Todos os dias, Júnior Golfetto abre o sistema de compras de medicamentos e renova seus pedidos aos mais de 10 mil fornecedores cadastrados. Dos 13 itens solicitados, sete estão indisponíveis. Justamente os remédios que compõem o chamado kit intubação, os mais necessários neste momento.
"Os neuro bloqueadores estão em falta há cerca de um mês. Agora os sedativos, midazolan, fentanil, propofol. Todos estão em falta", afirma Golfetto, que é coordenador de compras do Hospital Lauro Réus, de Campo Bom.
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Na última segunda-feira (15), o NH publicou uma reportagem alertando para a escassez de medicamentos. Nos últimos dias, a situação se agravou.
Diante do alto consumo, fornecedores não dão conta da demanda e distribuidores aumentam preços e cobram pagamento antecipado.
"Alguma coisa a gente conseguia substituir, mas agora já estamos em um nível em que não há mais substituto", afirma a farmacêutica responsável, Juliana Marcon.
Sem os medicamentos adequados, os hospitais devem adotar protocolo alternativo, com uso de diazepan e morfina, para manter o paciente dormindo e sem dor.
Além de Campo Bom, outros hospitais vivem situações semelhantes. O de Parobé comunicou o Estado da falta de remédios.
Os hospitais correm risco de ter de fechar leitos de UTI, alerta Elita Herrmann, membro da diretoria da Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do RS.
"Caso não se tenha esses medicamentos, leitos teriam que ser fechados, o que seria um caos ainda maior do que estamos vivendo", afirma.
Na última terça-feira (16), o governo do Estado encaminhou lotes de medicamentos adquiridos pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS). "Esse lote atingiu poucos hospitais e as quantidades são muito pequenas. Os medicamentos principais não estavam contemplados", afirma.
Essa é a quantidade de frascos de medicamentos do chamado kit entubação, adquiridos pelo governo do Estado, com entregas previstas entre esta quinta (18) e sexta-feira (19) para 30 hospitais gaúchos que relatavam possível desabastecimento desses insumos. Os medicamentos atracúrio, etomidato e morfina são utilizados para realizar entubação para respiração mecânica de pacientes em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs).
O colapso do sistema de saúde atinge todo o Estado. De acordo com a diretora administrativo-financeiro do Lauro Réus, Melissa Fuhrmeister, não há mais possibilidade de transferência de pacientes.
"Não adianta cadastrar paciente de Covid para transferir porque dão baixa no sistema. Se eu cadastro, derrubam, porque não tem vaga", afirma. Ontem à tarde, o hospital tinha os 23 leitos de UTI ocupados.
Melissa reforça a necessidade de se ampliar o ritmo da vacinação.
"Precisamos de vacina. Não adianta, vai continuar nesse ritmo, aumentando cada vez mais. A mortalidade está altíssima. Se não acontecer algo que pare a disseminação da Covid, vai morrer muita gente. É bem dramático."
O estoque baixíssimo de analgésicos, anestésicos e relaxantes musculares para tratar pacientes internados em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e leitos clínicos no Hospital Centenário, bem como para pacientes em leitos clínicos na UPA Zona Norte e no Centro de Saúde da Feitoria, fez a prefeitura de São Leopoldo requisitar às clínicas veterinárias, farmácias privadas ou mesmo outros estabelecimentos que possam dispor de estoque de medicamentos usados para garantir a sedação dos pacientes.
Conforme o secretário de Saúde, Marcel Frison, a medida é emergencial e busca garantir o atendimento no momento de maior gravidade da pandemia. "Precisamos unir esforços e estamos apelando até para as clínicas veterinárias e farmácias no sentido de garantir um mínimo de abastecimento desses anestésicos, considerando a absoluta falta no mercado e também uma falta de abastecimento do governo federal e mesmo do Estado com os insumos para atender a nossa população" reforçou Marcel.
Para a presidente do Hospital Centenário, Lilian Silva, a falta de medicamentos pode trazer consequências aos pacientes. "É uma ameaça real e estamos operando no limite com estoque praticamente zerado. A falta destes medicamentos nos obriga a usar alternativas de tratamento não tão confortáveis para o paciente. Fizemos uma compra de 10 mil ampolas e o laboratório não nos entregou ainda. Notificamos a empresa que terá 24 horas para justificar porque não fez a entrega, caso contrário tomaremos medidas legais", destaca Lilian.
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