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Notícias | Região Marcha nupcial em standby

Casamentos seguem adiados pela pandemia; como os casais adaptam o novo momento

Mais uma vez maio chegou e o segundo mês das noivas em meio à pandemia adia sonhos de casais

Por Bianca Dilly
Publicado em: 15.05.2021 às 08:00 Última atualização: 15.05.2021 às 09:54

Casamentos afetados na pandemia Foto: Inezio Machado/GES
Quando a técnica em química Dienifer Cristina Scheeren Krug, 25 anos, saiu para decidir o vestido que usaria no dia mais importante de sua vida, não tinha ideia do que aquele momento em um longínquo fevereiro de 2020 representaria.

Quase que em um universo paralelo, onde a pandemia ainda não preocupava, ela foi acompanhada da mãe, da sogra e de duas madrinhas, no final de tarde de uma terça-feira quente de verão. "Primeiro, eu nem olhei os vestidos. Elas que foram escolhendo e separando para que eu provasse", relembra agora, 15 meses depois.

Eram seis ou sete cabides enfileirados, com pérolas e bordados observados de perto por quem acompanhava a noiva. "Experimentei o primeiro e gostei. Mas continuei colocando os outros, já que elas tinham escolhido. Quando cheguei no quinto, vi que era aquele. Tinha que ser. Olhei para elas e estavam todas chorando", conta, também segurando as lágrimas.

Dienifer ainda não abandonou o sonho de celebrar a união na igreja Foto: Inézio Machado/GES
Sonho adiado

A data para que o esposo de Dienifer, Guilherme Krug, 22, conhecesse o tão esperado vestido da noiva estava agendada para setembro de 2020. Isso tudo antes do novo coronavírus chegar e bagunçar os planos. "Até junho do ano passado, ainda tínhamos um pouco de esperança. Quando eu vi que não ia dar certo, começamos a avisar o pessoal que seria remarcado para março de 2021", explica a jovem.

O sonho dos ivotienses foi adiado por meio ano, mas eles estavam confiantes de que desta vez tudo daria certo. E chegou março deste ano, o mês mais difícil da pandemia. "Decidimos suspender e não estamos mais estipulando datas. Quando for possível fazer sem perigo para ninguém, vamos ter o nosso casamento como tanto desejamos", frisa Dienifer.

Mas eles ainda buscaram uma alternativa. "Já tínhamos a casa alugada e estávamos reformando. Como não daria para fazer da forma tradicional, o pastor foi até lá e nos deu a bênção em agosto do ano passado. Era o principal para a gente", evidencia. O que não quer dizer que o sonho da cerimônia na igreja acabou. Ele só está em standby, à espera do momento ideal.

Redução brusca

Além de Dienifer e Guilherme, quem esteve ou ainda está com o evento agendado passou por este mesmo misto de emoções. A celebração religiosa e a festa, tão estimadas por muitos casais, tiveram que ser repensadas. Agora, mais uma vez, chegou maio, o mês das noivas.

Noivas que neste momento seguem cheias de incertezas e insegurança, a exemplo do que mostram os números da região. Em 2020, sete comunidades católicas e luteranas daqui realizaram 86,4% a menos de celebrações do que a média dos anos anteriores. Como os dados contemplam os meses de janeiro e fevereiro, quando os eventos estavam liberados, a diferença é ainda mais significativa em 2021: 98,2%. Foram somente cinco uniões seladas até agora.

Realidade nas igrejas

Catedral de Pedra em Canela é um dos cenários favoritos para casamentos na Serra Foto: Divulgação
Para além dos números, padres e pastores comprovam a redução abrupta no dia a dia das comunidades. Duas das igrejas mais procuradas do Estado, a Igreja Matriz de Nossa Senhora de Lourdes, mais conhecida como Catedral de Pedra, em Canela, e a Paróquia São Pedro de Gramado, vivenciam a nova realidade.

