Publicidade
Notícias | Região Coronavírus

Circulação comunitária de variante acende alerta

Cepa do coronavírus que provocou caos em Manaus circula em Porto Alegre. Especialista defende bandeira preta por mais algumas semanas

Por Ermilo Drews
Publicado em: 04.03.2021 às 04:00

Spilki: medidas rígidas Foto: Eduardo Cruz/Arquivo/GES
A confirmação da circulação comunitária em Porto Alegre da variante do coronavírus encontrada em Manaus é uma das explicações para o aumento exponencial dos casos e mortes no Estado, e exigirá mais tempo de bandeira preta. É o que defende o virologista e professor da Universidade Feevale, Fernando Spilki.

?Na última terça-feira à noite, o Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande Sul e a Diretoria de Vigilância em Saúde de Porto Alegre, em parceria com o Hospital de Clínicas, anunciaram a identificação de 21 casos de moradores da capital com a chamada cepa P.1, encontrada primeiro na capital do Amazonas. ?

?Em 13 dos casos não foi possível rastrear a origem do vírus. Com isso, a transmissão é considerada comunitária. Gramado, na Serra, registrou o primeiro caso da nova variante em 13 de fevereiro. Foi num idoso de 88 anos que acabou morrendo.

?"Esta variante nos causa preocupação, pois ela é até duas vezes mais transmissível, tem causado quadros graves mesmo em indivíduos mais jovens", alerta Spilki, que trabalha na identificação destas linhagens.

Variante britânica

?De acordo com Spilki, estudos devem mostrar nas próximas semanas a dimensão da circulação da cepa P.1 no Estado. No entanto, para ele, seguramente a variante de Manaus circula em todas as regiões do País hoje. "Não há por que imaginar que no Rio Grande do Sul seria diferente. E também temos a circulação em diversos estados da variante britânica B.1.1.7, com características similares. Determinar a presença dela no Estado é questão de tempo."

Até 21 dias de restrições

Com a proliferação de linhagens mais transmissíveis do coronavírus no Estado sendo confirmada, Spilki acredita que a bandeira preta deveria perdurar por mais tempo. Preliminarmente, as restrições mais severas impostas pelo governo do Estado estão estabelecidas até domingo, dia 7. Mas isso pode ser estendido, caso não haja melhora nos indicadores.

"Uma restrição de circulação agora é fundamental, tem de ser estendida por pelo menos 14 até 21 dias. Sem isso, difícil que se note algum efeito. Se não tomarmos e respeitarmos essas medidas agora, seremos todos duramente julgados no futuro, pode acreditar", defende o virologista.

Necessidade de vacinas

O especialista admite que as vacinas atuais podem ter uma neutralização reduzida para a cepa P.1, mas isso não quer dizer que elas não funcionem. "Pelo contrário, seria fundamental que agora se intensificasse muito a vacinação justamente para conter a disseminação desta e de outras variantes", observa o especialista.

 

Estudos sobre a cepa P.1

Ainda não há evidências de que a mutação seja mais letal que as outras, mas estudo da Fiocruz Amazônia mostrou que a nova cepa tem uma chance até 61% maior de escapar da imunidade dada por infecção anterior. Em fevereiro, a Organização Mundial da Saúde admitiu a possibilidade de redução da ação de anticorpos diante da P.1. Isso ainda está em estudo.

Pacientes de Manaus

O governo do Estado não relaciona a circulação da cepa P.1 com o acolhimento de pacientes da região Norte do País no Rio Grande do Sul. "Em nenhum momento o plano foi receber continuado. A Secretaria Estadual da Saúde (SES) apenas apoiou os outros Estados respondendo a pedidos específicos do Ministério da Saúde", justifica a SES.

O governador Eduardo Leite reforçou, na ocasião, que se tratava de um gesto de humanidade.

De acordo com a secretaria estadual, atualmente, dois pacientes de Manaus e um de Porto Velho (capital de Rondônia) seguem hospitalizados no RS. No total, o Estado recebeu, entre o final de janeiro e início de fevereiro, 50 pacientes - 18 de Porto Velho e 32 de Manaus (Amazonas).

Aglomeração nas férias não pode ser esquecida

Apesar da circulação de uma cepa mais transmissível ajudar a explicar o aumento no número de casos, isso, por si só, não basta. "Ha dois aspectos associados, estamos pagando a conta dos excessos e aglomerações do último período de férias e também a dispersão rápida da variante P.1", afirma Spilki.

Presidente da Sociedade Riograndense de Infectologia (SRGI), o médico Alexandre Vargas Schwartzbold lembra que as aglomerações ajudam na própria mutação do vírus. "Cada pessoa infectada é uma espécie de tubo de ensaio para o vírus. Então, oferece oportunidade para ele se modificar enquanto está se multiplicando."


Receba notícias diretamente em seu e-mail! Clique aqui e inscreva-se gratuitamente na nossa newsletter.

Gostou desta matéria? Compartilhe!
Encontrou erro? Avise a redação.
Publicidade
Matérias relacionadas

Olá leitor, tudo bem?

Use os ícones abaixo para compartilhar o conteúdo.
Todo o nosso material editorial (textos, fotos, vídeos e artes) está protegido pela legislação brasileira sobre direitos autorais. Não é legal reproduzir o conteúdo em qualquer meio de comunicação, impresso ou eletrônico.