Publicidade
Notícias | Região AVENTURA SOBRE RODAS

Cineasta retorna a Picada Café após ir até Ushuaia em um Fusca 1974

Viagem chamada de Expedição Malte terá como próximo destino, o Alasca

Publicado em: 18.08.2023 às 05:00 Última atualização: 18.08.2023 às 13:58

Mais de 10 mil quilômetros, quatro países e 106 dias a bordo de um Fusca azul, 1974. Este é o tamanho da viagem que o cineasta Rodrigo Castelhano realizou nos últimos meses. Apelidada de "Expedição Malte", a aventura misturou desafios extremos, superação e momentos de emoção e felicidade visitando cervejarias de Picada Café até Ushuaia, na Argentina.


Rodrigo Castelhano e De Niro estiveram no Jornal NH | Jornal NH
Rodrigo Castelhano e De Niro estiveram no Jornal NH Foto: Dário Gonçalves/GES-Especial

Toda a jornada, que iniciou no dia 21 de abril e teve sua primeira parte finalizada no dia 5 de agosto, ao retornar para casa, foi registrada através das redes sociais. Agora, o material segue sendo divulgado no YouTube e será transformado em um documentário. Mas isto, só depois que a Expedição Malte concluir seu próximo destino: nada menos que o Alasca, nos Estados Unidos.


Publicidade
A ideia inicial era ir e voltar do "Fim do Mundo", como é conhecido Ushuaia, em no máximo três meses. Porém, as estadias de Castelhano em cada cidade foram se estendendo e a expedição acabou, em muitos momentos, tornando-se imprevisível. “Eu ficaria três dias em Pelotas, acabei ficando 15. Depois fiquei um tempo também em Santa Vitória do Palmar e no Chuí, antes de entrar no Uruguai”, conta.

Solidão rumo ao "Fim do Mundo"

Em Montevidéu, já no país vizinho, a viagem ainda era tranquila, sem maiores empecilhos, quase turística. Foi em solo argentino que Castelhano passou a ter que lidar com o frio extremo e com a solidão. Trafegando pela Ruta 3, o cineasta e De Niro - nome de seu Fusca - chegaram a fazer mais de 500 quilômetros sem encontrar um único veículo. Ou melhor, nenhum que pudesse andar, pois ao longo do percurso era comum ver carros abandonados que não venceram os desafios da estrada. “Em alguns momentos eu me perguntava: ‘O que tô fazendo aqui?’, mas depois o pensamento sumia e eu chorava de gratidão. Era algo especial, que sempre quis fazer”, relembra.


De Niro se confundia com a paisagem | Jornal NH
De Niro se confundia com a paisagem Foto: Rodrigo Castelhano/Divulgação

Conforme se aproximava do sul do continente, o frio aumentava. Entre as montanhas das Cordilheiras dos Andes, perto de Ushuaia, caminhões que passavam no sentido contrário jogavam água por cima do De Niro, que congelava instantaneamente sobre o parabrisa. Sem conseguir enxergar, foi um costume bem gaúcho que salvou a viagem: o chimarrão. “Eu sempre levava água na térmica para fazer um chimarrão e me esquentar. Então usei a água quente para descongelar o vidro e conseguir dirigir”, explica. A solução permitiu que ambos seguissem enfrentando desafios na estrada, foram cerca de duas horas para percorrer apenas 25 quilômetros.

Deixando Ushuaia

A estadia no Ushuaia durou 17 dias, também mais do que o previsto, e trouxe experiências incríveis. Foi lá que Castelhano viu a neve caindo pela primeira vez, antes ela era apenas uma companhia presente nas estradas. No “Fim do Mundo”, encontrou o “Viajante Cervejeiro”, outro aventureiro que decidiu ir até Ushuaia, partindo de Santa Catarina, mas de bicicleta. Juntos, subiram as montanhas para visitar um pub e conhecer mais das cervejas locais. Naquele momento, uma nevasca começou, impedindo que voltassem ao local em que estavam hospedados.


Do pórtico de Picada Café ao pórtico de Ushuaia | Jornal NH
Do pórtico de Picada Café ao pórtico de Ushuaia Foto: Rodrigo Castelhano/Divulgação

A ajuda veio de moradores locais, que acostumados com aquela situação, ofereceram carona para descerem. “Era um percurso igual aqui, em direção a Picada Café. Montanha de um lado, penhasco do outro. E nisso que estávamos descendo, o carro girou três vezes sobre o gelo. Ficamos apavorados, mas eles agiram com a maior naturalidade”, conta Castelhano.

Como última etapa da viagem ao "Fim do Mundo", visitou o Parque Lafataia, ao final da Ruta 3, que é, de fato, o ponto mais ao sul da América do Sul que se pode chegar por terra. Por conta disso, é considerado o “Fim do Mundo”. Por lá, também conheceu lugares onde parte do filme O Regresso, que rendeu um Oscar a Leonardo Di Caprio, foi gravado.

