Porca Véia. Nós perdemos um baloarte da cultura regional, pela sua autenticidade e, ao mesmo tempo, simplicidade, tão rica. Ele é uma pérola preciosa da cultura gaúcha."

Por fim, emocionou-se ao se despedir do seu ídolo. "Agora, ele deve estar com a cordiona dele encostada no peito, fazendo um baita fandango lá na estância grande do céu. Vai com Deus, Porca Véia", disse Oliveira.

A presidente do MTG, Gilda Galeazzi, considera essa uma perda irreparável para o movimento. "Uma pessoa jovem, que ainda tinha muito potencial para a música, que contribuiu muito com as entidades tradicionalistas e com o próprio movimento, além do Estado. Ele sempre defendeu a autenticidade."

O músico João de Almeida Neto, um dos grandes amigos de Porca Véia, conta que o conheceu no Centro de Tradições Gaúchas (CTG) 35, em Porto Alegre, onde participavam de tertúlias, em 1979. "Começamos na música juntos. Íamos a festivais juntos. Porca Véia foi um dos melhores amigos que já tive no meio musical. Do ponto de vista artístico, ele é um músico sem igual. Ele tinha um estilo marcante e diferente de tocar o baile. Foi um artista maravilhoso e um amigo inesquecível."

O músico Adroaldo Pezzi, que integra o grupo Os Bertussi, conheceu Porca na década de 80, quando agendava shows para ele e para os irmãos Bertussi na região da Serra Gaúcha. "O Porca Véia foi um difusor das musicas dos Bertussi. Ele dizia, em tom de brincadeira, que ia ficar rico cantando as músicas deles. Tenho ótimas lembranças dele. Ele virou um dos ícones em baile de musica fandangueira pelo artista que era. Sempre alegre, era um grande amigo."

Para o músico do Grupo Cordiona, Fernando Montenegro, Porca Véia foi uma escola tanto musical quanto pessoal. "Posso dizer que sou uma pessoa que teve seu sonho realizado. Tive o prazer de conviver e tocar junto com o Porca Véia, de quem era e sou grande admirador. Realizei meu sonho por nove anos, sendo a dupla de gaita com ele no Cordiona. Um homem honesto, de coração grandioso, sincero. Aprendi com ele que um amigo de verdade não fala só o que a gente quer escutar."

Outro grande amigo de Porca há mais de 40 anos, o músico Renato Borghetti salienta que esse é um dia muito triste para a música e para o Estado. "Porca Véia era um músico completo, um músico de exceção. Ao mesmo tempo em que seguiu uma escola de músicos da região serrana, ele também fez escola. A partir de agora, muitos músicos vão tocar o sistema Porca Véia. Ele instaurou uma nova forma de tocar e uma nova geração", destaca, lembrando que Porca Véia era um homem divertido, espirituoso, inteligente, alguém que as pessoas faziam questão de ter por perto. 

Uma das grandes amigas do gaiteiro, Zelita Marina da Silva, professora aposentada e responsável há 25 anos pela coluna no Jornal NH "Recanto Gaudério" destaca sua admiração pelo Porca Véia, pela pessoa e pelo artista que era. "O Porca era como um irmão para mim. Estou muito triste."

O apresentador e músico Neto Fagundes enaltece que desde o momento que passou a morar em Porto Alegre se aproximou de Porca Véia, com quem construiu sólido laço de amizade. Por conhecê-lo de perto, pontua seu lado solidário e generoso. “O Porca Véia era um cara sempre muito preocupado em ajudar o pessoal da terceira idade, as creches, a gurizada que precisava mais. Ele juntava nosso time de músicos e a gente ia no carro dele, inclusive, se apresentar de graça para angariar alimentos e fazer alguma ação comunitária”, conta. “Não penso um momento com o Porca que tenha sido triste, pelo contrário, sempre foram de coisas boas”, acrescenta.

Além disso, contribuição foi por ser um exemplo responsável como atuou para gerenciar a carreira. “Não tinha ninguém igual ao Porca Véia. Um contador de história, um cara engraçado, sempre tinha alguma coisa para contar, mas era um cara muito sério como comandante do seu lado profissional, como empresário e dono de conjunto. O Porca era todo organizado, metódico, porque ele trabalhava sua música como uma grande empresa e acho que isso é um legado que ele deixou para muita gente”, afirma Neto Fagundes.

Figura marcante da nova geração tradicionalista, o estanciense Thomas Machado, de apenas 12 anos, relembra com carinho quando conheceu o consagrado músico. “Conheci o Porca Véia quando tinha 5 anos, e ele me incentivou a continuar na música”, disse. Assim como os colegas mais velhos, Thomas assegura que o estilo alegre de tocar permanecerá vivo nos seus herdeiros musicais, mas também presente nas centenas de artistas que se inspiram em seu trabalho.

Délcio Tavares, classifica Porca Véia como um dos “esteios da música tradicionalista. Um músico que carregou o estilo dos irmãos Bertussi com muita galhardia e também foi importantíssimo nos nossos festivais nativistas, onde ele se consagrou”, relata.

Outro nome de peso do tradicionalismo, Pirisca Grecco fez coro às manifestações dos demais artistas nativistas ao sublinhar as características do acordeonista. “Uma referência, um exemplo pela forma espontânea como defendeu seu trabalho, nunca se dobrou a tendências”, classifica. “Construiu um legado através do seu legado na gaita e enfrentou muitas intempéries também, mas também sempre foi um cara muito agregador”, reforça Pirisca.

*Colaborou João Victor Torres

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