Publicidade
Botão de Assistente virtual
Notícias | Região FURTO DE LUZ

Cidades da região estão entre as campeãs de ‘gatos de energia’ em 2021

No ano passado, RGE regularizou quase 25 mil fraudes em sua área de concessão

Por Renata Strapazzon
Publicado em: 16.02.2022 às 06:52 Última atualização: 16.02.2022 às 10:42

Moradora do bairro Cohab, em Sapucaia do Sul, uma dona de casa de 58 anos, que pede para não ser identificada, diz conviver há algum tempo com a instabilidade na energia elétrica na residência onde mora com o esposo e dois filhos. “De vez em quando, a luz começa a piscar. O transformador do poste estoura e nós ficamos sem luz. Tudo isso por causa da invasão, que puxa muito com os gatos”, opina. O problema denunciado pela dona de casa é o mesmo que faz com que a RGE invista em inspeções e ações, inclusive em parceria com a Polícia Civil, contra fraudes e furtos de energia.

RGE e Polícia Civil trabalham juntas para combater furto de energia elétrica
RGE e Polícia Civil trabalham juntas para combater furto de energia elétrica Foto: Polícia Civil/Especial

Somente no ano passado, a distribuidora realizou 124,1 mil inspeções em 375 municípios de sua área de concessão. Foram identificados 9,1 mil gatos. Entre as cidades com mais casos estão Canoas, com 1.066, São Leopoldo, com 917 e Caxias do Sul, com 824 ligações clandestinas desfeitas. Na lista dos 10 municípios atendidos pela empresa e com maiores números de fraudes em 2021, há, ainda, outras duas cidades da região: Sapucaia do Sul, em sexto lugar, com 532 fraudes identificadas e Esteio, em décimo, com 204 gatos desfeitos nas inspeções.

Os números do ano passado mostram que, na comparação com 2020, a RGE aumentou o total geral de fraudes regularizadas, passando de 21.584, para 24.774. As inspeções contra fraudes e furtos de energia, realizadas em 2021, segundo a concessionária, resultaram em 154,7 Gigawatt-hora (GWh) de energia recuperada, o que abasteceria cerca de 70 mil residências, por um ano.

“Infelizmente, a cada ano, vemos que a prática das ligações irregulares de energia continua. Nosso papel, como distribuidora, é realizar as inspeções para combater essa prática. O uso de tecnologia de ponta tem nos permitido aumentar as constatações de irregularidade em determinados clientes, o que nos alerta sobre a prática do gato. Assim, as inspeções são cada vez mais efetivas”, comenta o gerente de recuperação de energia da CPFL Energia, Victor Rios Silva.

.

 

Prisões e denúncias

Segundo a CPFL, as distribuidoras do grupo realizam inspeções para combater fraudes e furtos de energia de maneira contínua. Algumas ações são realizadas em parceria com a Polícia Civil. As razões centrais para essas operações, conforme a empresa, são a segurança e a justiça com os demais clientes.

Em São Leopoldo, de acordo com o delegado titular da 2ª Delegacia de Polícia da cidade, Rodrigo Zucco, somente no ano passado, as operações de combate ao furto de energia elétrica realizadas pela DP junto com a RGE, resultaram em prisões, dentre elas, as de 22 empresários, em diferentes bairros, como Scharlau, Rio dos Sinos e Santos Dumont.

“O furto de energia é um delito que acarreta o aumento da conta de luz de todos os cidadãos. Estima-se que 30% do valor das contas está para cobrir os desvios e ligações clandestinas”, comenta o delegado. “A investigação deste tipo de delito se torna difícil pois ele é praticado no interior dos estabelecimentos. Por isso, é importantíssimo as denúncias. Na delegacia, temos um telefone com WhatsApp, onde elas podem ser feitas de forma anônima”, completa Zucco, informando o contato (51) 99769-1818 para denúncias.

Perdas para todos

De acordo com o grupo CPFL, a rede de energia segue padrões e normas de segurança para a sua construção e manutenção, incluindo as novas ligações de energia. Por isso, somente técnicos da distribuidora podem atuar na rede. Para que justiça seja feita, a energia furtada compõe parte da tarifa de energia elétrica. Ou seja, os clientes regulares, que pagam suas contas em dia, acabam também arcando com o custo de parte da energia que é furtada. Outra parte é assumida pela distribuidora.

“O furto de energia traz perdas comerciais para todos: clientes regulares, poder público e distribuidora de energia. Além da questão financeira, as ligações clandestinas geram instabilidade ao sistema elétrico, podendo levar a desligamentos e problemas em equipamentos, como transformadores. Por isso, incentivamos as denúncias anônimas dos clientes que sabem ou desconfiam de ligações irregulares”, completa o gerente de recuperação de energia da CPFL, Victor Rios Silva.

