A localização de ossada enterrada na localidade de Pega Fogo, no interior de Taquara, na manhã desta terça-feira, deu fim às buscas à moradora de Parobé Eduarda Borges Fagundes, 16 anos. Para a Polícia Civil, ela foi morta a tiros, queimada e enterrada na noite de 9 de dezembro, quando desapareceu. Uma hora antes de desencavar o cadáver, os agentes prenderam o ex-namorado, de 21 anos, em Sapiranga. Em princípio, segundo o delegado de Sapiranga, Fernando Pires Branco, se trata de feminicídio. “Estamos apurando ainda.”
Desova
De Sapiranga, os policiais foram para Taquara, quase no limite com Parobé. Pega Fogo é uma extensa área de sítios, com poucas residências, e conhecida pela desova de corpos e carros roubados. Por meio de informações anônimas obtidas após a captura do suspeito, conforme o delegado, a equipe chegou ao possível local da cova, em meio à vegetação, por volta das 8h30. Os restos mortais estavam enterrados a um metro do solo encharcado. “Estava parcialmente queimada e com pelo menos um disparo de arma de fogo no crânio”, descreve Branco.
Cadáver vai à perícia para confirmação
O cadáver estava com as mesmas roupas usadas pela vítima quando desapareceu e todas as informações convergem para que seja ela, mas o delegado quer a certeza científica da identidade. “Foram coletadas amostras do corpo. Apenas a perícia poderá confirmar que se trata da Eduarda", salienta.
Branco acrescenta que o laudo também deverá apontar a causa da morte. “O preso disse que a matou com um tiro na cabeça. O que encontramos no corpo condiz com o que ele falou. O avançado estado de decomposição indica que foi morta no dia em que desapareceu.” O acusado declarou aos policiais que o homicídio aconteceu onde o corpo foi encontrado. “Isso merece uma apuração mais detalhada", acrescenta.
Encontro marcado e carro deram pistas
Nos 40 dias de desaparecimento, conforme o delegado, foram sendo colhidos vários indícios que colocaram o ex-namorado no mesmo local da vítima, nos possíveis horários dos fatos. “Com isso, solicitamos à Justiça a prisão dele.” A começar pela última vez que Eduarda foi vista. Ela contou que estava indo se encontrar com Zoreia, a convite dele, apesar do suspeito ter negado, no decorrer das investigações, ter visto ou entrado em contato com a adolescente no período. Declarou que a última conversa com Eduarda foi no dia anterior ao desaparecimento.
A identificação do carro usado no crime, conforme Branco, também foi crucial. Era um Gol cinza, do modelo bolinha. Câmeras de vigilância captaram, no dia anterior ao desaparecimento, Zoreia ao volante do automóvel. Ao ser apreendido, na semana passada, estava sem os vistosos adesivos no lado direito do para-brisa dianteiro, mas um pequeno decalque no outro canto permanecia. E o principal. Era a mesma placa. “Há outros elementos de investigação, apurados através de intenso trabalho de inteligência policial, que não podemos revelar no momento.”
Participação de outras pessoas é investigada
Dentro do contexto de sigilo que envolve o inquérito, o delegado adianta que é apurada a possibilidade de envolvimento de mais pessoas no crime. "Não nos resta dúvidas de que o ex-namorado é o autor. A investigação permanece em curso para obter mais provas e identificar a participação de outros indivíduos no fato.”
Caso tenha recebido ajuda, Zoreia teria contado com comparsas do tráfico, principalmente na carbonização do corpo, para apagar vestígios. "Tudo indica que a morte de Eduarda se trata de um crime passional. Estamos trabalhando ainda, mas a prisão do autor e o que foi encontrado são um bom avanço", ressalta. Segundo o delegado, não ha relatos ou ocorrências sobre brigas entre o ex-casal.
Irmã relata dor e angústia
Ao saber do encontro do cadáver, parentes e amigos de Eduarda postaram o abatimento nas redes sociais. Uma tia, tomada pela emoção em conversa com a reportagem, foi sucinta. “A dor é muito grande. A gente não está em condições de falar.”
A irmã, Bruna, publicou notícias sobre o triste desfecho o luto estampado no perfil. Há três dias, relatou a angústia: “cada dia que se passa a angústia só aumenta, não tem um dia que vc não é Lembrada. Todos os dias nos perguntamos onde vc está minha irmã. Ontem foi o aniversário da mãe, não falei nada pra ninguém pra não estragar a noite, mas quando eu comia lembrava de vc. Peço a Deus nas minhas orações que logo podemos saber uma notícia sua. A Dor é horrível saber que a irmã mais nova não está aqui mandando msg, que nem vc mandava todos os dias. As crianças perguntando de vc quando vai voltar e eu sem graça falo que logo. Uma tristeza que já dura 1 mês e 5 dias sem nenhuma resposta de onde vc está…. Eu te amo minha irmã Eduarda.”
“Quem me protege não dorme”
Nos últimos dias antes de desaparecer, Eduarda fez duas postagens no Facebook. “Quem me protege não dorme”, escreveu, em 24 de novembro. No dia 5 de dezembro, foi a vez de uma reflexão: “A verdade é… já cometi muitos erros no passado, mas não deixei que eles me definissem. Cresci e aprendi com meus erros. Não sou a mesma pessoa de ontem. Ainda sou eu, mas melhor e mais sábia.” Na mesma publicação, após o desaparecimento, amigos se manifestavam: “Bom dia, Eduarda, dê notícias para sua mãe, coitada dela. Ela está angustiada, quer saber notícias de você.”