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Notícias | Região BARBÁRIE

'Nunca chorei tanto', diz pai de adolescente que matou cão ao vivo

Jovem de Lindolfo Collor foi internado após depoimento à delegada Raquel Peixoto, que sofre ameaças

Por Silvio Milani
Publicado em: 29.12.2021 às 03:00 Última atualização: 29.12.2021 às 10:14

O morador de Lindolfo Collor de 17 anos que chocou o País ao torturar e matar um cachorro ao vivo, na véspera de Natal, prestou depoimento na tarde de ontem e foi internado no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) de Novo Hamburgo. "Nunca chorei tanto como hoje", desabafou o pai, um pedreiro de 44 anos, ao ver o filho nas mãos da Polícia.

Bermuda, faca, martelo e celular usados na live foram apreendidos um dia depois do crime na casa da mãe
Bermuda, faca, martelo e celular usados na live foram apreendidos um dia depois do crime na casa da mãe Foto: Polícia Civil

A delegada Raquel Peixoto, responsável pela DP de Ivoti, alerta para uma rede nacional de crimes informáticos que recruta jovens por aplicativos de jogos on-line. Ela recebeu pelo menos quatro ameaças de morte, entre segunda-feira e ontem, com links em redes privadas aos quais a reportagem teve acesso. Em duas, é usado o perfil do adolescente investigado, identificado pelo apelido dele.

Raquel, que apura o caso desde o Natal, ouviu ontem o menor
Raquel, que apura o caso desde o Natal, ouviu ontem o menor Foto: Arquivo GES
"Vou acabar com a tua vida", diz outra postagem, enviada diretamente à delegada por um homem que se identifica como Alessandro Rodrigues. As intimidações teriam partido de financiadores do grupo que pagam jovens para cometer atrocidades, como a do menor lindolfo-collorense. "A gente jamais recuaria por ameaças. Essa investigação vai muito longe." A suspeita é de autoridades envolvidas na rede de sadismo, que também tem pedofilia, necrofilia e bizarrices de todo gênero, passando ainda pelo crime organizado, como venda de moeda falsa e tráfico.

Tratamento

Já a família está apavorada. "Eu estudei só até a quarta série e não sei mexer com computador. Meu filho tem depressão e ansiedade desde pequeno. Nunca faltou tratamento e medicação, mas a gente não consegue saber tudo o que faz. É terrível o que ele fez. Não sei o que deu na cabeça do piá. Ainda não caiu a ficha."

O pedreiro garante que o filho não é o autor das ameaças à delegada e de metralhar escola, algumas feitas com o perfil dele. "Depois que apreenderam as coisas (faca, martelo e celular usados na live), cedinho na manhã de Natal, a gente não deixou ele chegar perto de Internet. Só podem estar se passando por ele."

O pai frisa que o jovem também não fica sozinho desde então. É também por medo dos caras fazer mais mal a ele. Tem muita coisa por trás e querem tirar o corpo fora pra jogar toda culpa no meu piá."

Exposição nas redes assusta família do acusado

Quando o vídeo da morte brutal do animal vazou por meio de hacker do Vale do Sinos defensor da causa animal, conforme revelado ontem pelo Jornal NH, dados do adolescente e da família
foram disseminados nas redes sociais. “Estou muito abalado. Fizeram um grupo com minha foto, da minha nenê, minha menina, filhos. Estão retribuindo maldade com mais maldade. Sempre criei meus filhos direitinho, com muito trabalho, e agora a gente se vê julgado por todo mundo.”

Ele salienta que, quando viu o adolescente com os braços cortados por automutilação, há menos de dois meses, o levou a uma psicóloga. “Ele sempre teve problemas, mas nunca imaginamos que ainda faria essa coisa com um cachorrinho."

Irmão mais velho dá versão

Também trabalhador da construção civil, o irmão mais velho, de 23 anos, conta o que teria acontecido. E frisa que o adolescente estava escondendo os fatos da família. “Ele entrou num grupo do Discord sem saber o que acontecia ali. Até que um dia pegaram todos os dados
dele e da minha mãe. Mandaram pegar um dos nossos três cachorros e matar em live, mas ele se negou. Com fotos da família, endereços e outros dados, ameaçaram até nossa mãe, até que meu irmão acabou cortando os braços como castigo. A pressão foi aumentando e foi pegar o cachorro de rua para fazer tudo aquilo. Para piorar, mandaram escrever o nome do grupo na parede com foto do cachorro morto.”

Policial destaca frieza em detalhes

No depoimento de uma hora na Central de Polícia de Novo Hamburgo, acompanhado de advogado, o investigado confessou com frieza. "Ele se mostrou muito tranquilo. Contou detalhes que ainda não sabíamos. Falou que aumentava o dinheiro para cada desafio, como automutilação e a morte do animal. Contou que era pago em 'CC', que significa cartão clonado."

Promotor explica medida

A internação provisória foi pedida na madrugada de ontem pelo promotor de Dois irmãos, Wilson Grezzana, plantonista do Ministério Público na região, e aceita pela manhã pela juíza de Ivoti, Larissa de Moraes Morais. Às 14 horas, no depoimento à delegada Raquel Peixoto, que coordena a investigação desde o Natal, os responsáveis foram informados da medida. Depois o adolescente foi levado para exame médico e à Case, onde ficará em isolamento por no máximo 45 dias. Até lá deve sair a sentença, que em caso de menor não pode ser superior a três anos.

"Em virtude desse ato abominável que choca a todos e às ameaças feitas nas redes sociais mesmo depois do cumprimento de mandado de busca e apreensão", solicitei a internação provisória, declara o promotor. Ele se refere aos avisos, pelo perfil do menor, de que metralharia uma escola. "Se faz ameaça três dias depois de ter matado, decapitado, ter colocado a mão dentro do pescoço do cachorro em live, a gente não pode esperar para ver. Há um contexto."

Em nota, aplicativo condena crime

O aplicativo, em nota enviada ontem à redação, frisa que é contra crimes em suas plataformas. “O Discord tem uma política de tolerância zero contra o compartilhamento de imagens de crueldade contra animais. Quando nos deparamos com tal atividade, tomamos medidas imediatas, incluindo banir usuários e desligar servidores, e nos envolver com as autoridades
policiais quando apropriado.”

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