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Notícias | Região

No desespero da pandemia, a oração ganha força

Famílias acometidas com Covid-19 são unânimes em afirmar que a fé é importante para enfrentar a doença

Por Susi Mello
Publicado em: 20.03.2021 às 07:00 Última atualização: 20.03.2021 às 08:40

Há duas semanas, Schmidt colocou faixa para pedir orações pela saúde de sua esposa Foto: InezioMachado/GES
Tânia, Daniel, Arnoni, Lenise, Leni, Fabio, Christian, Guido, Fabiana, Gisele, Eloi, Gilberto, são alguns que, além do tratamento médico, focaram na fé para enfrentamento da Covid-19. Eles são prova de que quando um amigo, um familiar ou a própria pessoa recebe o diagnóstico da doença causada pelo novo coronavírus, diante do agravamento da pandemia e da piora dos quadros de forma rápida e letal, a fé surge como um alento. É necessidade e conforto acreditar. Faltariam páginas para listar nomes de quem mantém a oração como alívio desses momentos de aflição por ter sido contaminado. Alguns permanecem, outros se foram.

A fé torna-se presente diante do quadro que se forma, quando a bandeira preta do distanciamento controlado cobre todo Estado. Com isso, histórias refletem a força da oração no enfrentamento ao vírus.

A dona de casa Leni Guterres de Carvalho, 66 anos, e seu marido Alvari Aloisio Kayser, 63, são testemunhas. Eles ficaram quase dois meses hospitalizados ano passado, receberam muitas orações e se recuperam. Devota de Nossa Senhora Aparecida, Leni diz que continua as orações.

Há quem peça oração pelas redes sociais, por grupos de WhatsApp e até fixa uma faixa para solicitar que as mãos se unam pelo bem de quem está com a doença e deem forças para aqueles que estão acompanhando esses momentos dolorosos. "Há um monte de anjos, disfarçados de amigos", sublinha a orientadora educacional Fabiana Pires da Silva, 47, que tem familiares hospitalizados.

Pedidos

No bairro Rondônia, em Novo Hamburgo, uma faixa fixa na grade de uma casa chama atenção. É nela que há pedido de orações para Tânia Maria Schmidt, 63, esposa do industrial Daniel Schmidt, 65. Ambos contraíram Covid-19. Ele se recuperou e ela precisou ser hospitalizada. Na segunda-feira passada, quando completavam-se 19 dias de internação, o industrial contou que ela se recuperava bem depois de 14 dias entubada e sedada. "Ela vem se recuperando de uma forma surpreendentemente a cada dia que passa", comentou. As orações, conta, são o ponto principal. "Temos grupos de oração da igreja, familiares, amigos, vizinhos. Por isso coloquei a faixa, porque temos amigos e criamos uma corrente a favor da vida da Tânia e ela surpreendentemente vem correspondendo", sublinha ele.

Ele salienta que a fé não pode ser deixada de lado diante da morte. "Quando uma pessoa falece não significa que a oração não teve força. Não sabemos qual o plano de Deus para a vida de cada um. Conforme a palavra bíblica de Romanos 8:28 sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus", acredita o industrial.

Famílias recebem preces até de quem não conhecem

Neste sábado, faz uma semana que Lenise Schünke publicou em seu Facebook que "depois de 21 dias nas mãos de Deus, contaminados com o Covid, toda nossa família (Arnoni, Lenise, Christian Fabio) está curada". Ela agradeceu pelas orações, palavras de carinho e incentivo, além de alimentos, pastores, a médica e sua secretária. Ao final da mensagem "a Deus toda honra e toda glória", demonstra a importância da fé na vida da família.

Seu marido, o empresário Arnoni Lauri Schünke, 61, conta que ele e sua esposa tiveram um quadro mais preocupante, pois necessitaram de concentrador de oxigênio, alugado para ficar em casa diante da falta de leitos em hospital. "Algumas pessoas ligavam para nós dizendo que estavam de joelhos orando para nós", relembra. Sua família, acrescenta, não tem dúvida de que a fé em Deus e as orações diárias de outras pessoas foram o ponto-chave da cura.

