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Notícias | Região Vacinação a conta-gotas

Falta celeridade também na aplicação da vacina e na atualização dos dados

Apesar de contestarem números, reclamarem da burocracia e alegarem rigor aos critérios dos grupos prioritários, prefeituras ainda não comprovaram que atingiram patamar recomendado

Por Débora Ertel
Publicado em: 06.02.2021 às 07:00 Última atualização: 06.02.2021 às 11:16

Em Esteio, onde médico Marcelo Caldeira foi imunizado na sexta, índice de aplicação chega a 61% das doses totais Foto: InézioMachado/GES/inézio machado/ges
Se o repasse de vacinas contra Covid-19 vem sendo a conta-gotas pelo governo federal, a aplicação em muitas cidades também não tem se mostrado tão célere. Esta percepção se sustenta nos números, apesar de questionados, e é compartilhada pela responsável pela 1ª Coordenadoria Regional de Saúde (1ª CRS), Ane Beatriz Nantal. "Não basta apenas retirar as doses, é preciso vacinar e registrar. Estamos muito aquém do que deveríamos", reclama Ane, que está preocupada com a demora dos municípios.

Como contraponto, prefeituras alegam que o Estado contabiliza a segunda dose, que ainda não pode ser aplicada pelos municípios - o recomendado são 28 dias após a primeira dose. Isso indicaria um percentual de aplicação menor do que realmente existe. Além disso, argumentam que, com poucas doses, o controle precisa ser ainda maior para garantir que a vacina seja aplicada no público prioritário. Situação que motiva outro problema, a burocracia nesta campanha é maior do que a habitual.

Dados do vacinômetro da Secretaria Estadual da Saúde, divulgados na sexta-feira, 5, mostram que a área da 1ª CRS é a que tem o menor índice de aplicação de doses no Rio Grande do Sul, 36%. O cadastro é aberto e qualquer pessoa pode fazer a consulta pelo endereço vacina.saude.rs.gov.br

A 1ª coordenadoria tem 67 municípios, sendo a mais populosa do território gaúcho. Destas cidades, 34 delas são daqui da região, incluindo Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo, municípios com maior densidade demográfica.

Na região de cobertura dos jornais do Grupo Sinos, ainda há quatro cidades que pertencem à 18ª CRS, sediada em Osório, onde o índice de aplicação estava em 48%; e dez da 5ª CRS, de Caxias do Sul, com marca de 52%.

Na avaliação de Ane, o cenário de pandemia exige uma maior celeridade dos gestores municipais. "As prefeituras tinham que ter uma força-tarefa, com carros para vacinar. Com essa quantidade que receberam, já era para ter aplicado, no mínimo, 80% das doses", avalia.

De acordo com ela, as equipes de vigilância epidemiológica têm expertise suficiente para acelerar o ritmo de aplicação. "Da mesma forma que se tem pressa para retirar as doses, ficam a todo minuto perguntando quando chega nova remessa, tem que se preocupar em vacinar e não fazer estoque das doses", assinala.

Embora essa campanha tenha uma diferença em relação às demais por conta do preenchimento de um cadastro com o documento de quem foi protegido, Ane considera que isso não é justificativa para índices tão baixos de aplicação.

Conforme o vacinômetro do Estado, as maiores cidades têm percentuais mais baixos do que as menores. Até a tarde de sexta-feira, Novo Hamburgo tinha aplicado 31% das doses do imunizante contra o coronavírus, São Leopoldo, 36%, e Canoas, 28%. Já o melhor resultado na região até agora é de Santa Maria do Herval, de 6,3 mil habitantes, com 71% das 178 doses recebidas aplicadas.

Na outra ponta da tabela, o pior desempenho pelo Estado fica com Portão, 37,5 mil moradores, onde apenas 12% das 954 vacinas foram aplicadas. Assim como outras prefeituras, a de Portão discorda dos dados do vacinômetro do governo do Estado.

Esteio ''dribla'' burocracia para agilizar

Apesar de não ter alcançado o índice de 80% de aplicação, que é apontado pela 1ª CRS como o ideal para o momento, Esteio apresenta um bom resultado em relação aos outros municípios com população superior a 50 mil habitantes. Do total das 2.214 doses distribuídas, 1.462 foram aplicadas, 61% do total.