“Em 2018, assistimos 58 casamentos. Em 2020, foram somente nove e neste ano apenas três. Muitos foram transferidos e temos dez marcados”, afirma o pároco canelense, Padre Vanderlei Barcelos de Borba.

Em Gramado, são 33 matrimônios agendados para 2021 e 11 já para o ano que vem. “Muitos noivos estão preferindo adiar a celebração por conta da dificuldade de realização da festa, em função das restrições sanitárias”, detalha o pároco, padre Lucas Peres.

Independentemente da religião, o cenário não muda muito. Na Comunidade Evangélica Luterana São Paulo de Novo Hamburgo, apenas um casamento ocorreu na pandemia. “Antes, eram cerca de três por mês. Mas sabemos de diversos casais que só casaram no civil e aguardam outro momento para a celebração na igreja”, pontua o pastor Marcos Schmidt.

Queda também aparecenos registros civis

As cerimônias religiosas não foram as únicas afetadas pela pandemia. Apesar de terem maior possibilidade de realização, ainda que com restrições, os casamentos em registro civil também diminuíram. No Estado, a redução da oficialização em cartório foi de 27% ao comparar 2020 com 2019. Para o presidente da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado do Rio Grande do Sul (Arpen/RS), Sidnei Birmann, três fatores devem ser levados em consideração na análise deste resultado.

"O primeiro deles é a questão das uniões que temos hoje e que são reconhecidas pela legislação. Elas acabaram, de certa forma, substituindo o casamento para algumas pessoas. Um exemplo claro é a união estável", afirma. Mas, além disso, a realidade da pandemia não pode ser desconsiderada. "Não há dúvidas de que ela influencia na questão dos casamentos. Pela incerteza que tudo isso gera, a gente tem uma reação natural de se retrair diante do desconhecido", diz.

Nesse sentido, há o impacto financeiro, a questão do emprego e a dificuldade de planejamento. "Tudo isso acaba fazendo com que as pessoas posterguem determinados sonhos e o casamento é um deles", completa. Por fim, a situação sanitária, em si, interfere. "Há a impossibilidade de aglomeração, o que impossibilita que as pessoas façam comemorações, convidem familiares e amigos. É mais um motivo a ser considerado na redução do número de casamentos", frisa.

 

Para celebrar a união, casal decidiu 'fugir' da pandemia

Thaiani e Cleiton optaram por um casamento diferente: o elopement wedding, com apenas seis convidados Foto: Cristiano Pires/Especial
O caso da nutricionista canoense Thaiani Wulff, 29, e do engenheiro civil Cleiton Hoffmann, 29, é um pouco diferente. Morando juntos há cerca de oito anos, eles também decidiram oficializar a união. E a sonhada data inicialmente havia ficado para 21 de novembro de 2020. "Em maio, junho do ano passado, vimos que a pandemia ia longe e resolvemos remarcar para novembro de 2021", conta Thaiani.

Porém, no início deste ano as coisas também não fluíram como eles imaginavam. "Não estávamos conseguindo resolver nada e vimos que possivelmente teríamos que trocar a data de novo. Como estava difícil de planejar, cancelamos o casamento", resume. Nada de tapete vermelho, dezenas de convidados ou valsa na pista de dança. A saída foi o elopement wedding, que é uma forma mais íntima e simples de realizar a celebração.

"Trocamos uma festa que envolvia 180 convidados para apenas seis pessoas. Nós dois, nossos irmãos e cunhados, que eram dois casais de padrinhos. Passamos dois dias na região dos cânions em Praia Grande, Santa Catarina", explica. No local, foi celebrada a união. "Fizemos os votos um para o outro e agora estamos casados! Foi bem diferente de tudo o que tínhamos planejado, mas fico emocionada só de falar. Parecia que era para ser daquele jeito e agora não imagino mais de outra forma", comemora a nutricionista, sobre o momento especial do último dia 4 de maio.

