Graciele Ugulini, madrasta do menino Bernardo Boldrini e acusada de dar uma injeção letal no menino, foi a primeira ré a depor nesta quinta-feira (14) no Foro de Três Passos. Como esperado, ela inocentou o marido, Leandro Boldrini, e afirmou que a morte do enteado foi acidental. Em um depoimento de quase três horas, ela chorou muito, tinha a voz fraca e optou em responder as questões da juíza Sucilene Engle, do próprio advogado de defesa, virada para o júri.
"Não foi nada premeditado, e o Leandro não tem nada que ver com isso. Só quero o perdão dele. É injusto uma pessoa estar presa sem ter nada a ver", declarou.
Graciele começou o depoimento contando sobre seu relacionamento com Bernardo. Ela afirmou que no início, eles eram muito próximos e ela adorava a criança. Segundo a ré, tudo mudou depois que ela teve um aborto espontâneo e uma segunda gravidez, na qual nasceu a filha em que tem com Leandro. A gestação, segundo ela, foi de risco e a bebê nasceu prematura. "Nesse momento, eu abandonei a família (...) A atenção que eu dava a Bernardo não era mais como antes", disse.
Graciele afirmou ainda que Bernardo não gostava da irmã e era muito agitado, tendo que tomar medicamentos controlados. O que, segundo ela, a deixava com medo de que ele fizesse algo contra a irmã. "O Bernardo queria atenção, mas a atenção era toda para a Maria."
Quando questionada pela juíza sobre a ida para Frederico Westphalen no dia 2 de abril de 2014, dois dias antes do crime, Graciele disse ter ido fazer coisas particulares e que comprou Midazolam. Ela admitiu que assinou uma receita em branco do marido. Segundo ela, a medicação era para ela própria, para tomar porque não conseguia mais dormir e se sentia doente.
Segundo Graciele, ela deu medicamentos para Bernardo para que ele não ficasse enjoado durante a viagem a Frederico Westphalen já que ele estava muito agitado. Graciele afirmou ter dado Ritalina a Bernardo e que, caso a agitação continuasse, jogou a bolsa para trás e o mandou tomar mais remédio. Ao chegar a Frederico Westphalen, ao sair do carro e ir para o veículo de Edelvânia, percebeu que o menino não reagia, não acordava, estava babando.
Questionada sobre ter um amante em Frederico Westphalen, ela disse que sim, que tinha uma pessoa que cuidava e a ouvia nos últimos tempos.
Graciele afirmou que não foi à Polícia porque teve medo do que iriam pensar sobre ela e pediu ajuda à amiga, que queria pedir socorro. Edelvânia, segundo a ré, depois de muito insistir, cedeu e indicou o local para enterrar o menino. Foi Edelvânia, segundo Graciele, que cavou o buraco. O corpo de Bernardo foi encontrado em uma cova vertical, à beira de um riacho em Frederico Westphalen. "Eu não sou o monstro criado pela imprensa sensacionalista", afirmou.
"Admito que dissimulei", disse a madrasta ao responder a indagação da juíza sobre porque ajudou nas buscas por Bernardo. Sobre ter ido a uma festa no sábado, dia seguinte à morte de Bernardo, ela afirmou: "Tentei de todas formas agir de forma normal".
A juíza perguntou se Graciele havia falado que teria que dar fim na situação e que tinha pessoas para resolver isso, ao que a ré admitiu ter falado em "momento de raiva". O interrogatório foi encerrado às 11h21.
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