Não se controla o destino, o tempo, o imponderável. Da doença inesperada a um incêndio que consome sonhos, o acaso obriga o ser humano a ser resiliente e solidário. Com a ajuda de muitos e com a fé de tantos, histórias tristes que viraram notícia e viralizaram nas redes sociais se tornam exemplos de que a vida segue sendo o maior presente.
"Natal é nascimento e neste ano nossa família está renascida." A constatação é de Guilherme Thomas, 36 anos. O representante comercial de Campo Bom perdeu a casa da família no bairro Imigrante Norte num incêndio em novembro. Por sorte, nem ele, a esposa e os dois filhos estavam em casa. Hoje, uma corrente do bem se mobiliza para reconstruir o lar da família.
De São Leopoldo, uma família que virou notícia após campanha para encontrar um doador de medula para Pedrinho, quando ainda era bebê, redireciona sua trajetória em outro Estado. Se em 2022 Pedrinho passou o Natal no hospital, neste ano vai ter festa em casa. E com muita saúde.
Saúde. Está aí um presente que muita gente deseja. Tauro fazia jus ao trocadilho gaudério: um verdadeiro taura. Sujeito forte e de hábitos saudáveis, viveu a vida correndo, literalmente. Mas não é que o traiçoeiro câncer de pele apareceu justamente em quem era exemplo de saúde? Mas se Tauro virou notícia hoje é porque ele venceu mais esta corrida.
Em comum entre Tauro e as famílias de Guilherme e Pedrinho estão a resiliência e a fé diante de adversidades. São a prova de o melhor presente de Natal não se compra.
A situação é temporária até a reconstrução da residência e a família vem se adequando à nova rotina. "Apesar de estarmos bem acomodados, não é fácil não ter uma casa para voltar depois de um dia de trabalho", admite o representante comercial.
Por outro lado, desde que a residência onde viviam foi tomada pelas chamas, uma corrente de solidariedade se formou para ajudar a reconstruir o que levaram anos para conseguir. Além de itens básicos, como a doação de roupas logo após o incêndio, está em andamento uma campanha para angariar os R$ 100 mil necessários para a reconstrução da casa. Antes de completar um mês do incêndio, aproximadamente R$ 60 mil já haviam sido angariados. "A campanha está ótima, vai nos ajudar muito", comenta o representante comercial.
Enquanto isso, observam as plantas crescendo no jardim da antiga casa, onde o que sobraram foram telhas, tijolos e madeiras com marcas das chamas. Mas a triste cena fica em segundo plano diante da solidariedade. Eles têm recebido colchões, roupas, eletrodomésticos, depositados na casa dos pais de Joice ou em um espaço da igreja Ministério Life & Peace, de Campo Bom.
E a corrente de solidariedade envolve até a família que precisa de ajuda. O casal repassa doações de objetos que ganham a mais para outras pessoas que precisam.
Retorno
A ideia é que o retorno ao lar ocorra em 2023. Até lá, a ordem é agradecer. "Quero agradecer a Deus, por ter nos cuidado e confiar nele ainda mais. Agradecer a todas as pessoas que contribuíram de alguma forma com a nossa família e agradecer aos nossos pastores e irmãos na fé. Como aprendemos no nosso ministério, ninguém solta a mão de ninguém", sublinha Guilherme, que passará o Natal na casa dos sogros, com uma sensação diferente esse ano. A sensação de que o maior presente ele já tem.
A tarde do dia 14 de novembro deste ano mudou a vida da família campo-bonense. Todos estavam fora de casa, quando vizinhos avisaram Guilherme sobre o incêndio. Ele saiu do seu trabalho e chegou antes dos bombeiros. A casa estava tomada pelas chamas e o trabalho da corporação também se concentrou em evitar que elas se alastrassem para a vizinhança.
Na ocasião, o Corpo de Bombeiros de Campo Bom usou mais de 12 mil litros de água para combater o fogo. Eles permaneceram no local das 16 às 17 horas, quando o incêndio foi controlado e o rescaldo concluído. Mesmo assim, a perda da casa, de predominância de madeira, foi total.
Casados há 12 anos, ao mesmo tempo em que sofreram com a perda do imóvel, Guilherme e Joice viram o quão são queridos entre familiares e amigos, que realizaram vaquinha on-line - para doar, acesse www.vakinha.com.br. Os depósitos seguem ocorrendo.
"Jamais desejaríamos isso a ninguém. E receber ajuda, até de quem não nos conhece, traz uma mensagem de carinho. Estamos superando", declarou Guilherme no dia 18 de novembro, logo após o incidente, à reportagem do Grupo Sinos.
Com apenas três meses de idade, médicos descobriram que Pedrinho desenvolveu um tipo de leucemia que necessita do transplante de medula óssea. Desde então, a família – que é leopoldense, mas hoje mora em Joinville (SC) – iniciou a batalha para conseguir um doador. Acompanhado da mãe, Suelen de Lima Pinheiro, 31, o menino ficou internado em um hospital oncopediátrico em Curitiba (PR), destinado especialmente ao combate do câncer infantojuvenil.
