Mundo, espaço de vida nova a imigrantes e refugiados

Para a venezuelana Keila Ruiz Yepez, 45 anos, que veio para Esteio na operação de acolhimento em 2018, gratidão define a sua nova vida no município. "Quando cheguei, não sabia o que ia acontecer. Estava me sentindo como um bebê, tendo que começar tudo do zero. Hoje convivo com tantas pessoas maravilhosas, vejo meus filhos se desenvolvendo, eu sou muito grata à cidade de Esteio." Esta boa política de acolhimento a imigrantes e refugiados desde novembro tem um local específico: o Espaço Mundo, uma ampla sala inaugurada há exatamente um mês na prefeitura de Esteio. Funcionando de segunda a sexta-feira, das 12h30 às 18 horas, o Mundo oferece a imigrantes e refugiados acesso a uma rede de serviços do município, colocando à disposição computadores com Internet para a confecção de currículos e realização de entrevistas e reuniões on-line, por exemplo.

De acordo com a titular da Secretaria Municipal de Cidadania, Trabalho e Empreendedorismo, Tatiana Tanara, no Espaço Mundo, o trabalho é feito com cinco computadores e uma impressora que foram doados pela Agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Refugiados (Acnur) e parte do mobiliário pela empresa InBetta.

Conquistas

Moradora da Ilha de Margarita, no norte da Venezuela, Keila veio para o Brasil com o marido, Richard, e os dois filhos Andrés e Juan. Formada em Letras, ela fala portunhol, mas entende muito bem o português. Parte do conhecimento no novo idioma Keila diz ter adquirido no trabalho conquistado em Esteio, na área de educação, com crianças especiais. "É um trabalho que enche meu coração. As crianças me ajudam muito com o português, elas são excelentes professores", conta. Além de Keila, também o esposo dela conseguiu uma oportunidade no mercado de trabalho logo que chegou a Esteio. "Ele começou como operador em um supermercado e agora é encarregado da área de hortifrúti. Minha vida aqui é um sonho feito realidade. Acho que nem em sonho imaginava as oportunidades que este País nos brinda a cada dia", diz.

Apaixonada pela nova cidade, Keila espera que ela e a família fixem raízes na região. "Eu amo Esteio. Amo as pessoas, amo toda a cidade. Estou muito grata com Deus por ele brindar nossa família com esta oportunidade, que, queremos, seja para sempre nosso lar. Toda nossa gratidão com a gestão do prefeito Leonardo Pascoal e sua equipe de trabalho, que é maravilhosa e que ainda hoje, depois de fazer todo um trabalho árduo com todas as famílias que chegaram em 2018, ainda podemos contar com eles, com muito apoio, dedicação, e sobretudo muito amor."

Orientação

Keila e a família estão entre os estrangeiros que recebem acolhimento no Espaço Mundo pensado para o atendimento especializado, escuta qualificada e orientação a imigrantes e refugiados em Esteio. No Mundo toda a equipe de servidores tem conhecimento na língua espanhola. No entanto, segundo Tatiana, a orientação dos protocolos internacionais é de que durante os atendimentos seja trabalhada a língua local. Mas o idioma não tem sido empecilho para integração dos imigrantes na cidade.

"Nunca tivemos problemas. Quando o primeiro grupo chegou em 2018, focamos em inseri-los no mercado de trabalho. Em seis meses 98% deles já tinham conquistado uma oportunidade. Os próximos vieram para a reunião familiar justamente pelo fato de os primeiros já estarem estabelecidos. Com a pandemia alguns perderam os empregos, como aconteceu também a muitos cidadãos brasileiros e esteienses. O diferencial é que imigrantes e refugiados se recolocam muito rápido no mercado por aceitarem vagas que normalmente sobram", avalia a secretária.

refugiados, pelo menos, estão atualmente, vinculados aos serviços da administração municipal de Esteio.

A estimativa é da prefeitura esteiense, e o número muda com frequência em função da própria característica dos deslocamentos migratórios. Os imigrantes vêm de países como Cuba, Haiti, Palestina, Peru, República Dominicana, Senegal, Síria, Uruguai e Venezuela.

O desafio aceito do acolhimento

"Há dois anos, quando o governo federal nos questionou se aceitávamos receber os imigrantes venezuelanos, optamos por aceitar o desafio. Hoje vemos que tomamos a decisão certa, pois aquele movimento nos exigiu outras ações para qualificar o atendimento. O Espaço Mundo é consequência disso e será um local para acolher quem chegou ou quem ainda vai chegar", comenta o prefeito Leonardo Pascoal. Na cerimônia de abertura do Espaço Mundo, dia 26 de novembro, Pascoal falou, ainda, sobre a Política Municipal de Acolhimento a Refugiados e Imigrantes de Esteio (Lei Municipal nº 7.517/2020). "A Política de Acolhimento vai institucionalizar a questão do atendimento aos refugiados e imigrantes, garantindo que permaneça mesmo com a troca de gestores no futuro. A pandemia agravou muito os problemas migratórios e precisaremos ter, após passar essa fase, um olhar ainda mais atento a esses movimentos."

Gratidão e exemplo de trabalho

O senegalês Mamour Faal (foto acima), na cerimônia de abertura do Espaço Mundo, há um mês, ressaltou a gratidão que sente pela vida nova conquistada em Esteio. "Muito obrigado pela oportunidade que deram a mim e a outros imigrantes. Esteio é uma cidade que considera todas as pessoas iguais, não sofremos incidentes de racismo aqui como em outros locais." No evento, a oficial de Reassentamento da Acnur Brasil, Gabriela Cortina, destacou que a maneira como Esteio recebeu os imigrantes, com equipes da prefeitura, voluntários e comunidade. "Esse trabalho tem sequência, como a gente pode ver, permitindo que muitas pessoas possam retomar suas vidas. (...) Ninguém escolhe ser refugiado, pode acontecer com qualquer um de nós, e nesse cenário ser bem recebido é o melhor que pode ocorrer." Esteio também instituiu o Fundo Municipal de

Acolhimento a Refugiados

e Imigrantes para facilitar captação, repasse e aplicação de recursos junto aos governos estadual e federal, a organismos nacionais e internacionais e de contribuições de pessoas físicas e jurídicas.