Segundo a secretária municipal de Saúde, Ana Boll, quando são analisados apenas os números da primeira dose, a aplicação é de 98%. "Pois na segunda dose, o ideal é que se espere completar os 28 dias da primeira aplicação para ter mais eficiência", lembra.

De acordo com ela, a estratégia utilizada pelo município é ter um profissional de apoio nas equipes de vacinadores. Como o cadastro dos dados no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI) tem sido uma operação demorada, de três a quatro minutos por pessoa imunizada, a equipe decidiu concentrar suas forças na aplicação.

Dessa forma, o registro obrigatório dos dados de quem é imunizado é anotado a mão e depois profissionais da parte administrativa lançam os dados no SI-PNI. "É um retrabalho, mas pelo custo-benefício vale a pena. Precisamos vacinar o mais rápido possível para proteger as pessoas", destaca.

Outra medida adotada é que no Hospital São Camilo, única casa de saúde da cidade, a própria equipe de lá realiza a vacinação. "Primeiro a gente mapeou todos os profissionais para organizar essa demanda", explica.

Esteio teve 147 mortes e 5.782 casos de Covid-19 até a tarde de sexta-feira, 5.

 

Números estão desatualizados, alega prefeitura de Portão

Portão, que integra a 1ª CRS, apresentou o pior resultado da região, com aplicação de apenas 12%. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o Estado deve ter olhado através do Sistema de Informação do Programação Nacional de Imunização (SI-PNI), onde o município começou a digitar nesta semana as informações, e que está instável. Ou seja, o número estaria desatualizado.

Conforme o órgão, das 632 vacinas referentes à primeira dose, foram aplicadas 439, alcançando 69,46% do público-alvo. A meta, agora, são os trabalhadores da saúde privada.

Mutirão para atualizar dados em Canoas

Canoas teve 567 mortes por coronavírus e 17.711 casos confirmados até a tarde de sexta-feira. Já o desempenho da vacinação está, segundo o vacinômetro, em 28%, uma vez que das 12.544 doses distribuídas (primeira e segunda doses), 3.467 foram aplicadas.

A Secretaria Municipal da Saúde contrapõe o número e diz que o percentual informado no site do governo do Estado não está atualizado e o número correto seria 60,82%, referentes à primeira dose. A prefeitura admite que houve um problema no registro das doses aplicadas no município dentro do sistema oficial de dados. Por conta disso, neste final de semana haverá um mutirão para atualização dessas informações.

A cidade conta, além dos pontos de imunização nos hospitais para vacinação dos profissionais destas instituições, com quatro equipes volantes responsáveis pelos profissionais dos postos e Hospital Nossa Senhora das Graças. Já a equipe das unidades básicas de saúde (UBS) realizam a vacinação dos idosos e pessoas com deficiência institucionalizados da sua área de abrangência.

As estratégias são modificadas conforme as fases da campanha, por isso, existe a perspectiva de ampliação das equipes.

São Leopoldo argumenta que há mais rigor no controle

Até sexta-feira, 5, São Leopoldo tinha 14.914 casos da doença e 253 óbitos confirmados por Covid-19. Das 5.554 doses recebidas, conforme o vacinômetro, 1.970 foram aplicadas, somando 36%.

Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, o ritmo de vacinação deve ampliar quando houver um número maior de vacinas disponíveis. Atualmente, a meta é imunizar 300 pessoas diariamente.

A equipe de vacinação é formada atualmente por quatro enfermeiros fixos, dois enfermeiros volantes e oito técnicos de enfermagem. Mas o grupo pode ser estendido em caso de ampliação da disponibilidade de doses.

De acordo com a assessoria, com poucas doses é necessário garantir que apenas os grupos prioritários sejam vacinados e há um maior controle burocrático para assegurar esse processo. A vacina é nominal e há uma quantidade de informações a serem coletadas para inclusão nos dados de controle do Sistema Único de Saúde (SUS). 

Novo Hamburgo tem quatro duplas de vacinadores

Novo Hamburgo recebeu até agora 10.482 doses e possui oito vacinadores volantes Foto: Prefeitura de Novo Hamburgo/Divulgação
Novo Hamburgo, que já registrou 372 óbitos e tinha até a sexta-feira 14.809 casos confirmados de coronavírus, aplicou 31% das doses, ou seja, 3.278 de um total de 10.482 (entre primeira e segunda dose).