Na família Pires não foi diferente. Além de amigos, familiares, desconhecidos rezam pela saúde da assistente social Gisele Pires da Silva, 40. O pai dela, Eloi, a irmã Fabiana e o cunhado Gilberto Jorge Voges também foram acometidos com a doença. Dos quatro, apenas Fabiana não está hospitalizada. É ela que criou um grupo no WhatsApp para passar informações sobre a saúde, em que os integrantes se unem em oração pela saúde. "Até pessoas de outros Estados se envolveram. Há um monte de anjos, disfarçados de amigos", sublinha.

Intercessão de religiosos

Pedidos pela recuperação são feitos aos religiosos. O bispo da Diocese de Novo Hamburgo, Dom Zeno Hastenteufel, explica que, nas missas, padres rezam pelos doentes. "Confiamos que Ele esteja pronto para atender", acrescenta.

Pastor da Comunidade Luterana São Paulo (IELB), Marcos Schmidt, conta que a maioria das orações é feita pelo WhatsApp. No programa Bom Dia Comunidade, do pastor Fernando Garske, que publica uma mensagem diária no canal da comunidade atingindo mais de 1 mil pessoas, ocorrem orações por quem contraiu a Covid-19.

Grupo de oração no "whats" é alternativa do Ministério Vida Plena em Cristo. "Cremos no milagre, porque onde Jesus passava, ele curava", diz a pastora Fainira Boch.

No Ilê de Oxalá Jobokum e Ògún Oníré, de São Leopoldo, o babalorixá Marcello D'Ògún diz que pessoas pedem por orações, força e proteção aos Orixás. "A oração, independente do credo religioso, é uma força de energia poderosa, emanando positividade ao planeta", conclui.

Nos hospitais

Manifestações de fé pela vida dos pacientes e profissionais em frente a hospitais têm ocorrido. A Fundação de Saúde de Novo Hamburgo lembra que os grupos devem ser pequenos, respeitando o distanciamento de, ao menos, 1,5 metro entre as pessoas, além do uso de máscara e álcool gel. Porém neste momento de alto contágio do coronavírus, o ideal é que se esteja em segurança em casa.

Como fica o momento da perda?

O aposentado Guido Sonntag, 66, perdeu o filho mais novo para a Covid-19. Jonas Sonntag, 34, morreu dia 12 deste mês. "Como não tem uma cura definitiva para quem passa por essa situação tão difícil, as pessoas procuram a ajuda divina. E Deus de fato promete escutar orações dos seus filhos em Jesus Cristo, mas ele atende as orações conforme acha que é o melhor para as pessoas. Às vezes é a cura e às vezes não", declara o aposentado.

A dor da falta e a saudade são imensas. "O único conforto é saber que ele foi salvo pela graça de Deus. Deus achou que o melhor para o meu filho era levá-lo e não curá-lo. Esta é a minha fé", declara, lembrando que familiares e amigos prestaram apoio.

Tratamento não pode ser abandonado

O coordenador do curso de Medicina da Universidade Feevale, Cléber Ribeiro Álvares da Silva, diz que a ciência considera a oração como forma de recuperação. Entretanto, a espiritualidade não pode e não deve levar o paciente a abandonar o tratamento médico. "A medicina e a espiritualidade são síncronas e convergentes."

Ele explica que a espiritualidade capacita a emoções positivas como perdoar, esquecer, superar, ter esperança, otimismo e resiliência. Com isto, mudanças fisiológicas favoráveis podem ocorrer no corpo. "Por exemplo, o efeito da espiritualidade sobre o cortisol e as catecolaminas é favorável, pois os diminui. Com isso, a pessoa tem maior defesa à infecções." Ele frisa que pesquisas mostram maior índice de saúde mental e de adaptação ao estresse entre os que valorizam a espiritualidade.


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