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Reforma de casarão em Taquara pretende criar rota arquitetônica

Com vasta gama de prédios antigos contando sua história, cidade do Paranhana completa 135 anos neste sábado

Reportagem: Jauri Belmonte


Na Encosta da Serra, Taquara completa 135 anos de emancipação neste sábado, 17 de abril. Um dos presentes para a comunidade nesta data passa pela recuperação de um dos casarões mais antigos e importantes da cidade: o Solar Pina, erguido em 1909 e que está desde 2020 em obras.

Popularmente chamado como 'casarão do seu Astrogildo Pereira', que foi um comerciante bastante conhecido na região, o imóvel foi adquirido pelo casal Michele Biason - arquiteta, 45 anos, e Valmor Biason - advogado, 56, ainda no ano de 2007. O local sempre foi habitado, mas ficou mais de uma década fechado até ser reaberto, então, para a recuperação de toda a estrutura. O projeto é ousado: estimular a criação de uma rota arquitetônica.

Para Michele, desde a aquisição do prédio sempre houve a certeza de que o imóvel não seria demolido. "É um prédio histórico. Quando compramos, ficamos um bom tempo sem mexer, existiam outras prioridades. No entanto, sabíamos que ele seria recuperado e usado em algum momento, sem perder a originalidade", explica.

A primeira etapa do restauro está prevista para ser concluída até o fim de abril. "A fachada está em fase final de restauração. Além disso, o telhado estava comprometido e precisou ser refeito. No entanto, a madeira retirada foi usada nas esquadrias, mantendo a originalidade de portas e janelas. O assoalho também precisou ser renovado e as paredes externas seguem intactas, exatamente como na época da construção", conta.

Durante o serviço de recuperação do imóvel, a arquiteta afirma que foi encontrada uma parede de estuque, que é feita de barro, madeira e pelo de animal e raiz vegetal. "São várias descobertas ao longo desse trabalho. É prazeroso saber que estamos recuperando algo tão importante para nossa história".


O porquê de uma rota arquitetônica

Casarão Solar Pina foi erguido em 1909 Foto: Carlos Rissotto/GES-Especial
O Solar Pina é imponente e está em um ponto alto da cidade. Foi no entorno da Rua Edmundo Saft que a cidade começou a se desenvolver.

A via já se chamou 'Estrada geral de cima da Serra', pois o trilho trem que conectava o Paranhana à Serra passava por ali, já que a Estação ficava a pouco mais de um quilômetro do local. Inclusive em uma das paredes na varanda principal há um pedaço de trilho de trem que serve como suporte.

Além disso, a rua reúne diversos prédios antigos, que serviram como comércio na época em que Taquara vivia o processo de emancipação. Dentre eles, a Casa Vidal, de 1882, que já teve uma primeira etapa de restauração e é o mais antigo ainda existente na cidade. Próximo do local, na Rua Tristão Monteiro, também fica o Palácio Coronel Diniz Martins Rangel (sede da prefeitura), de 1908 e que está em uso; além da Casa Dienstmann, de 1913 e que recentemente foi restaurada. "Quem vinha de Porto Alegre e precisava ir a São Francisco de Paula levar mercadorias, passava por aqui. Então, a preservação desses casarões é motivo de orgulho", conta.

A arquiteta Michele Biason completa: "As edificações de Taquara contam a história da cidade e a prefeita Sirlei Silveira gostou da ideia. Sem contar que aqui existe potencial para explorar o turismo por meio de seu patrimônio cultural e histórico; é um sentimento de pertencimento. Todo o entorno contribui para isso. Pensamos em um legado para taquarenses de todas as idades", garante.

 

Passado, presente e futuro do Solar

Arquiteta Michele Biason atua no projeto de restauração Foto: Carlos Rissotto/GES-Especial
Resgatando o passado. De portas abertas para o futuro. A minuciosidade arquitetônica do Solar Pina impressiona. Horizontal, o prédio desperta na comunidade um misto de orgulho e curiosidade. Existem várias histórias no local. O nome 'Pina' é uma homenagem à 'Nona Pina', a avó de Valmor. Josephina Biason.

