Uma moradora de Novo Hamburgo relata que foi vítima de importunação sexual dentro de um vagão do trem na manhã da última quinta-feira (11). Um homem, que estava em pé, ao lado da moça no trem lotado, ejaculou em sua blusa. Ela só percebeu ao chegar no trabalho.
Após tomar conhecimento do caso, a deputada estadual Luciana Genro (Psol) vai encaminhar ofício à Trensurb questionando quais medidas a empresa tomou para prevenir novos casos e sugerindo a criação de um vagão exclusivo para mulheres, ao menos nos horários de pico.
Luciana Genro
A deputada avalia que a rede de atenção à mulher vítima de violência deixa a desejar e que o combate à violência contra a mulher é uma pauta subvalorizada. "É um processo bem demorado para conseguir atendimento da polícia. Depois, existe uma rede que deveria funcionar e que está totalmente sucateada e sem recursos."
A deputada afirma que seu gabinete fará um primeiro contato com a empresa. Caso o diálogo não evolua, levará a situação à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa.
O "vagão rosa" já é adotado em cidades como Rio de Janeiro, Brasília e Recife.
Até a tarde desta sexta-feira (12), a vítima não havia feito registro de ocorrência na Polícia Civil. Tentou registrar ocorrência on-line, mas não foi possível. Por não saber a identidade do agressor, não acreditou que fosse ser feito algo a respeito.
No dia seguinte ao caso, a jovem não pegou o trem. Conseguiu uma carona para ir trabalhar.
Ela afirma que a Trensurb não prestou nenhum tipo de apoio. Recebeu apenas uma resposta no Twitter e um e-mail em que a Ouvidoria se solidariza "com seu medo e seu sentimento de impotência", mas afirma que "infelizmente agora, temos muito pouco a fazer em relação ao episódio que você passou pela manhã, pois o comunicado deveria ter sido no momento."
O caso demonstra a dificuldade enfrentada pelas vítimas de crimes sexuais em buscar apoio para lidar com a situação e de encaminhar soluções práticas no sentido de punir os agressores e prevenir novos casos.
Em 2018, a Polícia Civil e a Trensurb anunciaram a criação de um posto em uma das estações de Novo Hamburgo. O projeto contava ainda com a parceria da Procuradoria da Mulher da Câmara de Vereadores. O local deveria atender mulheres, crianças, e pessoas socialmente frágeis, vítimas de violência.
Nesse posto, seria possível fazer o registro de ocorrência, além de atendimento com psicólogas e assistentes sociais. A previsão era de que o espaço entrasse em funcionamento no início de 2019, mas isso nunca aconteceu.
De acordo com a Trensurb, "foram identificadas questões técnicas que apontaram para a necessidade de revisão da proposta inicial do projeto-piloto", o que não teria evoluído em função da pandemia.
A Trensurb lamentou o fato acontecido com a passageira. A empresa orienta que usuários que presenciem ou sejam vítimas de violência ou assédio entrem em contato pelo telefone (51) 3363-8026 ou enviem SMS para (51) 98463-9863. Ou, tão logo quanto possível, procurem um dos empregados da Trensurb nas estações.
Em 2020, foram registradas 17 ocorrências por importunação sexual em Novo Hamburgo. Para o delegado Rafael Southier, há subnotificação.
"A vítima se vê sozinha, fica refém da situação e acaba não reportando às autoridades. Sem o registro, o agressor segue atuando e faz mais vítimas."
Receba notícias diretamente em seu e-mail! Clique aqui e inscreva-se gratuitamente na nossa newsletter.