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Notícias | Região VIOLÊNCIA INFANTIL

Condenado por matar menina em Canoas é preso após estupro de outra criança em Porto Alegre

O crime mais recente aconteceu mesmo com denúncia no Vale do Sinos de que o apenado, já em prisão domiciliar, estava burlando a Justiça com viagens

Por Silvio Milani
Publicado em: 12.11.2022 às 08:44 Última atualização: 12.11.2022 às 08:45

Ele aprisionou, estuprou, matou e enterrou uma menina de 11 anos nos fundos de casa. Já era investigado pelo abuso de outra garota, de 10 anos. Foi condenado a 30 anos e nove meses de reclusão, mas, em sete anos, já estava no regime semiaberto. Progrediu para a prisão domiciliar e começou a fazer viagens interestaduais. A violação do benefício foi denunciada por uma testemunha. Mesmo assim, continuou usufruindo da medida alternativa e só voltou a ser preso, agora, pelo estupro de um menino de 6 anos.

Policiais encontraram corpo ao cavar o chão na propriedade do comerciante
Policiais encontraram corpo ao cavar o chão na propriedade do comerciante Foto: Arquivo/GES

A história de morte e abuso de crianças do comerciante de Canoas Volmar Boscaini Behenck Goulart, 41, veio à tona há quase 18 anos, pelo Caso Jennyfer, e continua em curso trágico em 2022. No entorno da barbárie, há apreensões de imagens e vídeos feitos durante estupro de pelo menos uma vítima.

A primeira pista

Jennyfer tinha 11 anos
Jennyfer tinha 11 anos Foto: Arquivo/GES
O crime de maior repercussão foi a morte brutal da estudante Jennyfer Farias de Freitas, 11, no bairro Harmonia. Ela estava desaparecida desde 18 de dezembro de 2004, quando saiu de casa para comprar pão. A suspeita sobre o comerciante só apareceu quase três meses depois. Na noite de 7 de março de 2005, uma mulher de 33 anos foi à Polícia para denunciar abuso da filha de 10 anos em uma papelaria na Rua Eça de Queiroz, no mesmo bairro. Relatou que pediu para a criança fazer fotocópias, à tarde, e que ela voltou para casa machucada.

A menina narrou que foi agarrada, amarrada, agredida e abusada por um homem na papelaria. Sob ameaças, segundo ela, o criminoso disse para a vítima não contar a ninguém. A criança não soube dizer o nome, mas passou as características físicas do abusador. Era a pista para o Caso Jennyfer.

Frieza na confissão

No dia seguinte à denúncia, a Polícia bateu à porta de Volmar com mandado de busca e apreensão. O comerciante acabou admitindo o assassinato, mas disse que tinha sido um acidente, chorou e mostrou onde havia enterrado Jennyfer. A ossada estava nos fundos, ao lado de uma churrasqueira. No dia seguinte, conforme a Polícia, ele deu detalhes da atrocidade, com frieza.

Volmar narrou que, após pedir um beijo para a Jennyfer, por volta das 11h30, e ela negar com pedidos de socorro, tapou a boca e amarrou os pés e mãos da vítima, que ficou presa num quarto - o mesmo onde a outra menina disse ter sido abusada. À noite, ele estuprou Jennyfer. Alegou que a matou por ela ter gritado. Arrastou o corpo, o enterrou em uma cova rasa e o cobriu com terra e brita. A prisão foi decretada no mesmo dia da confissão.

Morador de Dois Irmãos relatou carona, mas detento não foi punido

Já em prisão domiciliar, em 15 de maio de 2020, o condenado foi descoberto viajando entre Garopaba, no litoral catarinense, e Porto Alegre. Um morador de Dois Irmãos de 30 anos deu carona ao criminoso, sem imaginar de quem se tratava, por meio do aplicativo Blablacar. Volmar estava com uma mulher. Era viajante bem avaliado na plataforma. Agora dono de restaurante no bairro Rubem Berta, em Porto Alegre, tinha feito outras viagens ao litoral catarinense.

