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Notícias | Região CRIME SEXUAL

Burocracia da Prefeitura prejudica investigação de estupro de jovem no Centro de Novo Hamburgo

Suspeito de violentar universitária de 22 anos teria tomado café na assistência social do Município, que não passa informações à Polícia

Por Silvio Milani
Publicado em: 14.07.2022 às 08:01 Última atualização: 14.07.2022 às 18:49

Uma universitária de 22 anos foi estuprada no Centro de Novo Hamburgo, na última sexta-feira (8), e a Polícia Civil descobriu, nesta terça-feira, que o suspeito estaria sendo atendido em órgão da assistência social do Município. Desde então, os agentes tentam acesso ao cadastro do serviço, por meio de pedidos pessoais e ofícios entregues na Prefeitura, que até esta quarta-feira (13) não havia disponibilizado os dados. Os investigadores estão perplexos. A família da vítima, abalada e traumatizada, não se conforma. Após contato da reportagem, no início da noite, a Prefeitura afirmou que as informações foram liberadas e serão enviadas hoje à Polícia.

Burocracia da Prefeitura prejudica investigação de estupro de jovem no Centro de Novo Hamburgo
Burocracia da Prefeitura prejudica investigação de estupro de jovem no Centro de Novo Hamburgo Foto: Arte Gabriel Renner
"A cada dia que passa ele pode fazer uma nova vítima. Tem que ser preso imediatamente. Estamos atrás, com alerta a todas as forças de segurança pública, mas tivemos acesso negado a informações cruciais para a possível identificação do estuprador", declara um policial que pede para não ser identificado. Agentes da Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher (Deam) apuraram que um suspeito, logo após o estupro, tomou café no Centro de Referência Especializado em Assistência Social para a População em Situação de Rua (Centro Pop), que fica perto do local do crime. O homem tem as características físicas descritas pela vítima.

Ofícios

Uma equipe da Deam foi ao Centro Pop na manhã de terça e explicou a necessidade urgente de ver a relação de atendidos. Saiu sem as informações e com a orientação de fazer o pedido por meio de ofício. Quando os agentes voltaram com o papel oficial, receberam nova diretriz. Era necessário protocolar na Procuradoria-Geral do Município (PGM), que funciona na Prefeitura. Foi providenciado, porém com outro entrave. Os policiais foram informados que demoraria três dias para uma resposta, sem a garantia de que a solicitação seria deferida.

Diante da inconformidade, houve contatos entre autoridades das instituições em busca do bom senso e foi acenado pela liberação na tarde desta quarta. No entanto, perto da hora combinada, os policiais foram informados que minúcias do último ofício não estavam em conformidade. Foi feito mais um, levado por um agente à Prefeitura no fim da tarde. Ele disse no setor que esperaria para ir embora com os dados. A resposta foi um novo revés: "não adianta aguardar porque vai ter que ser analisado ainda". E assim terminou o segundo dia da busca frustrada pelo cadastro do Centro Pop.

Corrida contra o tempo 

Em razão das buscas, os investigadores temem que o suspeito tenha sido alertado por outros moradores de rua e fugido. A delegada da Deam, Raquel Peixoto, admite que a dificuldade de acesso à informação é entrave à investigação, mas prefere não polemizar. "Estamos empreendendo todos os esforços no sentido de chegar à autoria e elucidar esse crime revoltante."

Fique atento

O estuprador é negro, tem idade aproximada de 22 anos e 1,65 metro de altura. É bem magro. Não usava barba. Apenas bigode ralo. Também tinha um coque no cabelo. Vestia calça e camisa de manga comprida com cores neutras, além de máscara branca. Seria dependente químico que costuma comprar droga nas imediações do bairro Boa Saúde.

Estanciense foi atacada a caminho do trabalho 

Moradora de Estância Velha, a universitária foi deixada pelo pai em parada de ônibus da cidade para transporte a Novo Hamburgo. Já na antiga rodoviária, no bairro Rio Branco, ela desceu do coletivo para o trajeto diário: uma caminhada até a parada do Big, na Avenida Nicolau Becker, onde pegaria ônibus para a empresa. Antes de chegar ao ponto, por volta das 6h30, foi abordada pelo estuprador, armado de faca.

