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Notícias | Região TENTATIVA DE FEMINICÍDIO

'Eu não posso morrer, eu sou forte, quero viver', repetia vítima durante ataque em malharia de Dois Irmãos

Invasor pretendia colocar fogo no local se não conseguisse entrar. Costureira feita refém narra como crime aconteceu

Publicado em: 15.03.2023 às 18:36

Foi na última quinta-feira (9) que a costureira Madalena Staudt, 46 anos, passou por momentos de desespero na Malharia Daiane, em Dois Irmãos. A moradora de Ivoti foi feita refém por Carlos Eduardo da Costa, 33, que a feriu no pescoço e costas com um caco de vidro, além de socos na barriga. Após 20 minutos de tensão, o homem foi morto pela Brigada Militar. Madalena convive com o trauma e cicatrizes.

Aposentada há 3 anos, Madalena decidiu continuar na malharia, onde atua há 12 anos, para, nas palavras dela, "guardar um dinheirinho". Mora com o marido, a mãe e animais de estimação. 

Madalena Staudt se recupera de ataque em malharia de Dois Irmãos
Madalena Staudt se recupera de ataque em malharia de Dois Irmãos Foto: Malci Staudt/Especial

Ela conta que, no dia da invasão, tudo aconteceu muito rápido. Os funcionários já se preparavam para fechar a loja, por volta das 19 horas, quando algumas colaboradoras informaram que um homem estava "quebrando tudo" na parte externa do prédio. Madalena não viu quem era. A partir disso, todos começaram a fechar as portas. 

Colegas da costureira, atônitas, diziam que o homem ameaçava colocar fogo no estabelecimento se não conseguisse entrar, e que possuía uma sacola com garrafas que continham álcool. O delegado Felipe Borba, responsável pelo caso, confirma que ele utilizou garrafas na porta principal e internamente, "mas sem gerar a combustão esperada".

Com o objetivo de se certificar de que não havia possibilidade da entrada do invasor, a costureira lembrou de uma porta que poderia estar aberta na mecânica – que fica atrás do estabelecimento – e se direcionou ao local. Quando chegou lá, Costa veio em sua direção. "Achei que fosse um funcionário. Não conheço as pessoas que trabalham lá de noite. Perguntei 'tu tá saindo? ou é você?'. Ele estava com um caco de vidro na mão e disse 'tu é minha refém agora'", relata a costureira.

O invasor, que já possuía o antecedentes criminais por violência contra mulheres, levou Madalena até um estoque de roupas – onde as agressões foram filmadas. A costureira diz não saber como Costa tinha informações sobre a localização do depósito, visto que o espaço era acessado apenas por funcionários. "Ele me pegou pelo pescoço e começou a me rasgar nas costas." Madalena ressalta que os colegas tentaram intervir, mas que, quanto mais se aproximavam, mais Costa a apertava.

Ameaças

Com a costureira feita refém, ele pedia pela ex-companheira – que trabalhava no local e pediu demissão com medo de que ele fosse atrás dela – e ameaçava: "Te dou cinco minutos para ela aparecer. Não, dois." Em outro momento, o agressor fez um ultimato. "Se ela não vier, 'tu' vai [morrer] no lugar dela", conta a vítima. 

Quando colocou a mão na nuca, a costureira ficou assustada com a profundidade dos cortes. Ela implorava para que Costa a soltasse, dizendo que precisava cuidar da mãe. A vítima perguntou se o agressor tinha uma. Ele respondeu que sim, mas que 'não tinha nada a perder'. "Em um momento ele disse 'eu perdi tudo, as mulheres são tudo igual, mas não me interessa, todas têm que morrer'."

Segundo o delegado, a declaração do homem fortalece o fato de que o caso se trata de uma tentativa de feminicídio, mas que, só por Costa ter se direcionado até o local para matar a ex-companheira, o crime "se configura como feminicídio tentado".

Força para não desistir

Com medo, a vítima tentou se desvencilhar diversas vezes. Em uma das tentativas, ela conseguiu retirar o caco de vidro da mão do agressor e jogá-lo no chão. No entanto, Costa tinha outro caco de vidro no bolso e, segundo Madalena, pretendia cravá-lo em suas costas.

"Eu só pensava 'eu não posso morrer, eu sou forte, quero viver'", expõe. Instantes antes da Brigada Militar chegar, a costureira tentou escapar, mas caiu no chão, momento em que Costa a pegou pelos cabelos, caindo de joelhos. Nisso, a BM chegou e disparou contra o agressor. Sobre os policiais, Madalena os descreve como "os anjos que me salvaram".

Área foi isolada após o crime
Área foi isolada após o crime Foto: Brigada Militar


Além das costas e do pescoço, a costureira tem machucados nos joelhos e dores na barriga, onde foi acertada com socos.  A alta do hospital veio no dia seguinte, na sexta-feira (10). No entanto, não foi só o corpo que foi afetado. Nas primeiras noites, no pouco tempo que conseguia dormir, Madalena acordava assustada e chorava.

Agora, quase uma semana depois, ela se sente mais tranquila sabendo que o agressor não voltará. "'Tô' feliz porque 'tô' viva, 'tô bem porque 'tô' viva." Assim que se recuperar, a costureira pretende voltar ao trabalho em Dois Irmãos.

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