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Notícias | Região Polícia

Padre é indiciado na região por estupro de coroinha

Ministério Público analisa inquérito contra sacerdote do Vale do Paranhana, ligado à Diocese de Novo Hamburgo, que nega o crime e continua à frente de paróquia

Por Silvio Milani
Publicado em: 17.12.2020 às 21:13 Última atualização: 17.12.2020 às 22:25

Aos 14 anos, o coroinha passou a ter relações sexuais com o padre. De família pobre, era seduzido por presentes. Quando já pernoitava na casa paroquial, dormindo com o sacerdote, foi empregado como secretário da igreja. Estimulado pelo chefe, que comprava cigarros e cerveja, começou a fumar e beber. Já vivia sob ameaças. Se revelasse o segredo, coisas ruins aconteceriam para ele e a família. Não aguentava mais. Aos 19 anos, deixou a paróquia, entrou em depressão profunda e, após tratamento psicológico, ganhou coragem para ir à Polícia. Mensagens de WhatsApp mostram discussões. Em uma delas, o religioso pede perdão ao jovem.

A investigação resultou, semana passada, no indiciamento de um padre de 63 anos por estupro de menor. Ele nega. Segundo a Diocese de Novo Hamburgo, o suspeito continua pároco no Vale do Paranhana porque a instituição não foi oficialmente informada da conclusão do inquérito. O Ministério Público informou nesta quinta-feira (17) que analisa a investigação para decidir se denuncia ou não o clérigo. A cidade e nomes não são informados porque o caso está em segredo de Justiça.

Testemunhas

“Cheguei à convicção de indiciamento por estupro porque os atos libidinosos ocorreram, segundo relato da vítima, quando ainda era menor”, declara o delegado Gustavo Bermudes Menegazzo da Rocha. Conforme ele, os abusos teriam começado em 2013 e perdurado até o início do ano passado. “Esse guri precisou de tratamento psicológico e acabou ganhando confiança para registrar ocorrência.” A queixa foi feita em julho deste ano. Conforme o delegado, várias testemunhas foram ouvidas, entre elas a psicóloga do jovem. Os policiais também conseguiram mandados de busca e apreensão na paróquia.


Nervoso, religioso entrou em contradições

Conforme Rocha, o suspeito entrou em contradições no depoimento de mais de duas horas prestado em setembro, acompanhado de advogado. “O padre nega. Disse que tinha o rapaz como amigo e que queria ajudá-lo porque gosta de ajudar as pessoas. As contradições foram aparecendo em detalhes que não fecham, nas expressões. Demonstrava nervosismo. Olhava muito para o advogado na tentativa de se socorrer sobre o que falar quando era feita uma pergunta mais incisiva.” Segundo ele, as mensagens apresentadas pela vítima não mostram diálogos que tratam de atos sexuais. “Mas o conteúdo leva a entender que a relação era muito próxima, além da amizade.”

Pessoa influente na cidade

De acordo com o delegado, o religioso se valia da condição de pessoa influente na cidade, como amigo de políticos e empresários, para ameaçar o jovem. “Em determinado momento, já adulto, não queria mais ficar nessa situação e tentou sair. Foi quando começaram as discussões. Existia um processo de intimidação. O padre entrava na mente dele para evitar que denunciasse, com ameaças extensivas aos familiares, sobre algum mal que poderia acontecer a eles.” Conforme Rocha, o padre ainda induziu o então funcionário a vícios. “O rapaz é fumante. O padre comprava cigarro e bebida alcoólica. Era outra forma de tê-lo na mão.” O delegado revela que há relatos de outros casos. “Esse padre teria histórico, mas ninguém havia comunicado oficialmente à segurança pública por medo.” Bem-conceituado na sociedade, o religioso é conhecido pelo incentivo a práticas recreativas e esportivas para jovens. A reportagem tentou ouvir o padre nesta quinta. Na paróquia, foi informado que não estava.

“Ainda não tenho o que fazer”, diz bispo

O bispo da Diocese de Novo Hamburgo, Dom Zeno Hastenteufel, declarou nesta quinta-feira que a instituição ainda não tem conhecimento do indiciamento. “Ainda não tenho o que fazer. Não sabemos de nada oficialmente. O advogado do padre também não.” Por isso, segundo ele, o sacerdote permanece à frente da paróquia. “Estamos no aguardo. O que nos foi relatado parecia um caso de extorsão de um guri que trabalhou na paróquia que foi demitido e queria dinheiro. Agora, se o promotor denunciar, daí sim tomaremos providências.”


Promotora analisa o inquérito

O inquérito, remetido semana passada ao Fórum, está com a promotora de Justiça Cristina Schmitt Rosa. Ela informou hoje, por meio da assessoria de imprensa do Ministério Público, que o caso está sob análise. Caberá a Cristina denunciar ou não o padre. Em eventual denúncia, e se o juiz aceitá-la, é aberto processo criminal. O indiciamento é por estupro contra menor entre 14 e 18 anos, com pena prevista de 8 a 14 anos de prisão.

Outro caso sob investigação

Segue sob investigação, na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Novo Hamburgo, uma denúncia de pedofilia contra outro padre da mesma diocese, revelada em outubro pelo Jornal NH (LEIA AQUI). O sacerdote, afastado após a reportagem, admitiu, em entrevista, que trocava mensagens e fotos íntimas com uma adolescente de no máximo 15 anos. A Polícia tem fotos do religioso e da adolescente, nus, em poses de conotação sexual. A menina não foi encontrada para depoimento. O suspeito se diz vítima do conhecido “golpe do nudes”.

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