Conforme e secretário municipal de Saúde, Naason Luciano, há quatro equipes volantes de vacinação, sendo cada uma formada por dois servidores. "Enquanto um aplica a vacina, outro faz o registro no sistema com um tablet. Cada equipe consegue vacinar entre 50 e 100 pessoas, dependendo do local e da disponibilidade do público", informa.

Duas equipes atendem os profissionais que atuam nos hospitais, outra aos trabalhadores da rede básica de saúde e a quarta atende as instituições de longa permanência de idosos (ILPIs), que são os asilos.

No caso das ILPIs, conforme o secretário, Novo Hamburgo conseguiu atingir a quase totalidade das instituições existentes (cerca de 30). "O município não recebeu mão de obra extra para a vacinação contra a Covid-19. Os profissionais utilizados para compor as equipes foram deslocados de outros setores", comenta.

O trabalho é realizado nos turnos da manhã e tarde e também aos sábados. A meta é vacinar o maior número possível de pessoas por dia mantendo todos os cuidados necessários no controle do público-alvo e registro das pessoas vacinadas." 

Sistemas diferentes, números diferentes

Questionado sobre a diferença entre os dados divulgados pelas redes sociais da prefeitura de Novo Hamburgo e o vacinômetro do Estado, o secretário tem uma explicação. "Importante destacar que o Ministério da Saúde criou um sistema específico para registro de vacina da Covid-19, que exige detalhes completos da pessoa vacinada", destaca.

De acordo com ele, esse sistema é estranho aos utilizados pelo Estado e pelas prefeituras que possuem sistemas próprios, como é o caso de Novo Hamburgo.

"Por isso, as prefeituras estão tendo dificuldades em compartilhar os dados dos sistemas municipais com o do Ministério da Saúde", salienta. Segundo ele, até que isso ocorra, as prefeituras estão tendo que digitar duas vezes os dados das pessoas vacinadas, uma vez no sistema próprio e outra vez no Ministério da Saúde. ?

Em relação ao sistema estadual, mais simples conforme Luciano, pois se trata apenas de números, é atualizado diariamente com o que foi registrado no sistema municipal até aquele momento.

"Após um grande esforço, Novo Hamburgo conseguiu reduzir a discrepância entre as doses aplicadas e os registros feitos para um número insignificante", garante.

Idosos acima de 85 anos são os próximos da fila

Enquanto as prefeituras tentam agilizar a aplicação e a atualização dos dados, o Rio Grande do Sul deve receber, neste final de semana, 193,2 mil novas doses da CoronaVac. Com esta quarta remessa enviada pelo Ministério da Saúde (MS), o governo do Estado pretende iniciar a segunda fase de imunização, incluindo idosos acima de 85 anos, além de ampliar a vacinação dos profissionais da saúde. ?

Todas as 193,2 mil doses serão repassadas, sem reserva pelo Estado. Do total previsto, aproximadamente 147 mil destinam-se aos idosos, montante suficiente para atingir cerca de 43% população com mais de 85 anos. As outras cerca de 46,2 mil doses servirão para alcançar em torno de 78% dos profissionais que trabalham em unidades de saúde no Estado.

"Os municípios têm papel importante de organização da campanha no seu território. Estamos distribuindo as doses tão logo elas cheguem. É de suma importância que o município faça o planejamento, porque, além dos idosos acamados que já receberam as doses, estamos agora ampliando para uma população que precisamos proteger", pede a secretária da Saúde, Arita Bergmann.

A recomendação é para que seja feito um pré-cadastro da população-alvo e, se possível, com agendamento prévio.

Por que precisa de cadastro?

As duas vacinas contra Covid-19 em uso no Brasil - CoronaVac e Oxford/AstraZeneca - obtiveram na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a aprovação para o uso emergencial. Essa modalidade prevê a imunização de grupos específicos e foi permitida em razão da gravidade da pandemia.

Por isso, o Ministério da Saúde orientou fazer o registro individual da cada pessoa vacinada, de modo que ela possa ser monitorada depois, caso ocorra alguma reação.

Quando a vacina já tem o registro definitivo, como é o caso da H1N1 (gripe), não é necessário preencher uma ficha tão detalhada como nesta campanha.


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