Jornada das migrações alemãs no Brasil ganha telas e páginas de livro

É justamente com a proposta de observar a jornada pela imagem que a Editora Oikos está lançando, em parceria com o Instituto Histórico de São Leopoldo, o livro 'Quadros que Falam: Narrativas Migratórias - 2ª edição', organizado a partir de pesquisas de Dalva N. Reinheimer, Eloisa H. C. da Luz Ramos, Erny Mügge, Isabel C. Arendt e Marcos A. Witt.

Erny Mugge, responsável pela edição da obra, conta que, a caminho do bicentenário das migrações alemãs no Brasil (1824-2024), percebeu-se que essa história até o momento foi contada quase exclusivamente com símbolos alfabéticos: atas, bilhetes, cartas, cartões postais, diários, inventários, passaportes, processos-crime, registros paroquiais, relatórios da alfândega alçados à categoria de fonte histórica.

Trabalhadas por historiadores, palavras e frases permitiram que as experiências de imigração fossem apreendidas, analisadas e veiculadas em textos que têm na grafia o seu modo de comunicar.

A partir disso, o desafio foi mostrar outro caminho. Para Mugge, as pinturas do artista Flávio Scholles também podem se caracterizar como importantes "documentos", buscando um jeito diferente de contar esta história.

Representações visuais da sociedade

Para Lilia, que também é historiadora, as "representações visuais têm a capacidade de copiar a realidade, mas também de produzí-la. Dito de outra maneira, elas não funcionam somente como espelho do cotidiano que afirmam presenciar".

Lilia é autora de diversas obras, que analisam o País e sua gente, como 'Nem preto nem branco, muito pelo contrário', sobre o racismo negado publicamente e praticado na intimidade; e 'Brasil: uma biografia'. Com vasta documentação original e rica iconografia, esse livro, escrito em parceria com Heloisa Starling, propõe uma nova e nada convencional história do Brasil.

Artista da imagem e seus eixos temáticos essenciais

O foco central da obra de Scholles é o ser humano e sua universalidade. Flávio Scholles nasceu em 1950, em São José do Herval, onde fez o ensino primário na Escola Tiradentes. Estudou no Colégio Imaculada Conceição, em Dois Irmãos, no Seminário Claretiano em Esteio, e mais tarde em Rio Claro, São Paulo.

De volta a Novo Hamburgo, concluiu o Ensino Médio no Colégio 25 de Julho. Em toda a trajetória, não parou de desenhar e pintar. Conforme ele, fazer arte o auxiliou a compreender e interpretar o mundo.

Em 1970, o artista realizou a primeira exposição de arte individual. Licenciado em Artes, Desenho e Plástica pela Ufrgs, Scholles definiu eixos temáticos principais de sua obra: Colônia, Êxodo, Cidade/urbanização e Origens. Para ele, conforme destacado no livro Quadros que falam: narrativas migratórias, "se queres ser universal fala da tua aldeia".

Tintas e traços da vida do imigrante

Palavras podem ser apenas coadjuvantes do ensaio narrativo. "Neste contexto, as pinturas de Scholles ganham protagonismo ao evidenciarem o cotidiano da vida imigrante. Com olhar detalhado, íntimo e perspicaz, o autor dos quadros que falam traz ao leitor aspectos pouco abordados nos estudos migratórios", avalia Mugge.

As pinceladas explicitam, em diversos capítulos, com cerca de 200 quadros, o êxodo e as migrações, infância/crianças, famílias, mulheres, trabalho, sociabilidades, urbanização e espiritualidade.

Apresentação trilíngue e textos breves acompanham volume da Editora Oikos

O livro conta com apresentação trilíngue – português, alemão e inglês –, quase 300 páginas e várias reproduções das telas, com uma curta introdução sobre a história da imigração. Na obra, uma breve biografia de Scholles, posfácio e índice remissivo.

Com o livro é evidenciado que a intensa poética visual de Scholles apresenta sempre a possibilidade de um outro olhar e de uma nova leitura sobre as narrativas migratórias. Interessados na obra podem fazer contato pelo vendas@oikoseditora.com.br.