Demanda reprimida no pós-pandemia

Para o futuro, a expectativa de Birmann é pela retomada. "Acredito que, tão logo as coisas se normalizem, a gente possa ter o retorno dos casamentos no ritmo que vínhamos tendo antes. Muitas pessoas aguardam isso", analisa. De acordo com o profissional, é a estabilidade que deve auxiliar nesse processo. "Quando tivermos mais certeza sobre a questão financeira e de trabalho, veremos melhor em que ponto estamos. Passado esse período nebuloso, poderemos retomar com mais tranquilidade", conclui.

Casamentos info

 

Mudanças na sociedade também impactam

Ainda que a pandemia tenha acelerado bruscamente a queda no número de casamentos, o movimento já vinha ocorrendo nos últimos anos. Na Paróquia Nossa Senhora da Piedade, do bairro Hamburgo Velho, em Novo Hamburgo, a famosa lista de espera já não existe mais. "Não temos há uns quatro anos, visto que abrimos a agenda um ano antes da celebração do matrimônio", explica o padre Inácio José Schuster.

Na análise da socióloga e professora da Universidade Feevale Sueli Maria Cabral, os brasileiros estão, efetivamente, se casando menos. "Isso é um dado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E quando casados, ficam unidos civilmente por menos tempo. O que nos diz que a sociedade tem passado por profundas mudanças nos últimos anos", avalia.

Novamente, a pandemia intensificou esse processo. "O acúmulo de responsabilidades, o confinamento, problemas financeiros e até os 'drive-thrus' que alguns casais fizeram podem ter influenciado", pontua. Da mesma forma, com mais tempo destinado a reflexões, surgem novos olhares e questionamentos. "O casamento na igreja sempre foi um evento. Um rito, quase que de passagem, se pensarmos no começo do século 20. O glamour, a festa, o sentido comunitário, isso tudo também começa a ser visto de outra forma", observa.

Para Sueli, as pessoas passam a buscar outros significados. "Preciso de alguém para estar feliz? O casamento é o objetivo de todos? Tenho que constituir família? São perguntas que a sociedade está se fazendo", exemplifica.

 

Incertezas impedem projeções

Mas não há uma resposta única para os questionamentos citados pela especialista. "São desconstruções de convenções. Eu posso estar com alguém, mas morar em casas separadas e ser muito feliz. O conceito de família vem sendo alterado e a nossa ideia de felicidade também", sublinha. É por isso que não há condições de apontar o que ocorrerá no futuro. "A pandemia, por si só, ainda pode nos fazer pagar um preço alto de saúde mental, que desconhecemos. Além disso, não é possível dizer se é a sociedade que está mais fragmentada ou se estamos criando novas formas de interagir. Temos que torcer para que as pessoas estejam em busca da felicidade individual e coletiva", conclui.

 

Sem abrir mão da cerimônia religiosa

Para muitos casais, o sentido religioso do casamento é o que fala mais alto. Como é o caso da supervisora de atendimento Alissa Benedetti Gallo Bays, 23, e do técnico químico Rodrigo Bays de Oliveira, 25, que não abriram mão do matrimônio neste período. "São experiências muito bonitas e de testemunho de fé muito profundas, porque mostram a compreensão da beleza deste sacramento", resume o padre Peres.

Moradores de São Leopoldo, eles fazem parte do pequeno número de casamentos realizados neste ano na região sem a presença dos convidados, mas com muito amor. A união ocorreu no dia 31 de janeiro, após muita reflexão. "Abrir mão de ter todos amigos e familiares que gostaríamos perto de nós nos gerou dúvida, em um primeiro momento", conta Oliveira. Porém, o significado do matrimônio falou mais alto. "A oração e o acompanhamento do nosso diretor espiritual nos fizeram perceber que o mais importante de tudo era realizar a vocação a que somos chamados", complementa.

Hoje, com pouco mais de três meses de casados, ele categoriza: "Dizemos, sem hesitar: foi a melhor escolha que fizemos em nossas vidas. Realizar a vontade de Deus, juntos como um só pelo sacramento do matrimônio, foi algo que pensamos e sonhamos há muito tempo e agora podemos contemplar em nossa realidade diária", ressalta.

 


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