O criminoso mandou ela fazer um pix. A jovem argumentou que só tinha 600 reais na conta, mas que não podia sacar no momento. O homem seguiu ao lado e abraçou a vítima sob argumento de que era para disfarçar. Caminharam da esquina da Rua Casemiro de Abreu com a Nicolau Becker, já perto da parada, até a Rua Carlos Gomes. Dobraram à esquerda e foram até a esquina com a Rua Avaí. "Agora vamos ter que transar", disse o assaltante. E estuprou a jovem. Ele ainda voltou com pelo mesmo caminho com a vítima, que ficou perto da parada. O criminoso sumiu na direção da igreja.

Vítima fez exames e tomou medicação 

Atordoada, a vítima pediu ajuda. Ela garante que é capaz de reconhecer o estuprador. Disse que ficou sêmen no local do crime. Depois do registro da ocorrência, ela fez exame de corpo de delito, onde foi coletado material para confrontação de DNA de suspeitos. A jovem também foi medicada com um coquetel contra doenças sexualmente transmissíveis. Está psicologicamente abalada, com pesadelos e dificuldade para dormir. Foi liberada do trabalho por uma semana.

“Estão protegendo o monstro que fez isso com minha filha?”

O estanciense de 55 anos conta que não há palavras para descrever o que a filha está passando. O pai, que acompanha de perto as investigações, acrescenta que a dor aumenta ao ver o obstáculo a informações para chegar ao estuprador. “Estão esperando acontecer com outra pessoa? Estão protegendo o monstro que fez isso com minha filha?”

Como está sua filha?

Pai – Bastante abalada, triste, deprimida. Fui à empresa onde trabalha e deram uma semana para ela se recuperar. Estamos tentando reverter um pouco essa situação, com psicóloga, porque é horrível.

E o senhor?

Pai - Do momento em que fiquei sabendo até agora, não consigo dormir direito. É inaceitável. Moramos em Estância Velha. Deixo minha filha na parada para começar o trajeto ao trabalho em segurança. Fui na segunda de manhã observar a área onde ela foi atacada e vi muitas gurias, do mesmo porte da minha filha, que é miudinha, passando por ali desprotegidas. Fiquei uma hora ali no horário de pico e não vi uma viatura. Não tem segurança.

Está acompanhando a investigação?
Pai – Estou todo dia cobrando a Polícia. Minha filha é uma menina dedicada ao trabalho e ao estudo. Sempre cuidei dela, dando estudo, e nunca imaginei que fosse acontecer uma coisa dessa. Estou correndo atrás de informações pra isso não ficar assim. Quero ver essa pessoa que fez isso atrás das grades. E a Polícia já podia ter o nome do suspeito se aquele lugar onde toma café tivesse passado as informações. A gente não se conforma com tudo que vem acontecendo. É muito triste. Revoltante.

Administração municipal emite nota

Questionada às 18h05 desta quarta pela reportagem, a Prefeitura respondeu às 19h22 que os dados foram autorizados pela PGM para serem passados à Polícia - as informações devem chegar nesta quinta-feira à investigação. E emitiu nota:

“Todas as informações solicitadas por órgãos do Poder Público, como Judiciário, Ministério Público, Defensoria pública, Delegacia de Polícia e outros, devem ser feitos por meio oficial, através do Protocolo Geral da Prefeitura ou junto à Procuradoria-Geral do Município (PGM). Os ofícios, então, são encaminhados para as respectivas secretarias, que respondem também de forma oficial. Os setores e serviços da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, como CRAS, Creas, Centro Pop e outros, não têm autonomia para prestar informações de identificação de seus usuários em razão da nova lei de proteção de dados (lei 13.709/2018).

No caso pontual, a Delegacia de Polícia foi orientada a encaminhar o pedido por meio da PGM. No final da tarde desta quarta-feira, após o pedido feito de forma protocolar, a PGM autorizou a secretaria a prestar as informações, que serão prestadas à PGM para o envio à polícia.” 

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