Inicialmente pertenceu a um integrante da família Corrêa, a qual teve papel importante na inserção da estrada de ferro para Taquara. A casa teve, ainda, duas ampliações até meados dos anos 60 e serviu como residência para um grupo de médicos, por conta da proximidade com outros dois hospitais que existiam no entorno - o Faiock e o Sagrada Família.

No local também funcionou a Delegacia de Ensino. "Pelas postagens em redes sociais, vemos que boa parte da comunidade está engajada e ansiosa para ver o projeto concluído. É um casarão diferente. Sem contar que aqui moraram famílias que contribuíram muito para o desenvolvimento de Taquara", conta Michele.

 

Significado e homenagem

Da imponência das edificações à homenagem a uma mulher da família. O nome Solar Pina carrega esses dois compilados. Aos olhos das primeiras gerações taquarenses, era a Rua dos Solares, devido aos casarões com fachadas que se destacavam por sua beleza.

“No momento da proeminência econômica de Taquara, foram essas casas que contavam o progresso da cidade e o progresso das famílias”, diz Michele. A via ainda resguarda características de suas primeiras datas, mesmo com edifícios surgindo no entorno. Por toda a sua extensão há um canteiro central, feito com pedras portuguesas, ainda em meados de 1900. Os casarões se sobressaem em meio à arborização de pequeno porte.

Já o nome ‘Pina’ é uma homenagem à ‘Nona Pina’, a avó de Valmor. Josephina Biason, descendente de italianos, era agricultora na localidade de Boa Esperança, em Rolante. Parteira, era conhecida na região. Portanto, o nome emerge com o intuito de homenagear uma das matriarcas da família. “Ela estava à frente para aquela época. Minhas filhas também queriam homenagear uma mulher da família, sem contar que o nome Solar Pina é sonoro”, explicou.


Ocupação do prédio ainda não foi definida

O futuro do casarão ainda não está definido. Uma das possibilidades é fazer um espaço de eventos. A inspiração vem da Casa Cavia, que fica em Buenos Aires, e é um espaço multiuso.

"O terreno tem 8 mil metros quadrados, com grande área de paisagismo e não descartamos usar uma parte dele para fazer dois edifícios de moradia. Isso favorece para desenvolvermos algo a céu aberto, ainda mais com a situação da pandemia que reforça a execução de eventos em espaços abertos. Porém, acredito que se tiver locação, o bom é se for um espaço de múltiplas economias", diz Michele.

A previsão de finalização da obra é para o meio deste ano. "Pessoas já nos procuraram para fazer aqui alguns eventos festivos, como aniversário de um ano, batizado e casamento. Mas nada é concreto ainda", diz.

Prédios históricos e preservação

Com 57 mil habitantes, Taquara faz limite com outros 11 municípios. A economia vem da agricultura e do comércio. Além disso, muito da história local passa pela beleza arquitetônica de seus casarões e prédios antigos.

Mas apenas contribuir com o contexto histórico não é 100% garantia de preservação. Isso porque de acordo com a assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal, das dezenas de casarões, apenas o prédio do Clube da Indústria, Comércio e Serviços do Vale do Paranhana (CICSVP), construído em 1918, é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A partir deste ano o local começará a ser usado como Centro Administrativo.

Plural e complexo, o cerne histórico taquarense não foi formado apenas pela imigração predominantemente alemã, mas, também, pelo trabalho árduo de escravos e outras etnias que chegaram por meio das águas do Rio dos Sinos e contribuíram para a urbanização. A ‘mãe do Vale do Paranhana’ trouxe e manteve até os dias de hoje um misto de traços, costumes e marcas latentes daquilo que mais importa a qualquer povo: sua história.

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