Em trânsito. Pensar em Bebeto Alves é perceber um artista que deixa a arte vazar. Um artista que vai irrigando o seu tempo sem deixar que a sede seja totalmente aplacada. Bebeto Alves faz música, artes visuais, cinema, fotografia, atua como produtor, gestor público na área de cultura. Ele está na galeria de arte, está no bom e velho 3 em 1. Está virtual. Está atrás da tela, sobre a tela. Está com a câmera na mão. Está equalizando sonoridades. Está em vertigem. E agora está lançando um novo disco. O álbum Contraluz. Músicas para espelhar os tempos de sombras e luzes.
"Foi um processo um pouco diferente do que estava acostumado. Me pegou surpreso ao experimentar algumas coisas e descobrir as canções, que vieram meio que de roldão nesse ano que passou. Não esperava gravar tão cedo, foi um curto espaço de tempo entre os de maio de 2020, Salvo 79/80 e Pela Última Vez, e esse Contraluz, final de 2021. Mas foi um período em que essas canções se tornaram 'aquilo que eu gostaria de dizer' e por isso imprescindíveis", destaca o artista sobre o processo do álbum.
Instrumentos
Ele conta que entrou para o estúdio para fazer o registro das canções e para gravar tudo. Tudo. Todos os instrumentos sozinho dentro do estúdio. "Acho que o inspirador e estimulante foi descobrir nesse processo o âmago das músicas, saber o que elas realmente precisavam. Foi mais um processo de eliminar coisas do que acrescentar. Ao final, senti uma sensação de completude e liberdade que nunca tinha sentido antes."
E o artista também está em movimento com uma nova forma de relacionamento com a rede, especialmente de distribuição do álbum. "Não queríamos e não queremos mais entregar nosso material para essas grandes plataformas de streaming, pois aprendemos que não estamos ganhando absolutamente nada ou muito pouco. Criamos a nossa. Estamos em processo ainda, mas o único lugar dentro da rede onde se pode encontrar esse conteúdo é nessa plataforma: Clube Bebeto Alves, na loja virtual ProdutoOficial. Estamos no caminho certo, acredito eu. É um desafio, mas que vale a pena. Ali se encontra o disco em vários formatos incluindo em CD."
E dentro do espectro da poética sonora, as parceiras. Parcerias, como revela o artista: ‘do que gostaria de dizer’. “Li um poema do Carlos Eduardo Caramez e me descobri nele, em Desconversa. O Alexandre Vieira, um pouco antes de falecer, me enviou a música que transformei, ao escrever a letra, em Aque D’el Rei, um pedido de socorro e a constatação do que realmente somos feitos. A Renata Arruda, minha parceira paraibana, nesse meio tempo, me envia a música e me pergunta: ‘Ai parceiro, coloca uma daquelas suas letras maravilhosas nessa aí?’. E, foi. No outro lado musiquei, adaptei musicalmente, o livro do poeta uruguaio Atilio Perez Acunha, o Macu, Ontheroadagain, velho amigo e parceiro, que também nos deixou nesse período pandêmico. Essa música foi um pedido feito pelas pessoas, envolvidas, lá em Montevidéu, em um projeto que homenageia o poeta. O projeto é para esse ano. Musiquei um poema do meu velho e saudoso amigo Cao Trein. E, por último a parceria com o Gelson Oliveira. Escrevi uma letra para ele, enviei e ele musicou.