Início do caminho de volta


Ao chegar no "Fim do Mundo", Castelhano ficou a "apenas" 17.848 km do Alasca | Jornal NH
Ao chegar no "Fim do Mundo", Castelhano ficou a "apenas" 17.848 km do Alasca Foto: Rodrigo Castelhano/Divulgação

Já no fim de junho, Castelhano e De Niro deixaram o Ushuaia, rumo a El Calafate. Na estrada pela Ruta 40, encontrou uma mochileira que peregrinava por “São Messi”. Cumprindo uma promessa caso a Argentina fosse campeã da Copa do Mundo, a mulher percorria os milhares de quilômetros entre a Ruta 3 e a Ruta 40. “O pessoal tem um certo código de ética, que se ver alguém pelas estradas, oferece carona. Então ofereci, e ela contou essa história”, explica o "fusqueiro".

As dificuldades atingiram seu auge em El Calafate, onde Castelhano enfrentou condições de neve extrema e visibilidade quase nula, descrevendo a paisagem como um eterno branco. “Eu não estava preparado para tanto frio, tudo congelava dentro do Fusca, com o frio chegando a -22ºC. As cervejas estouraram, fez uma bagunça”, afirma. Após 12 dias de exploração e de conhecer os Glaciais, blocos de gelo formados por rios congelados, o viajante cruzou caminhos com Sebastian, um estudante de cinema mexicano, de 22 anos, que também ia para Bariloche. Juntos, cruzaram 1,5 mil km. “Tinha momentos que a gente parava e saía correndo pela estrada, de um lado para o outro, para se esquentar”, relembra, aos risos.


"Endereço" de Castelhano durante a expedição | Jornal NH
"Endereço" de Castelhano durante a expedição Foto: Rodrigo Castelhano/Divulgação

Desafios na estrada

Ainda em direção a Bariloche, a dupla, ou melhor, o trio Castelhano, Sebastian e De Niro, visualizou uma figura na estrada mancando, em meio à neve. Ao se aproximarem, descobriram tratar-se de um caminhoneiro que havia sofrido um acidente e caído fora da estrada. Na região, não existe nem mesmo sinal de celular para pedir ajuda. Tiveram, então, que seguir viagem por 130 quilômetros até encontrar um posto da polícia e solicitar socorro ao homem. “Os 130 km na neve, viram 500”, define.


Passagem pela Patagônia | Jornal NH
Passagem pela Patagônia Foto: Rodrigo Castelhano/Divulgação

De Niro resistia bem à Expedição, suportando o congelamento e precisando poucas vezes de manutenção. Em Governador Costa, no entanto, ficou sem gasolina e foram necessários quatro dias até que o combustível chegasse ao único posto da cidade pertencente à Patagônia.

Problema resolvido, e já sem a companhia do jovem mexicano, Castelhano permaneceu alguns dias em Bariloche. Um dos melhores momentos, contudo, surgiu ao deixar a cidade. “Quando saí de Bariloche, a paisagem começou a mudar. Voltou a ter verde, ter sol. Naquele momento, fiquei muito emocionado, muito realizado por ter vencido todas estas dificuldades. Muitas vezes pensei que ia morrer, mas superei”, disse.

Os problemas, porém, não haviam terminado. Ao cruzar pela Ponte Rosário-Victoria, policiais o pararam para uma revista, e o Fusca “morreu”. Sem conseguir ligar o motor, os policiais sentiram-se culpados e ajudaram a fazer De Niro pegar “no tranco”. Para isso, fecharam a ponte, impedindo a passagem de todos os outros veículos para que pudessem empurrar o Fusca.

Andando novamente, assim seguiu por mais de 1 mil quilômetros sem que o carro tivesse seu motor desligado.

Sempre que precisava parar, Castelhano escolhia um local íngreme, para que De Niro pudesse ser embalado. E assim seguiu até voltar para o Brasil, em Uruguaiana, onde o pior da viagem aconteceu. Na segunda noite da Expedição Malte na cidade da fronteira, dois homens arrombaram o De Niro e furtaram tudo o que podiam. E entre os itens que levaram, muitos HDs contendo as imagens da viagem. “Infelizmente, perdi tudo o que gravei no Brasil, Uruguai, até Buenos Aires na Argentina”, lamenta.

Próximos passos

Castelhano e De Niro estão de volta a Picada Café e agora se preparam para dar seguimento à Expedição Malte rumo ao Alasca. A partida está prevista para janeiro de 2024, pois é necessário fazer revisões no Fusca, deixá-lo mais seguro para impedir novos furtos e, principalmente, levantar recursos para seguir viagem.

Até dezembro, a Expedição Malte percorrerá o Rio Grande do Sul para conhecer cervejarias locais. E como as imagens do início da expedição foram furtadas, Castelhano irá novamente até Pelotas e, talvez, até Montevidéu refazer esta parte. Depois, no ano que vem, percorrerá alguns Estados do Brasil até entrar no Chile, atravessar o país e chegar no Pacífico. Depois, subir a América do Sul, Central, do Norte até o tão sonhado Alasca. “Agora que o pior já passou, estou muito mais motivado. A gente não precisa muito pra ser feliz, minha felicidade na viagem era uma meia seca, água quente, sentir o sol no rosto. Agora é calor, caribe e cerveja geladinha. É a maior aventura da minha vida”, finaliza.

Neste sábado (19), a partir do meio-dia, a Expedição Malte estará no Festeje Hamburgo Velho, em Novo Hamburgo. O festival mistura gastronomia, exposições, shows e cervejas artesanais. Será na Praça Monsenhor Edmundo Backes (Praça da Matriz).

Publicidade
Matérias relacionadas
Botão de Assistente virtual