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Notícias | Região DEMORA E INCERTEZAS

Nova ponte do Guaíba segue inacabada, apesar de ter sido inaugurada há mais de um ano

Dnit faz bloqueios para obras, mas nelas não estão contempladas alça de acesso e retirada de famílias

Por Eduardo Amaral
Publicado em: 16.04.2022 às 08:00 Última atualização: 17.04.2022 às 18:43

Era 10 de dezembro de 2020 quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) desembarcou em Porto Alegre para inaugurar a segunda Ponte do Guaíba. A obra foi iniciada ainda no governo de Dilma Rousseff (PT) e prometia desafogar o trânsito na ligação da capital com o Sul e o Oeste do Estado. Apesar da cerimônia que contou com a presença de autoridades locais e nacionais, a liberação parcial do trânsito não significava que a obra estava realmente concluída.

Nova ponte do Guaíba segue inacabada, apesar de ter sido inaugurada há mais de um ano
Nova ponte do Guaíba segue inacabada, apesar de ter sido inaugurada há mais de um ano Foto: Arquivo pessoal

Já naquele momento um impasse que surgiu quando a obra iniciou se mostrava sem solução: o destino das famílias atingidas pela construção. Inicialmente, a reclamação vinha dos dois lados do Guaíba. Na Ilha Grande dos Marinheiros, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) chegou a um acordo com as 306 famílias, que aceitaram a proposta de compra assistida. Estava assim solucionado o impasse para a construção das alças de acesso para quem se desloca do interior para Porto Alegre. Mas ainda havia um impasse a ser resolvido: o destino do outro lado do Guaíba.

Na zona norte de Porto Alegre, três ocupações abrigavam, entre 2014 e 2018, cerca de 400 famílias. As comunidades Areia, Tio Zeca e Cobal ficam localizadas justamente onde se pretendia construir as alças de acesso à ponte para os motoristas de Porto Alegre.

Regiões extremamente carentes, com casas construídas no improviso que concentram famílias de catadores. Este é o cenário das três comunidades localizadas entre as avenidas Frederico Mentz e Voluntários da Pátria.

As promessas de solução se acumularam ao longo do tempo, mas 15 meses depois de inaugurada a obra, o Dnit vem fazendo uma série de bloqueios na ponte para que, segundo o órgão, ocorram trabalhos de finalização da obra antes de ela ser entregue em definitivo à autarquia. Mas entre as obras no pavimento, de drenagem e implantação de guarda-rodas, não há qualquer previsão para a construção das alças de acesso que faltam ou definição de futuro às famílias que vivem nas três comunidades.

Sem perspectiva

Líder comunitária e moradora da Comunidade Cobal, Patrícia Maria Barreto, 36 anos, relata que o número de moradores da região já mudou bastante, e projeta que atualmente há mais 1,2 mil famílias vivendo nas três comunidades.

Segundo ela, o aumento no número de famílias é uma consequência da demora do poder público em definir o destino das pessoas que vivem no local. "O que aconteceu nesses anos é que houve desmembramentos familiares, pessoas que saíram do aluguel e não conseguiram manter durante a pandemia e vieram morar na casa de um amigo, um parente em um puxadinho", relata.

Profissional da reciclagem e presidente de uma cooperativa do setor, Núbia Luísa Vargas dos Santos, 33 anos, vive desde criança na Cobal e vai ao encontro de Patrícia ao exemplificar o crescimento natural da comunidade. "Minha filha tinha 10 anos quando fiz o cadastro. Hoje ela está fazendo 15 anos e daqui a pouco ela vai querer um cantinho e eu, com um pátio mais ou menos, vou construir um puxadinho e ela vem morar comigo."

Moradores querem indicar imóvel

Três foram as opções dadas aos moradores para a desocupação da área: indenização pelos imóveis e terrenos, construção de um conjunto habitacional, ou a chamada compra assistida. Patrícia diz que os moradores da região já optaram pela compra assistida, que consiste na indicação de um imóvel por parte dos atingidos pela obra e o pagamento feito pelo responsável pela indenização.

"Normalmente os condomínios populares em Porto Alegre são tomados pelo tráfico e eles acabam perdendo suas moradias. E a gente não quer voltar para a periferia. Já que a gente tem a oportunidade de ter uma moradia digna, muitos querem voltar para o interior, para a cidade dos seus pais, sair de Porto Alegre, dessa criminalidade", explica ela sobre os motivos da escolha.

Procurador do Ministério Público Federal (MPF), Enrico Rodrigues diz que os moradores da zona norte de Porto Alegre devem ter tratamento igual ao dado para os moradores da Ilha dos Marinheiros durante a obra. "As famílias têm que ter as mesmas condições os mesmos valores do dispensado às famílias da Ilha", afirma, lembrando que no caso citado as indenizações giravam entre R$ 150 mil e R$ 180 mil. De acordo com o Enrico, cabe à comunidade escolher qual o melhor meio de serem ressarcidos pelo desalojamento.

"Vão reinaugurar uma ponte que não acabou", critica moradora

Sem receber o dinheiro para a mudança, resta às pessoas que residem nas três comunidades viver de maneira improvisada, com pouca estrutura do poder público. "Nós não temos água, a luz é precária, a nossa comunidade já deveria ter sido removida entre os anos de 2019 e 2020", diz Patrícia, que reclama do descaso e falta de atendimento por parte dos governos.

Com o silêncio das autoridades, restam incertezas aos moradores. "Estão dizendo que provavelmente não vão nos dar a compra assistida e vão fazer a reinauguração. Só que vão reinaugurar uma ponte que não acabou", teme Patrícia.

Procurado, Dnit não se posiciona sobre destino das famílias

O Grupo Sinos contatou a superintendência do Dnit quatro vezes nos últimos dias, buscando uma posição sobre as obras e o caso das famílias instaladas onde seriam as alças de acesso. No dia 11 a assessoria de imprensa atendeu a reportagem e, por telefone, afirmou que aponte já está liberada para o fluxo de veículos e que as obras que serão feitas até maio seriam apenas os ajustes finais. Sobre o destino das famílias, não houve resposta conclusiva. Representantes do governo vêm dizendo que a ponte só será totalmente concluída depois que a BR-290, sentido fronteira, for concedida.

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