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Notícias | Região Nova Santa Rita

Produtores mantêm regulares os preços do arroz orgânico

Produto estava com valor bastante defasado, aponta um dos agricultores que integram a direção de cooperativa do município. Segundo economista, elevação é diferente da alta de outros produtos

Por Bruna Aquino
Publicado em: 23.09.2020 às 03:00 Última atualização: 23.09.2020 às 12:02

Preços do arroz orgânico não tiveram um reajuste tão drástico quanto o convencional. Hoje, valores estão equiparados Foto: Fotos Alex Garcia/Divulgação
Presença garantida no prato dos brasileiros e, consequentemente, no dos gaúchos, o arroz teve recentemente uma drástica alta no preço do quilo, o que levou muita gente a repensar esse consumo diário. Mas essa elevação trouxe à tona uma grande oportunidade para agricultores de Nova Santa Rita que integram a Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan): a comercialização do arroz orgânico. Os produtores têm conseguido manter o preço num patamar semelhante há algum tempo, o que pode representar, agora, um baita negócio.

Coordenador do grupo de gestão do arroz e integrante da direção da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap) - que inclui 364 famílias em 14 assentamentos de trabalhadores rurais sem terra, Emerson Giacomelli planta arroz orgânico no município desde 2000 e confirma que os agricultores têm mantido os critérios para garantir um "preço justo". Em Nova Santa Rita, são 93 famílias ligadas ao MST em três assentamentos, numa área de 702 hectares. "O preço sempre vai ter uma variação, isso é normal de qualquer produto. O que nós fizemos foi manter os mesmos critérios que a gente vinha trabalhando. Então, o preço do orgânico não teve um reajuste tão drástico quanto o convencional. Hoje, o preço do arroz convencional está equiparado ao do orgânico."

Comprando na sede da Coopan, o quilo do arroz orgânico sai a R$ 5 - preço praticado há algumas semanas. Antes da alta, era vendido a R$ 4,30.

Preço defasado

Segundo Giacomelli, o valor do arroz estava desatualizado, o que contribuiu à recente elevação. "O arroz é um produto que estava com seu preço muito defasado. A atividade estava perdendo espaço para soja, gado de corte, porque estava se tornando inviável. Vínhamos sofrendo com o preço há anos e houve esse reajuste num curto espaço de tempo". "Chegamos a vender cinco quilos a R$ 12 e isso não paga os custos. Como a gente dizia, ficamos teimando para trabalhar", acrescenta.

O que está por trás do preço?

"Um dos motivos da alta foi que o Brasil exportou muito arroz em casca. Além de não gerar muito emprego, ele não paga imposto. Eu, aqui, pago imposto. Mantivemos a margem de lucro, por isso conseguimos manter o preço", explica Giacomelli. "Mantivemos o preço que compramos do agricultor, pagamos a ele 20% acima do preço do convencional. A gente percebeu que pode trabalhar com esse preço", afirma.

 

Próxima safra já foi plantada e deve ser colhida de fevereiro a abril do ano que vem

Os agricultores de Nova Santa Rita já plantaram a próxima safra do arroz orgânico, que deve ser colhida de fevereiro a abril. Conforme Giacomelli, são estimadas em torno de 18 mil toneladas. Na última colheita, foram 15 mil toneladas, produção "realtivamente boa", segundo ele.

Arroz orgânico Nova Santa Rita Foto: Alex Garcia/Divulgação

É importante que o governo defina uma política para produtos da cesta básica, concedendo incentivos e ainda trabalhando com um preço mínimo. "O Estado também tem que ser um regulador. Imagine que o governo não tem um estoque de arroz e, por isso, o governo não tem como intervir e fica a mercê do mercado. O governo tem que ter um estoque regulador", argumenta.

De acordo com o economista e professor da Universidade La Salle, Moisés Waismann, tradicionalmente o governo faz estoque regulador. "Quando se produz muito e o preço fica baixo, o governo compra, e quando a produção é pouca e o preço sobe, o governo vende. Assim, o preço se mantém num determinado patamar, não desabastecendo os consumidores e nem desmotivando os produtores. Ocorre que, por decisão, o governo organizou um estoque regulador."

Segundo Waismann, o preço pode baixar de várias formas: "Uma é não consumir arroz, assim o preço cai, mas esta é mais difícil. Olhando a produção, na próxima safra, se aumentar a produção, pode aliviar, mas isso só para a próxima. No curto prazo, somente se o dólar cair ou entrar outro vendedor no mercado externo ofertando o produto".

 

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