Há 500 anos, Lutero foi excomungado por suas ideias
Teses foram a base da Reforma Luterana, que completa 504 anos neste domingo
Em 1517, Martin Luther - ou Martinho Lutero - levantou-se contra a igreja medieval. Contrário a posturas da igreja da época, Lutero elaborou 95 teses a respeito do valor das indulgências - espécie de venda do perdão pelos pecados. O episódio marca o início da Reforma Protestante.
As ideias defendidas por ele batiam de frente com a igreja e a elite. O movimento gerou transformações em aspectos não só religiosos, mas educacionais, sociais e econômicos. E é claro que essa posição de ruptura gerou consequências. Quatro anos depois, em 1521, Lutero foi considerado herege pela igreja. O mundo passava por um momento de importantes transformações, com as grandes navegações, o advento da imprensa, que facilitava a difusão das ideias, entre outras. Este contexto criou as bases para a reforma.
"Lutero é um dos personagens. Não é ele que vai fazer esse movimento do século XVI. Ele é uma pessoa que pode catalisar as aspirações que se fazem presentes no momento", afirma Martin Dreher. Pastor luterano e historiador, ele é autor do livro 'A crise e a renovação da igreja no período da reforma', lançado em 1996 pela editora Sinodal. Dreher fala em uma "reforma religiosa".
"Não foi só uma coisa dos luteranos. Atingiu também a igreja católica, que passou por uma grande reforma, no Concílio de Trento. E deu origem também ao calvinismo, na Suíça, e aos anabatistas, grupo mais radical". As ideias defendidas por Lutero se difundiram pela Europa. Como resultado, a venda de indulgências caiu, reduzindo os ganhos da igreja e também de casas bancárias, que lucravam com a venda.
"Lutero foi acusado de heresia, por dizer que o papa não tem o direito de vender perdão. Em 1521 ele vai ser considerado herege e declarado proscrito pelo imperador Carlos V. Quer dizer que perde os direitos políticos e à vida."
Lives no domingo
As congregações luteranas realizam cultos em referência à data.
No domingo (31), às 19 horas, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) promove uma live com sua presidente, pastora Silvia Beatrice Genz, e o pastor Martin Dreher. O tema são os 200 anos da presença luterana no Brasil, que se completarão em 2024. A transmissão será pelo canal do YouTube do Sínodo Planalto.
A Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) promove a live "Eu assino", que marca o lançamento da nova edição do Livro de Concórdia. A obra, de 1580, compilou as ideias da reforma e foi traduzida para a língua portuguesa em 1980. A edição atualizada é um lançamento das editoras Concórdia e Sinodal, das duas igrejas.
"Lutero foi um grande revolucionário"
Para o pastor Geraldo Schüler, presidente da IELB, era do interesse da igreja da época manter a população na ignorância. O acesso à educação era restrito à nobreza e ao clero.
"Ele contrariava os interesses da classe dominante, que estava satisfeita em manter o povo na ignorância", afirma.
O pastor destaca o legado educacional da reforma, como a defesa do acesso de todos à educação. "A educação é que faz toda a diferença na vida das pessoas e em uma nação. Lutero foi um grande revolucionário, um cara muito à frente da sua época", define.
Schüler compreende que o sentimento que primeiro moveu Lutero foi o medo de morrer e a incerteza sobre se Deus o receberia no céu. Para ele, o principal benefício da reforma foi o fim desse sentimento.
"Isso faz toda a diferença na vida da pessoa, porque ela pode ter a certeza de que Deus está com ela aqui no mundo e que ela estará com Deus no céu. Não porque ela merece, mas porque Deus é gracioso, amoroso e concede isso a todo aquele que crê."