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Padre é investigado por pedofilia nos vales do Sinos e Paranhana

Sacerdote da Diocese de Novo Hamburgo admite troca de fotos íntimas com menina, mas alega que foi vítima de golpe praticado por homem que exigiu dinheiro para não difundir conteúdo sórdido nas redes sociais

Por Silvio Milani
Publicado em: 01.10.2020 às 06:00 Última atualização: 01.10.2020 às 06:36

Durante o relacionamento, a conversa descamba para fetiches, entre selfies do padre até de batina Foto: nnn
O padre troca fotos íntimas com uma menina. Ela escreve que tem 15 anos, mas parece ser mais nova. O corpo é de criança. O sacerdote não se importa. Os contatos, que já duram cinco meses, só terminam porque um suposto tio da garota passa a ameaçar o religioso. O caso, com diálogos e fotos impublicáveis de nudez, vai parar na Polícia Civil. O padre passa a ser investigado pelo crime de pedofilia. Ele alega ser vítima de golpe. O nome, idade e paróquia do suspeito não são revelados porque há inquérito em andamento. É da Diocese de Novo Hamburgo, que abrange 19 cidades dos vales do Sinos e Paranhana - onde está concentrada a investigação - e quatro da Serra. Ele foi recentemente transferido de paróquia e retirado da galeria de padres no portal da diocese na Internet.

''Vergonha''

Os contatos libidinosos são admitidos pelo padre, mas a menor é desconhecida. "A gente descobriu essas mensagens no celular da minha sobrinha. Nossa família está atordoada. Envergonhada. Esse pedófilo não pode ficar impune", declarou um suposto tio da adolescente, ao enviar o material à reportagem, na tarde de 25 de junho. Aparentava revolta, nervosismo e constrangimento. Falava como se conhecesse o padre. "Minha irmã já sofreu demais. Imagina ver fotos da filha nessa situação. Não vamos nos expor. As provas estão aí." E desativou o telefone.

Ocorrências

Também em 25 de junho, o caso chegou à Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Novo Hamburgo, que mantém investigação sob sigilo. Cinco dias depois, o religioso fez ocorrência, em outra cidade, como vítima. O relato é do "golpe dos nudes". Em nota, a Diocese diz que apurou o caso e chegou à conclusão de que padre foi alvo de extorsão.

Mesmo que tenha caído em golpe, já é crime o fato de possuir ou armazenar pornografia de criança ou adolescente, segundo a Polícia, com pena prevista de um a quatro anos de prisão.

Pecados pelo celular

Os diálogos por aplicativo de celular vão do início do ano até a segunda quinzena de junho. Padre estabelece relação de confiança com a jovem, em meio a troca de intimidades.

Durante o relacionamento, a conversa descamba para fetiches, entre selfies do padre até de batina Foto: nnn

Durante o relacionamento, a conversa descamba para fetiches, entre selfies do padre até de batina.

Religioso recebe "nudes" da menina, que denotam masturbação, e pede mais.

A garota também pede e o sacerdote, seduzido, vai enviando foto do órgão sexual Foto: nnn


A garota também pede e o sacerdote vai enviando foto do órgão sexual.

A religião não fica de fora, com convite e link da paróquia para assistir missa virtual Foto: nnn


A religião não fica de fora, com convite e link da paróquia para assistir missa virtual.

"Como é que fui fazer isso?"

Assim como na ocorrência que registrou, o padre inicialmente afirma, em entrevista ao Jornal NH, que não sabia que se tratava de uma adolescente. Porém, quando confrontado com a foto do perfil, que é de uma menina com aparência pueril, além da conversa em que ela responde ter 15 anos, o sacerdote silencia, titubeia e acaba concordando que tinha conhecimento, o tempo todo, que se comunicava com uma menor. Se diz arrependido e que nunca teve relacionamento parecido antes. Garante ainda que não houve contato pessoal com a jovem. "As conversas começaram no Facebook e foram para o WhatsApp", observa. O padre afirma que tem prints da tentativa de golpe que teria sofrido, mas não os mostrou à reportagem. E se pergunta: "Como é que fui fazer isso?"

O senhor estava fazendo sexo virtual com uma adolescente?

Padre - Na verdade, eles me pediram dinheiro. Tive conversas. Errei sim, faz parte. Daí alguém vem depois e diz que essa pessoa é menor. Me pediram dinheiro para que não viesse à tona.

Pediram quanto?

Padre - Foram R$ 22,8 mil. Fiz o que podia fazer. Registrei ocorrência, me apresentei na Diocese. Não vou negar as conversas. Depois me apresentaram ela como menor.

Não sabia que era menor?

Padre - Não. Sabia que era uma jovem, sim, mas não a idade.

Nem pela foto do perfil desconfiou?

Padre - Não consegui olhar que era.

Há um diálogo em que o senhor pergunta a idade e ela responde que tem 15 anos.

Padre - Não sabia da idade.

Mas está tudo documentado em conversas e fotos.

Padre - Sim, sim…

A menina aparenta 12 anos de idade.

Padre - Aham… Sim...

Então o senhor sabia que era uma menina, certo?

Padre - Aham…

O senhor não ficou constrangido ao se relacionar desse modo com uma criança?

Padre - No início, sim. Claro que fiquei.

Fica evidente que é uma conversa de adulto em sexo virtual com menor.

Padre - Sim, sim… Não sei se da parte deles procuraram a delegacia. Se realmente fosse família, teria procurado a Polícia e denunciado.

Uma pessoa se dizendo tio o chama de "padre pedófilo".

Padre - Vamos ser sinceros. Olhando para esse material, não tem outro conceito. Eu sei. Olhando hoje. Mas nunca me passei, nunca fiz nada disso, foi aquilo ali, foi por estar longe, Internet.

Conhece essa menina?

Padre - Conheci pelo Facebook no início do ano. Nunca houve contato pessoal. Até hoje, sendo bem sincero, eu me vejo como um burro, me deixei levar pela Internet.

Ela disse de onde é?

Padre - Disse que é de Caxias e que mora em Porto Alegre. Por isso me deixei levar na conversa. Fraqueza humana, pensando que a conversa nunca ia dar em nada. Ela vinha há dias pedindo foto. Eu dizia que não. E mandei. Que burrice. Mandei na quinta de noite e na sexta me mandaram ameaça. Falei com colegas e disseram que era golpe. Cancelei o Facebook, troquei o chip do celular e fiz ocorrência.

Como foram as ameaças?

Padre - Uma pessoa ligou para cá dizendo que descobriram as conversas. Disse assim: Que a mãe tinha pego, quebrado o celular, quebrado o computador, a guria saiu de casa, a mãe foi atrás e bateu o carro. O tio disse que eu tinha que cobrir o prejuízo, o que me deixou mais nervoso. Se eu tivesse dinheiro, teria pago eles.

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