No primeiro transplante, o organismo de Pedro rejeitou a medula do pai dele, Alan Marcel de Souza Pinheiro, fazendo com que a busca por um doador compatível retornasse ao início. A mobilização, então, aumentou. A avó, que mora em São Leopoldo, Márcia Costa Correa, organizava todas as semanas uma van que saía da Praça da Biblioteca, no Centro, para o Hemocentro de Porto Alegre, onde as pessoas podem doar medula óssea, sangue e plaquetas – história que foi contada pelo Grupo Sinos em maio deste ano.
No final de agosto, a boa notícia: um doador foi encontrado na Alemanha. O transplante aconteceu em 3 de setembro. No último domingo (18), eles retornaram para casa, em Joinville.
Gratidão
A frase inicial desse texto é de Suelen, mãe de Pedrinho, que não esconde a felicidade pela vitória do menino. “Um sentimento de imensa gratidão. Sempre acreditamos que Pedro voltaria para casa, e bem. E agora que temos esse sonho realizado, nossa família de volta, parece ainda mais do que merecemos. Mas com certeza é só o começo de tudo que Pedro merece”, exclama, lembrando as dificuldades passadas no mesmo período em 2021.
“O Natal do ano passado passamos dentro do hospital. Com protocolo de quimioterapia muito forte pra tentar levá-lo ao transplante e com muitas intercorrências. Convulsões, coágulos no cérebro, sem visão... E hoje ele está bem. Feliz, sorridente, carinhoso. Amando estar em casa e muito feliz com o papai por perto”, conta Suelen.
Na alta, o cateter que Pedrinho mantinha foi retirado e um momento "comum" virou motivo de euforia. “Simplesmente, o banho normal aconteceu. E foi uma alegria! Agora, ele toma banho de chuveiro gritando de felicidade, com a mana (Manuela, 6 anos)”, emociona-se a mãe.
Suelen relata que a medula doada “pegou” 14 dias após o transplante, mas o acompanhamento médico seguirá por toda a vida, pois só depois de voltar à rotina sem tratamento forte é que os órgãos são “colocados à prova”. Com isso, Pedrinho precisa fazer exames de sangue e consultar com o oncologista uma vez por mês. A cada três meses, ele também precisa fazer exames. Atualmente, ele faz fisioterapia respiratória duas vezes por semana. “Hoje ele toma várias medicações em casa. Cumpriu os 100 dias na cidade de Curitiba, próximo ao hospital, sem intercorrências graves. Fez os 100 dias no dia 12 de dezembro, e ganhou alta no dia 16”, comemora Suelen.
Com o final feliz de Pedrinho, a família dele agora se volta para mobilizar mais pessoas a se tornarem doadores de medula óssea, para oportunizar que mais vidas sejam salvas. “Nós continuamos a incentivar doadores e esclarecer o quão simples é. Assim que Pedro puder, vamos engajar mais esse assunto e ações, pois a nossa dor não precisa ser a de mais ninguém”, coloca Suelen.
A avó Márcia, responsável pela grande campanha feita em São Leopoldo, enfatiza que as famílias não devem desistir de lutar e ter esperança em momentos como o que Pedrinho passou. “Não podemos ver como algo impossível. Quantos outros estão no hospital, esperando uma mobilização, um incentivo, um grito de socorro, que infelizmente às vezes os familiares não têm possibilidade, não conseguem. Temos que agarrar com muita fé e acreditar.”
“Apareceu um sinal. Era não mais que uma manchinha na altura no tórax, que no começo eu não dei bola. Só que então começou a coçar. Procurei um médico e recebi o diagnóstico que estava com câncer de pele”, conta.
Tauro admite que a notícia foi um choque. “Foi impossível não ficar mal. Afinal, não bebo. Estava sempre preocupado com a alimentação. O meu estilo de vida era se cuidar.”
Foi quando deu início ao tratamento que Tauro entrou em contato com dramas semelhantes ao dele, o que gerou força para lutar contra a doença.
“Havia pessoas que eu conhecia há décadas e não sabia que estavam lutando contra o câncer.”
Após passar por procedimento cirúrgico, Tauro recebeu o último exame pós-operatório no dia 15 deste mês. O resultado negativo para qualquer possibilidade de metástase no linfonodo que foi retirado da axila.
“Parece que uma tonelada saiu das minhas costas”, desabafa. “Não há dúvida que o resultado do exame acabou sendo o presente de Natal mais esperado.”
Orientação nas redes
A partir da troca de experiências com pessoas que também lutam contra o câncer, Tauro passou a se valer das redes sociais para divulgar a doença e, mais que isso, orientar sobre os sinais de tratamento e a prevenção que todos devem ter. A ideia dele é continuar trabalhando pela prevenção.
“Comecei a divulgar o que estava acontecendo e o retorno foi muito positivo. Um amigo meu, por exemplo, estava com uma mancha na pele e buscou um médico ao ler um dos meus relatos.”