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199 ANOS DE IMIGRAÇÃO ALEMÃ: Fala e escrita que ultrapassam gerações

Como o idioma germânico aproxima os descendentes de suas origens

Publicado em: 25.07.2023 às 17:13 Última atualização: 25.07.2023 às 17:23

No Brasil, o legado da imigração alemã permanece até hoje, permeando histórias de famílias que encontraram nesta terra um novo lar. Parte desse legado é o idioma, que permanece como um elo vital entre alguns descendentes e seus antepassados. É o caso de Carlos Alberto Eisinger, de 69 anos. Nascido e criado em Novo Hamburgo, ele faz questão de aprender o idioma germânico. “Meus ancestrais são de origem alemã. Quando criança, aprendi apenas o idioma do Hunsrück, que é o mais falado na nossa região”, conta.


Imigrantes como Johannes Weber relatavam as viagens em cartas como esta de 1828 | Jornal NH
Imigrantes como Johannes Weber relatavam as viagens em cartas como esta de 1828 Foto: Reprodução

Os avós maternos de Eisinger eram imigrantes alemães que desembarcaram no Rio de Janeiro em 5 de abril de 1914. Seus nomes eram Franz Albert Zeumer e Hedwig Maria Zeumer. Anos mais tarde, em 1936, eles iniciaram a construção de sua casa em Portão. No porão da residência, eles instalaram a Fábrica de Queijo Gaúcho, já que Franz era professor e técnico de laticínios.


Na época, o casal queria aumentar a família. “Como eles não tinham filhos, resolveram adotar a minha mãe, Edi Emma Rowe, quando ela tinha 10 anos de idade, no ano de 1937, através do Consulado Alemão de Porto Alegre”, narra. “Quando criança, tive o privilégio de ouvir as histórias contadas em alemão pela minha avó materna sobre o Natal, sobre as montanhas cobertas de neve, a Floresta Negra e os vales repletos de flores na primavera de uma Alemanha para a qual ela nunca mais voltou”, continua.

Em uma viagem feita para a Alemanha em 2009, Carlos conectou-se ainda mais com a sua identidade. O desejo de ir para lá havia surgido em uma confraternização em Novo Hamburgo com uma delegação de 30 pessoas da Romantische Strasse. “Nesse grupo estava a família dos Wünschenmeyers, com os quais iniciei uma bela amizade”, conta.

Para melhorar ainda mais a comunicação com seus amigos, Eisinger se inscreveu em um curso de língua alemã para a terceira idade da Universidade Feevale, onde ele tem aulas até hoje.

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Em casa e na escola

Denise Lanz, formada em Letras Português-Alemão, veio de uma família do interior de Sapiranga. Até os 7 anos de idade, ela se comunicava apenas através do dialeto alemão. Ao entrar na escola, aprendeu o português. “Meus pais queriam que eu continuasse a estudar depois da 8ª série, por isso fui estudar no internato em Ivoti. Lá a Língua Alemã era obrigatória e muito valorizada”, diz. “Depois escolhi fazer Letras Português-Alemão, então acho que a motivação foi também que ser professora de alemão mantinha vivo aquele pedacinho da minha história”, acrescenta.

O idioma germânico Hunsrik Plat Taytx também é a língua materna da professora Solange Hamester Johann. “Todos em casa falávamos somente esta língua, assim como nossos vizinhos e comunidades escolar e religiosa. Aprendi a falar português na escola, aos 7 anos de idade. Mas, no recreio, todas as crianças falavam e brincavam em nossa língua”, relata.


Solange Hamester Johann | Jornal NH
Solange Hamester Johann Foto: Divulgação

Por ser falante nativa, Solange foi convidada a trabalhar com uma equipe de linguistas da Sociedade Internacional de Linguística (SIL), com o objetivo de criar um código de escrita para a Língua Hunsrik Plat Taytx. Com isso, o Hunsrik deixou de ser considerado um dialeto e passou a ser um idioma germânico oficial.

Posteriormente, ela e a equipe passaram a produzir material didático e literário, capacitar professores, dar aulas, produzir colunas em jornal, comentários em rádio e participar de Feiras do Livro. O grupo possui 14 diferentes publicações - inclusive a tradução oficial de “O Pequeno Príncipe” e do Novo Testamento.

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