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Notícias | Região VAI PARAR NA JUSTIÇA

Listas sugerindo boicote a supostos apoiadores do PT estão na mira do MPF

Promotores receberam representação; citados também irão à Polícia Civil no Vale do Sinos

Por Matheus Chaparini
Publicado em: 18.11.2022 às 21:25

Desde o segundo turno da eleição circula em grupos de mensagens uma série de listas com nomes de pessoas e empresas que supostamente seriam apoiadores do PT e eleitores do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Estabelecimento de Novo Hamburgo que postou card com "fora Bolsonaro" recebeu ameaças nas redes sociais
Estabelecimento de Novo Hamburgo que postou card com "fora Bolsonaro" recebeu ameaças nas redes sociais Foto: Matheus Chaparini/GES-Especial

Há desde pequenos comércios e profissionais autônomos até grandes empresas e seus funcionários nas relações, registradas em várias regiões do País, inclusive no Vale do Sinos. Muitos que figuram nas listas não costumam se manifestar politicamente ou sequer abriram o voto na eleição presidencial. Em Novo Hamburgo, a lista “a princípio apoiadores do PT” tem 25 nomes. Outra tem, além dos nomes, endereços de profissionais autônomos. Casos semelhantes foram registrados em Sapiranga, Igrejinha, Três Coroas e Gramado.

A criação e disseminação destas listas gerou reações. O Ministério Público Federal (MPF) recebeu representações e confirma que monitora o assunto. A Câmara de Vereadores de Novo Hamburgo vota nesta segunda uma moção de repúdio proposta pelo vereador Ênio Brizola (PT). O Sindilojas-NH levou o caso à Fecomércio-RS. A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) acompanha as manifestações em quatro frentes. Além das listas de boicote, violações do direito de ir e vir; o uso de mulheres, crianças e idosos como escudo humano e discurso de ódio; e gestos similares aos utilizados por nazistas”.

A PDFC aponta leniência de autoridades locais em relação aos atos e afirma que tem atuado para garantir a responsabilização dos envolvidos “na violação de direitos humanos”. “No caso das manifestações que se iniciaram após o segundo turno, observa-se um caráter antidemocrático e até criminoso, de pessoas que buscam a ruptura da ordem constitucional”, diz o texto. No Estado, o MPF recebeu representações sobre as listas de boicote. “As denúncias estão em fase de análise para que seja dado o devido andamento a cada uma delas”, informa.

Uma psicóloga citada em uma lista afirma que nunca tinha visto movimento semelhante. “Primeiro achei estranho, depois fiquei com medo. Recebi outra lista com os endereços de profissionais liberais. Fiquei com medo porque trabalho sozinha. Imagina se divulgam meu endereço?”, diz a profissional, que prefere não ser identificada. “É supercomplicado porque a gente não se posiciona nem por A, nem por B”, afirma um cabeleireiro citado em uma lista.

OAB pede providências ao Ministério Público Estadual

Em algumas listas há indicação para que determinados advogados que supostamente votaram em Lula não sejam contratados. Ao tomar conhecimento da situação, a Ordem dos Advogados do Brasil no RS pediu providências ao Ministério Público. A Subseção da OAB em Sapiranga também adotará medidas. O presidente, Lucas Schilling, já procurou a Polícia Civil e irá fazer pedido de providências ao Ministério Público. Para a surpresa de Schilling, seu nome está em uma das listas.

“Eu evito qualquer exposição de preferência política. Entendo que não é correto, justamente porque acaba vinculando à instituição e a OAB tem em seus quadros pensamentos diversos. Não me manifestei nem em grupo de família. Minha prima me ligou dizendo que ficou sabendo em quem eu teria votado em função da lista.” Ele avalia que o risco é a total falta de controle sobre as consequências. “A gente não sabe o que pode acontecer. Pode haver ameaça, depredação. O ânimo das pessoas está acirrado e é uma irresponsabilidade porque não se tem limite nem controle sobre as consequências.”

'Todo o ódio caiu em cima de nós'

Um dos primeiros estabelecimentos da região a se tornar alvo das listas foi um bar localizado na Avenida Pedro Adams Filho, em Novo Hamburgo. Alguns dias após o primeiro turno, o perfil da empresa publicou uma mensagem nas redes sociais com “fora Bolsonaro”. A reação foi imediata e violenta. O perfil passou a receber ameaças e mensagens de pessoas que diziam que não iriam mais consumir no local. “Todo o ódio da cidade caiu em cima de nós. O pior foi a primeira semana. Perdemos bastante clientes, cerca de 80% dos clientes eram bolsonaristas”, afirma o proprietário Pierre Rodrigo Fernandes.

Segundo ele, o perfil do bar no Instagram perdeu cerca de 3 mil seguidores. Ele conta que as ameaças, inicialmente virtuais, passaram a ocorrer também presencialmente. “Teve gente que mandou mensagem dizendo que ia jogar bomba na loja, nos chamando de lixo. Uma noite, pararam um carro e mostraram arma.” Fernandes diz que não tem vinculação político-partidária e que a publicação foi fruto de indignação com o governo federal. Assim como estabelecimentos manifestaram apoio a Jair Bolsonaro, ele decidiu manifestar seu descontentamento.

Comerciantes vão levar caso à Polícia

Um escritório de advocacia de Novo Hamburgo está prestando assistência a 12 pessoas físicas e jurídicas citadas nas listas. De acordo com a advogada Gabriela Piardi, do Tomasi, Piardi e Cunha, já foram identificadas oito pessoas que colaboraram com as listas. “São pessoas que repassaram as listas com incentivo a este boicote ou que, diante do conhecimento da lista, passaram a enviar mensagens para os estabelecimentos, com ameaças e ofensas. Todas bem fiéis à questão do bolsonarismo”, afirma. Entre os identificados, de acordo com a advogada, há pessoas que frequentam as manifestações em frente aos quartéis em Porto Alegre. Na próxima semana, o escritório vai protocolar na Polícia Civil uma notícia-crime e também buscar indenização pelos prejuízos sofridos por seus clientes. 

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