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Cotidiano Olha que legal!

Uma relíquia de Quintana encontrada após 36 anos

Jornalista Rosane Marchetti achou o poema inédito nesta semana, por acaso, guardado em uma gaveta

Por Letícia de Lima*
Publicado em: 16.01.2021 às 03:00 Última atualização: 17.01.2021 às 21:44

Mais de três décadas depois, em um papel já envelhecido, a jornalista Rosane Marchetti está diante de um tesouro. Em uma gaveta de seu apartamento, em Porto Alegre, estava um poema inédito de Mario Quintana, o escritor apaixonado pela capital gaúcha. "Quando eu morrer, publica", orientou ele ao lhe entregar o manuscrito, durante entrevista sobre o aniversário de Porto Alegre, que teve como cenário o Viaduto dos Açorianos. "Sempre tive com ele alguém muito próximo, nunca me disse não, sempre me recebia de bom humor, contando piadas. Então encontrar esse texto agora, que ficou tanto tempo guardado, no meio dessa pandemia, significa muito. Me trouxe uma ilha de coisas boas", conta.

A relíquia, que estava esquecida dentro de um livro de Jorginho Guinle, será emoldurada. "Não procurei saber se ele publicou o poema ou não, mas faço questão de eternizar em um quadro para colocar na parede", conclui Rosane, que passa uns dias em sua casa em Canela.

A atriz Deborah Finocchiaro, responsável pelo espetáculo Sobre Anjos & Grilos - O Universo de Mario Quintana, que ficou dez anos em cartaz e recebeu 18 prêmios, ajudou a percorrer a escrita e desanuviar a letra do poeta. "É um recado de um anjo", diz sobre a dádiva de abrir um livro e ter um poema manuscrito de Quintana só seu e pronto para voar. Afinal, o poeta mesmo que diz: "Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão..."

* Colaborou Alecs Dall'Olmo

Carta de Aniversário

"Eu queria muito dar-te uma imagem qualquer para os teus anos,

Um pensamento bom, os melhores

Porém apenas sinto esse vazio zeloso
De uma sala-de-espera onde não está (...)

É que longe de ti de tuas mãos milagrosas

de onde os meus versos voavam...

pássaros de luz

A que deste vida com teu calor

É que longe de ti eu me sinto perdido

Disertamente perdido de mim.

E em vão procuro

mas só vejo de bom

Mas só vejo de puro

Este céu que eu avisto da minha janela

Mando-te pois o céu todo este céu e mais aquela nuvenzinha que ficou pausada em pleno azul sonhando

Ó céus de Porto Alegre

como farei

como farei para levar-te para o céu?!


Para a Rosane, uma carinhosa lembrança do Mario Quintana

24.3.84

"Uma carinhosa lembrança"

O escrito, rascunhado por Quintana ao se preparar para a entrevista, está impresso em uma espécie de papel pardo, com uma caligrafia ainda difícil de se decifrar. "Para Rosane, uma carinhosa lembrança de Mario Quintana", encerra o poeta. Uma dedicatória que a jornalista promete seguir à risca e guardar em sua casa e no seu coração.

Obra viva

Quintana morreu, na sua querida Porto Alegre, dez anos depois deste poema, em maio de 1994. O alegretense, um dos poetas mais populares do Brasil, "passou" aos 87 anos. Mesmo depois de 26 anos após sua despedida, as obras de Mario Quintana permanecem vivas e atuais aos apaixonados pela literatura. Assim como Rosane, muitos ainda lamentam o seu nome nunca ter sido indicado para a Academia Brasileira de Letras (ABL). "Injustiçado, mas aplaudido por nós, e basta", comentou uma seguidora da jornalista na publicação de Rosane no Instagram.


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