'Tenho medo, mas o que eu vou fazer?'

Moradora de uma ocupação em Sapucaia do Sul, uma autônoma de 49 anos que pede para não ser identificada, diz que convive com gato de energia na residência onde mora com os filhos, de 9 e 12 anos, há pelo menos oito anos. Segundo ela, de lá para cá, muitos eletrodomésticos já foram perdidos por conta da instabilidade na voltagem da energia.

“A luz era para entrar 220 (volts), mas entra 170,160 e queima tudo. Não tenho TV para olhar em casa. Desde que vim morar aqui já queimei três TVs, máquina de lavar, geladeira e inúmeras lâmpadas, que queimam a toda hora. É um horror. Isso quando não estoura o transformador e ficamos um dia, uma tarde, uma noite sem luz. Só este ano já estourou quatro vezes o transformador aqui perto” conta.

Na comunidade onde vive, ela diz que cada morador é responsável por fazer o próprio gato, mas que há parceria entre vizinhos. “Os vizinhos se juntam entre quatro ou cinco para puxarem o gato e dividir entre as casas. No meu caso, comprei meus fios e puxei o gato. Da minha casa ramifica para mais três. Contando com a minha, então, são quatro casas num gato só”, explica.

A moradora diz saber que o que faz é errado e que pode ser cobrada por isso, mas afirma que já tentou regularizar a situação e não conseguiu, por morar em uma área de invasão. “Tenho medo, mas o que eu vou fazer? A gente precisa de luz. Já estive na RGE para fazer a ligação da luz, mas eles não fazem. Talvez tentem me responsabilizar um dia por isso, mas não sei se vão conseguir. Eu me disponibilizei a colocar a situação em ordem, instalar um poste, a pagar, mas eles não ligam. Medo eu tenho, mas acho que não vai acontecer e, se acontecer, a gente vai se defender”, ressalta.

A autônoma conta, ainda, que outras preocupações são constantes na vida dela e dos demais moradores do local. “Quem mora em ocupação tem medo de muito mais coisa, não apenas de ser cobrado por uma energia que tu estás desviando. Eu, principalmente, tenho muito medo de uma hora para a outra vir uma ordem judicial, como ocorreu em 2017, e que foi horrível. Era cena de guerra entro da comunidade. A retroescavadeira passando por cima das casas sem justificativa alguma. Só dando tempo de as pessoas retirarem o próprio corpo de dentro das casas”, recorda.

“O medo é constante. Todo o dia a gente acha que vai vir um oficial de Justiça na nossa porta. Que alguém vai vir nos incomodar, que vai ser cobrado por alguma coisa. O nosso medo aqui não é só por causa da energia”, completa.  

Saiba mais

Fraudes e furtos de energia são crimes previstos no Código Penal. As penas podem chegar a até quatro anos de prisão. Além disso, a pessoa que for flagrada cometendo a irregularidade, terá cobrados os valores retroativos referentes ao período em que deixou de pagar pelo fornecimento. Vale destacar também que a ligação clandestina é considerada furto de energia.

As irregularidades também deixam a conta de luz mais cara para todos os consumidores, já que a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) reconhece a ação como uma "perda comercial", e este valor “perdido” é rateado entre todos os consumidores da distribuidora. Outra consequência das fraudes e furtos é a piora na qualidade do serviço de distribuição de energia, uma vez que as ligações clandestinas sobrecarregam as redes da distribuidora de energia.

Clientes da RGE podem contribuir de forma sigilosa, para o combate às irregularidades por meio dos canais disponibilizados pela concessionária. Denúncias podem ser realizadas pelo aplicativo “CPFL Energia”, disponível para todas as plataformas de dispositivos móveis, pelo site www.cpfl.com.br/fraude, ou pelo e-mail denunciafraude@cpfl.com.br

A maioria das inspeções realizadas pela RGE parte de um levantamento prévio, feito por sistemas tecnológicos e que usam inteligência artificial. Através de dados de consumo, a distribuidora consegue mapear clientes que tiveram oscilações incomuns na quantidade de energia consumida. Com este levantamento e cruzamento de dados, as inspeções em campo se tornam cada vez mais assertivas.

TAGS: gato região
Gostou desta matéria? Compartilhe!
Encontrou erro? Avise a redação.
Publicidade
Matérias relacionadas

Olá leitor, tudo bem?

Use os ícones abaixo para compartilhar o conteúdo.
Todo o nosso material editorial (textos, fotos, vídeos e artes) está protegido pela legislação brasileira sobre direitos autorais. Não é legal reproduzir o conteúdo em qualquer meio de comunicação, impresso ou eletrônico.