"Ele quase não falou. Não levantou suspeita. Só no final do trajeto os dois começaram a discutir. Ele desceu na rodoviária de Porto Alegre. Daí a mulher disse que o acompanhante nem podia estar no carro porque estava em prisão domiciliar", relata o morador de Dois Irmãos. A mulher desembarcou um pouco adiante.

Vinte dias depois, com o nome do caroneiro, que tinha pelo aplicativo, o condutor foi à Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento de Novo Hamburgo e registrou ocorrência. Ela foi tipificada como "fato em tese atípico - descumprimento de domiciliar". Como não havia ninguém detido, o caso foi encaminhado para a 1ª DP de Canoas, encarregada de apurar e comunicar ao Judiciário. A Delegacia Regional de Canoas não informou o destino da ocorrência. De acordo com o 2º Juizado da Vara de Execuções Criminais (VEC) de Porto Alegre, responsável pela movimentação do detento, "não há nos autos qualquer informação de descumprimento da prisão domiciliar".

Réu gravou abuso de menino de seis anos e foi linchado

A vida seguiu para o comerciante como se nunca tivesse violado a prisão. Até o início da noite de 4 de maio deste ano. A Brigada Militar foi chamada para o linchamento de um homem no bairro Quintana, na capital. Volmar foi salvo da morte pelos policiais. Enfurecida pelo estupro de um menino de 6 anos, a vizinhança estava decidida a não parar de espancá-lo. Volmar foi hospitalizado, passou por cirurgias e chegou a ficar de cadeira de rodas até ser encaminhado ao presídio, no mês passado.

Ainda abalados, parentes da vítima preferem não falar. A criança passou por exames, que confirmaram os abusos. A companheira do comerciante, de 44 anos, também foi presa. No celular do casal, conforme a Polícia, havia fotos e vídeos dos abusos do menino.

A barbárie na linha do tempo

9 de março de 2005 - Um dia após a localização da ossada da menina Jennyfer, o comerciante tem a prisão decretada.

27 de novembro de 2007 - Júri condena o réu a 20 anos e dez meses de reclusão.

27 de março de 2009 - Processo transitado em julgado com pena aumentada para 30 anos e nove meses.

6 de dezembro de 2012 - Pela avaliação de "bom comportamento", a VEC de Porto Alegre concede o regime semiaberto, com a observação de que vá para cadeia compatível com o crime cometido, considerando que é "preso de seguro", ou seja, estuprador.

27 de novembro de 2013 - É concedida a prisão domiciliar.

6 de agosto de 2014 - Passa a ser monitorado por tornozeleira eletrônica.

18 de setembro 2014 - O condenado recebe autorização judicial para trabalhar na venda de sanduíche na frente de um shopping no bairro Cristo Redentor, na capital

9 de julho de 2016 - É retirada a tornozeleira e segue na prisão domiciliar.

4 de maio de 2022 - O comerciante é espancado na rua, por multidão revoltada com estupro de um menino de 6 anos, e a Brigada Militar chega a tempo de evitar que fosse morto. É levado ao hospital em estado grave.

16 de maio de 2022 - Com os depoimentos e provas colhidas, entre elas vídeos e fotos do abuso da criança, é decretada a prisão preventiva de Volmar e da companheira, de 44 anos.

Outubro de 2022 - O comerciante é transferido do Hospital Vila Nova para a Penitenciária Estadual de Sapucaia do Sul. O processo do novo crime corre em segredo de justiça na 6ª Vara Criminal de Porto Alegre.

Aplicativo se posiciona

Em nota à reportagem sobre o uso do serviço por detento, a plataforma de caronas salienta que prioriza a segurança. "A BlaBlaCar está sempre à disposição das autoridades para contribuir com quaisquer investigações, fornecendo informações sobre percursos de viagens e membros que compartilharam uma determinada rota, por exemplo. Nos preocupamos com a segurança e temos uma série de recursos, como o selo de perfil verificado, disponível após o usuário completar uma verificação em três etapas: identidade, número de telefone e endereço de e-mail. Também usamos software de Inteligência Artificial, que nos alerta quando conversas suspeitas são identificadas, e fazemos monitoramento constante para a moderação de comentários. Os viajantes ainda têm acesso a canais de comunicação ativos, onde são atendidos por uma equipe de mais de 350 especialistas, sete dias por semana.”

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