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Notícias | Região Campo Bom

Testemunhas falam em tanque de oxigênio vazio na hora da pane em hospital

MP, Polícia Civil e sindicância apuram caso que resultou em seis mortes

Por Matheus Chaparini
Publicado em: 23.03.2021 às 03:00 Última atualização: 23.03.2021 às 08:25

Dois caminhões da Air Liquide estiveram no hospital de Campo Bom menos de três horas depois do incidente Foto: Carlos Rissotto/GES-ESPECIAL/ARQUIVO
A falta de oxigênio no reservatório principal e o consequente acionamento de um sistema reserva que acabou não tendo pressão suficiente para dar conta de 26 pacientes - algo muito acima da média - pode ter sido a causa da pane que deixou seis mortos na manhã da última sexta-feira no Hospital Lauro Reus, em Campo Bom.

É o que apontam testemunhas ouvidas no fim de semana e ontem pelo Jornal NH. Sob a condição de anonimato - algumas trabalham na instituição -, elas contam que o tanque fixo de oxigênio teria ficado vazio na manhã de sexta e que o backup composto por cilindros móveis foi insuficiente.

A consequência do que o hospital classifica como "instabilidade" e a Secretaria Estadual de Saúde como "falha" foi uma situação de pânico, com profissionais de saúde pedindo ajuda de forma desesperada para salvar vidas. Cilindros de oxigênio precisaram ser levados às pressas por ambulâncias da prefeitura e empresas privadas logo após a pane, que durou aproximadamente 30 minutos, entre 8h10 e 8h40.

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Pressão

Uma das testemunhas ouvidas pelo NH disse que "o tanque estava seco" no momento da pane. "O ponteiro estava em zero. Entrou (em operação) a bateria reserva, mas não tinha pressão suficiente", conta o homem que ainda não foi ouvido pela sindicância aberta no hospital nem pelas investigações do Ministério Público e da Polícia Civil. São três frentes tentando elucidar as causas e responsabilidades pela falha.

O relato das testemunhas converge com o que a reportagem do Jornal NH presenciou ainda na manhã de sexta-feira no hospital. Por volta das 11 horas - menos de três horas após a pane, portanto -, dois caminhões da empresa Air Liquide acessaram a parte dos fundos do hospital, aparentemente para reabastecer o tanque principal e o sistema reserva, com cilindros menores de oxigênio.

Troca de pessoal

As testemunhas também contam que teria havido uma mudança na rotina de manutenção da estrutura do Lauro Reus uma semana antes do incidente. O profissional terceirizado que respondia pelo serviço teria se desligado da instituição, mas precisou ser chamado às pressas após a falha da última sexta-feira.

O Jornal NH apurou ainda que faz parte da rotina do hospital fazer a verificação dos níveis de oxigênio nos reservatórios - a demanda cresceu muito nas últimas semanas. Quando o insumo atinge determinado nível o fornecedor já é acionado para fazer o reabastecimento. Por meio de nota distribuída à imprensa ainda na sexta-feira, a Air Liquide disse que mantém os tanques monitorados por telemetria para garantir a confiabilidade do abastecimento.

A empresa informou ainda que, no caso de o tanque atingir níveis mais críticos, um alarme é acionado para que seja ativada a central de backup de oxigênio, que nada mais é do que um conjunto de cilindros usados em situações emergenciais.

"O backup de oxigênio do Hospital Lauro Reus precisou ser utilizado e a equipe de manutenção da instituição solicitou apoio da Air Liquide para o correto acionamento da central, pedido que foi prontamente atendido", informou a empresa, acrescentando que "o abastecimento de oxigênio do hospital foi imediatamente restabelecido".

Polícia vai ouvir direção e funcionários

A Delegacia da Polícia Civil de Campo Bom abriu inquérito para apurar o caso. O delegado Clóvis Nei da Silva já solicitou documentos e informações que devem ajudar no andamento das diligências. Nos próximos dias ele deve chamar representantes da direção e funcionários do hospital para esclarecimentos. Imagens de câmeras de segurança do local também devem ser analisadas. Familiares das vítimas registraram ocorrência na DP.

Hospital aguarda laudo

Procurado ontem pelo Jornal NH, o Hospital Lauro Reus emitiu uma nota por meio da assessoria de imprensa: "Somente o laudo técnico dará a informação correta. Não confirma-se nada até o laudo técnico. Qualquer outra versão não técnica e ou oficial pode ser considerada mera especulação e atrapalha o processo de esclarecimento à comunidade."

Na sexta-feira a direção do hospital abriu uma sindicância interna para apurar o caso. Não há um prazo para a conclusão do procedimento. Uma nota divulgada naquele dia negou falha no sistema e que tenha havido falta de oxigênio para os pacientes: "Não houve falta de oxigênio aos pacientes devido à rápida ação da equipe assistencial que acionou imediatamente o plano de contingência em decorrência de uma instabilidade na rede central de distribuição de O² que durou 30 minutos", dizia trecho da nota.


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