Há quem diga que o cão é o melhor amigo do homem, mas para uma doméstica de Campo Bom, a figura animal que melhor representa essa amizade é a de uma gambá. Cristiane Silva, de 40 anos, diz que há cerca de dois anos é mais feliz ao lado da marsupial, que ela batizou de Lola. "É carinhosa e adora um colo", conta.
A parceria gera curiosidade no bairro Imigrante Sul e nas redes sociais, onde o bichinho já acumula mais de 30 mil seguidores. "Aonde eu vou, ela vai junto e sempre vira a atração. Tem gente que me para na rua, não pra falar comigo, mas para conhecer a Lola e tirar fotos", comenta.
Encontro
Apesar de sempre ter sido apaixonada por animais, Cristiane costumava cuidar das espécies mais comuns, como cachorros e gatos. Foi durante um passeio em uma área de mata fechada com dois dos seus 13 cães resgatados que Lola chegou à família, ainda filhote.
"A Branca - uma pitbull de quatro anos - trouxe ela na boca e deixou aos meus pés. Inicialmente levei um susto, um animal peludo e gelado. Pensei que estivesse morta, mas quando percebi que ela tinha batimento não pensei duas vezes e levei pra casa", relembra.
Mau cheiro é mito
Em uma pesquisa rápida na Internet veio a descoberta: o animal que cabia na palma de sua mão era um gambá, com poucos dias de vida. A ideia era cuidar dela até que pudesse ser reinserida na natureza, mas Lola nasceu debilitada, sem movimentos nas patas traseiras e a própria mãe a rejeitou.
A história que tinha tudo para ter um desfecho triste sofreu uma reviravolta a partir da adoção da gambá. Posse que precisou ser autorizada pelo Ibama.
"Minha vida mudou a partir daquele momento. Foi amor à primeira vista. Comecei a pesquisar sobre a espécie, conversar com especialistas e hoje proteger os gambás é a minha missão", afirma Cristiane, que enfrenta diariamente o desafio de desmistificar quase tudo que se julga saber sobre o Didelphis (nome científico da espécie).
Diferente
É preciso esquecer o personagem do desenho animado Pepe, Le Gambá, com seu rabo vistoso e a listra branca típicos dos primos norte-americanos.
O gambá que vive no Brasil tem características bem diferentes daquele estereótipo da televisão. Para começar, ele não solta um cheiro tão pestilento como os de outras regiões.
Ela explica que os nossos eliminam odor apenas para marcar território, atrair parceiros ou em situações de extremo estresse, mas são cheiros que não chegam a incomodar as pessoas. "Lola nunca soltou esse odor, e acredito que seja porque se sente segura conosco", pontua.
Embora pareça divertido ter um bichinho diferente dos tradicionais cães e gatos, a decisão de criar um animal silvestre requer responsabilidade. No Brasil, a aquisição e a posse são regulamentadas, sendo imprescindível o respeito a uma série de exigências impostas pela legislação ambiental.
As regras são ditadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), instituição responsável pela regularização no País.
Cuidados
Todo o tempo investido na recuperação do animal, que chegou muito debilitado, surtiu efeito, mas a saúde de Lola ainda requer cuidados. Com cerca de 5 quilos, ela é considerada obesa para a sua espécie. Tanto que o peso está sobrecarregando o coração.
Para evitar a eutanásia, ela precisa emagrecer. Veterinários sugeriram também a utilização de uma cadeira de rodas adaptada. Sem condições de adquirir o equipamento, que custa cerca de R$ 350, Cristiane está pedindo doações. Interessados em colaborar podem entrar em contato através do telefone (51) 99378-9931.
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