Artistas da região integram a primeira turma do Ópera Estúdio da Ospa

Até dezembro, um grupo de artistas, selecionados a partir de edital e avaliações, está participando de uma experiência inédita no Rio Grande do Sul: o Ópera Estúdio da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa). Trata-se de um curso gratuito de aperfeiçoamento para cantores líricos apresentado pela Secretaria de Estado da Cultura (Sedac).Na turma estão duas artistas da região: as sopranos Dêizi Nascimento, de São Leopoldo, e Yasmini Vargaz, de Esteio. O trabalho tem direção artística de Evandro Matté e coordenação pedagógica de Flávio Leite. 

As atividades iniciaram no final do primeiro semestre com aulas e masterclasses com referências profissionais na área, sendo que toda ação tem como desfecho a montagem de uma ópera com os estudantes. A experiência está sendo extraordinária na avaliação das duas cantoras e também amigas. "O Ópera Estúdio é um grande curso de especialização e de aprofundamento prático na profissão de cantor lírico. Então, você já precisa ser profissional para conseguir absorver todo o conteúdo técnico e suportar o alto ritmo de estudos. Essa modalidade de curso é muito comum na Europa e nos Estados Unidos, mas é a primeira iniciativa da Ospa neste âmbito", enfatiza Yasmini.

"Mesmo sendo cantora profissional, doutoranda em Ópera e tendo sido professora universitária de canto, a oportunidade de estudar com alguns dos melhores cantores do País ao lado da Ospa é algo pelo que esperei durante toda a minha jornada de estudos. É uma iniciativa única que eu não perderia por nada", avalia.

Estudos técnicos

Dêizi ressalta que a rotina de estudos é intensa. "Eles buscam o máximo da gente, pois querem formar cantores de excelência. Como todos têm formação anterior, eles conseguem trabalhar outras coisas que complementam essa formação, como interpretação, dança, mindfulness (prática de se concentrar completamente no presente), técnica Alexander (método de reeducação psicofísica)", reforça a leopoldense.

Agosto promete ainda mais intensidade, pois mais três nomes de prestígio irão lecionar para alunos do projeto e também para o público externo, que pode acompanhar como ouvinte. O barítono Carlos Rodriguez abre o mês com masterclasses nos dias 9 e 11. O mesmo modelo de aula é retomado em 29 de agosto com o tenor Martin Muehle. Também no cronograma está o terceiro módulo do projeto Prática de Repertório e Conjuntos Vocais de Ópera, que será conduzido pelo maestro italiano Alessandro Sangiorgi, entre 22 a 26 de agosto. As atividades acontecem na Sala de Recitais da Casa da Ospa.

Ópera pelo rádio

"Gosto de pensar que ajudo a melhorar a vida das pessoas através da minha voz, há reações do público que somente a energia da apresentação presencial pode proporcionar", salienta Dêizi, que na infância imitava cantores líricos a partir das transmissões da rádio da Ufrgs e integrou o Coro Juvenil Unisinos. É bacharel em Canto Lírico pela Ufrgs e com estudos de Música também na Faculdades EST.

Parceria da faculdade e os planos

"Canto desde criança em coros de igreja e de escola, mas iniciei no canto profissionalmente em bandas de rock, pop rock e MPB! Só depois que a vontade de me profissionalizar na área bateu é que prestei vestibular para Canto na Ufrgs, cursei especialização, mestrado e agora, doutorado na área", conta Yasmini, enfatizando mais planos com a flexibilização na pandemia. "A vida já voltou ao presencial! Cantar com o público para o público é uma experiência insubstituível! Já temos congressos no Rio de Janeiro agendados, recitais e títulos operísticos por vir", ressalta ela, que foi colega de faculdade de Dêizi e agora reforçam os estudos no Ópera Estúdio, que no último mês contou com aulas ministradas por Gabriela Geluda, principal referência nacional da técnica de Alexander.

Grandes nomes e nascimento da ópera

E quando o assunto envolve as preferências e inspirações para soltar a voz no canto lírico, alguns nomes se destacam, como Vivaldi, Rossini e Massenet! E, claro, ele: Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), músico e compositor austríaco, considerado um dos maiores nomes da música erudita da história. E também, destaque especial, para o alemão Ludwig van Beethoven (1770 - 1827). "Gosto muito dos compositores barrocos, pois são do período em que ópera nasceu e a expressividade vocal através da teoria dos afetos foi muito explorada, além de trazer peças com velocidade que é onde tenho facilidade técnica. Não posso deixar de citar Mozart, pois através de sua Rainha da Noite, da ópera Flauta Mágica, é que fiquei mais conhecida; e Beethoven, por ser um grande mestre que me emociona através de sua 9ª Sinfonia e sua superação em compô-la surdo. Um grande exemplo", enfatiza Dêizi. E toda a experiência de artistas como Dêizi e Yasmini ganham espaço e reforço no projeto para destacar a formação regular de cantores líricos na ópera, que tem como referência histórica a Itália no século 16. Entretanto, na Grécia Antiga, no século 4 a.C, Sófocles já combinava a música e a encenação para interpretar as tragédias gregas. Uma longa e pulsante jornada sonora que ganha espaço em um projeto que tem como metas proporcionar formação interdisciplinar, dar visibilidade à ópera no Estado e permitir o contato com grandes referências do meio artístico.