Nora de idosa sequestrada revela que golpistas de São Paulo 'foram muito brutos' com vítima
Moradora de Estância Velha entregou joias e dinheiro guardado para cirurgia aos membros de quadrilha da capital paulista
Rendida em casa, em Estância Velha, e feita refém até Novo Hamburgo sob ameaça de morte, na manhã de sexta-feira, uma aposentada de 79 anos tenta se refazer do trauma. Além do medo, ficou o prejuízo financeiro. Ela foi obrigada a entregar joias da família e o dinheiro que guardava para uma cirurgia.
No mesmo dia, dois membros de uma quadrilha de São Paulo foram presos. Conforme revelado pelo Jornal NH, tinham se hospedado em hotel em Campo Bom para atacar idosos no Vale do Sinos e fizeram várias vítimas na região nos últimos dias.
Jovem de 19 anos morre em acidente entre motocicleta e caminhão em Campo Bom
Dois homens são presos e um adolescente apreendido por roubo a estabelecimento comercial em Novo Hamburgo
Menino de nove anos é baleado na cabeça em Novo Hamburgo
Ligações
A nora conta que recebeu telefonema dos criminosos enquanto a idosa era mantida refém. "Ficaram rodando com ela para conseguir mais dinheiro. Me ligaram exigindo R$ 10 mil." Ela não pagou, mas a vítima já tinha dado R$ 4 mil. "Coitadinha. Estava economizando para operação nos olhos que precisa fazer. Está muito triste também pelas joias. São aquelas antigas, de ouro puro, que guardava com carinho. Lembranças de uma vida."
Após outro ataque, dupla foi presa
Perto do meio-dia, foi a vez de outra moradora de Estância Velha receber contato da quadrilha. Um homem dizia ser do banco e informava que o cartão dela havia sido clonado para compras em lojas. Falou que um funcionário da agência tinha que pegar o cartão para fundamentar provas contra os vigaristas. Também a poucos dias de completar 80 anos, a mulher passou o endereço, no bairro Lira.
A moradora foi ao portão conversar com o falso bancário, que a convenceu a escrever uma carta para desbloquear valores. Um vizinho suspeitou da movimentação e chamou a Brigada Militar. O homem foi abordado e informou o hotel onde estava hospedado em Campo Bom.
No quarto, os policiais encontraram o comparsa e constataram que os dois são da capital paulista, com antecedentes por estelionato. Seis máquinas registradoras de pagamento eletrônico, vários cartões, dois celulares, R$ 1,2 mil em dinheiro e duas porções de maconha foram apreendidos.
A caminho da delegacia, a dupla teria oferecido dinheiro aos brigadianos para não ser presa.
Quadrilha paulista vem agindo no Vale do Sinos
O delegado de Estância Velha, Rafael Sauthier, autuou a dupla por estelionato tentado e corrupção ativa, pela oferta de suborno aos brigadianos. Ele revela que vai ser investigado o esquema por trás dos presos. São dois moradores da capital paulista, de 24 e 31 anos, com antecedentes criminais. "Nos celulares dos dois, há várias conversas com outros comparsas, que passam endereços e fazem fotos dos cartões que pegaram dos saques, entre outras práticas criminosas." Sauthier observa que a equipe está fazendo levantamento das vítimas. "Há muitas, de várias cidades. Aplicam golpe do falso sequestro, do cartão clonado, fazem Pix, empréstimos e todo tipo de estelionato. O perfil das vítimas é de idosos. Vão atrás de pessoas debilitadas."
Como aconteceu
Por volta das 7h30, a moradora da Rua Parque recebeu telefonema sobre o sequestro de uma filha que mora em Osório. Uma voz feminina, do outro lado da linha, pedia socorro. Assustada, a idosa informou o endereço para negociar o resgate. Pouco depois chegou um encapuzado, de carro, na frente da casa. Com dificuldade para caminhar, a uma semana do aniversário de 80 anos, a moradora foi rendida no portão com uma "gravata" e empurrada para a residência.
Sob ameaça de que a filha estava amarrada em um carro para ser morta, a idosa entregou R$ 3 mil em dinheiro e todas as joias ao criminoso. Mas ele queria mais. Do telefone de um comparsa, possivelmente no hotel, se repetiam pedidos de "socorro, mãe". Desesperada, a idosa pediu R$ 1 mil emprestado a uma vizinha e deu ao encapuzado. Ainda não era o bastante.
A estanciense foi colocada no carro e levada a Novo Hamburgo, em área que não soube identificar. O bandido disse que estava na frente do cativeiro da filha e exigiu mais dinheiro para libertar as duas. Começou a ligar para parentes e conhecidos da vítima. Quando viu que não tinha mais de onde tirar, retornou a Estância e deixou a vítima perto de casa.
Segundo ela, estava armado de revólver e faca. A mulher não sabe precisar o modelo do carro. Ainda pela manhã, falou com a filha, que disse estar bem em Osório.
A idosa ficou com lesões no pescoço.