Morte da rainha não muda tradições de religião com origem britânica no Brasil

Composta por cerca de 120 fiéis, a comunidade Anglicana de Canoas, da Paróquia São Lucas, completa 76 anos no dia 18 de outubro. Nesta quinta-feira (15), a morte da rainha Elizabeth II completa sete dias e, com isso, a Igreja Anglicana, da qual a monarca fazia parte, ficou em evidência. No entanto, o bispo Humberto Maiztegui comenta o falecimento da rainha não interferiu na Igreja Episcopal Anglicana do Brasil. "Não oramos pela rainha ou pelo rei."

Ele explica que, mesmo fazendo parte da Comunhão Anglicana - presente em 42 províncias espalhadas por 170 países -, no Brasil, a Episcopal Anglicana tem como origem a Igreja Anglicana dos Estados Unidos. "A rainha era uma líder política da Igreja. No Brasil, nós oramos pelos nossos governantes."

As diferenças

O bispo explicou que existem dois movimentos dentro da Igreja Anglicana: protestantes e católicos. "Nós também somos católicos, mas não apostólicos romanos." Muitos dos protestantes foram para os Estados Unidos. Segundo Humberto, essa vertente acabou abrindo mais a igreja, o que é seguido em solo brasileiro. "Permitimos por exemplo o casamento LGBT, o que tem atraído muito novos fiéis que buscam um lugar de fé."

A reitora da Paróquia São Lucas, Leane Rachel Kurtz de Almeida, diz que essa abertura também faz com que algumas pessoas deixem a comunidade. "Muitos não entendem. Porém precisamos formar uma sociedade mais justa, mais igualitária e inclusiva." Humberto completou dizendo que o papel da igreja é seguir Jesus Cristo. "Em Porto Alegre, um dos nossos colegas do Clero é homossexual, casado e acabou de adotar uma criança."

Ida à Inglaterra

Entre os dias 28 de julho e 9 de agosto, o bispo Humberto esteve na Inglaterra acompanhando a Conferência de Lamberth. O evento é um encontro internacional de Bispos Anglicanos e se debruça sobre os assuntos da Igreja e da missão da Comunhão Anglicana.

Humberto, no entanto, não conheceu a rainha Elizabeth II. "Ela já estava doente e não compareceu ao evento como de costume." O bispo esclareceu que, por ser o país anfitrião, era uma tradição que a rainha fosse ao local recepcionar os líderes religiosos do mundo inteiro. "A função da rainha, e agora do rei Charles III, é apenas de homologar os atos da Igreja, garantindo que não sejam tomadas decisões contra o Estado Britânico."

O tema da 15ª edição da conferência é "A Igreja de Deus para o Mundo de Deus". Os líderes anglicanos são convocados pelo arcebispo de Cantuária de dez em dez anos. O evento ocorre desde 1867.

Humberto já havia estado na Inglaterra em 2019. "Em nenhuma delas encontrei a Elizabeth II." Além da rainha, nenhum membro da família real esteve presente no evento.

Paróquia tem tradição familiar em Canoas

Fundada em 18 de outubro de 1946, dia de São Lucas, a paróquia canoense teve origem em duas famílias: Silva e Fortes. "Tenho seis irmãos e fomos sempre anglicanos", diz Ari Fortes, 78 anos. Os cultos ocorrem todos os domingos, sempre às 9h30.

A reitora Leane também sempre foi anglicana, com a tradição começando por sua avó. O mesmo não ocorreu com o bispo Humberto. Uruguaio, ele foi batizado na Igreja Metodista. "No Uruguai a Igreja Anglicana era apenas em inglês, então fui batizado na Metodista e só depois me tornei anglicano", conta ele, que foi um dos fundadores da Igreja Anglicana do Uruguai.

No Rio Grande do Sul existem três dioceses: a de Porto Alegre, na qual o Humberto é o responsável, Santa Maria e Pelotas. "O Rio Grande do Sul é o Estado onde mais têm anglicanos no Brasil, são cerca de 20 mil", afirma. No País, são nove dioceses, que contam, atualmente com seis bispos e três bispas, no total.