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Notícias | Rio Grande do Sul Agronegócio

Estiagem não foi empecilho para a qualidade do aipim

Agricultores têm que lidar com uma quebra na produção que varia de 30% a 50%, mas a colheita de mandioca tem garantido bom preço e raiz com bom cozimento

Publicado em: 30.06.2020 às 03:00 Última atualização: 30.06.2020 às 13:38

Família Kunzler planta aipim e compra da vizinhança para garantir produção da agroindústria familiar em São José do Hortêncio Foto: Divulgação
Considerada uma das culturas mais antigas do Brasil, presente nas Américas, a mandioca foi eleita pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o alimento do século 21. Motivos não faltam para o título, pois além de ser um ingrediente versátil nas condições de plantio e na culinária, também tem papel nutricional importante. Agora, depois de uma estiagem que durou praticamente seis meses, o aipim mais uma vez tem mostrado que é um produto diferenciado. Embora as perdas na lavoura alcancem a marca de 50% em algumas regiões e as raízes não tenham crescido tanto, a qualidade no cozimento tem permanecido a mesma. Basta alguns minutos no fogão, que o aipim se desmancha e está pronto para ser transformado em uma gostosa receita.

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Por conta resistência, o aipim é garantia de renda certa para os pequenos agricultores. Em 2019, o preço médio do quilo da raiz foi R$ 1,27 na Central de Abastecimento do Estado (Ceasa). Nos primeiros meses de deste ano, o preço médio subiu para R$ 1,70, um acréscimo de 33,8%. Uma das razões para o aumento do preço foi a pouca oferta do produto no mercado devido ao longo período de seca.

O chefe do escritório da Emater de Novo Hamburgo, Carlos Rocha, lembra que a mandioca é um dos itens mais procurados pelos consumidores na Feira do Produtor Rural. No Município, são 650 hectares plantados de aipim, cerca de 500 hectares do tipo pesquinho. Nas feiras de Novo Hamburgo, São Leopoldo e Canoas, as famílias da Lomba Grande comercializam 24 mil caixas, em média, por ano. Já para os mercados da região, o volume é de 120 mil caixas, conforme levantamento da Emater. "Todo mundo planta aipim, seja para vender, consumo próprio ou alimentação dos animais", comenta Rocha.

Produção de Hortêncio

O município de São José do Hortêncio é o maior produtor de aipim da região e o terceiro maior fornecedor da Ceasa. Em 2019, entregou na Ceasa 1,32 mil toneladas. São entre 350 a 400 hectares plantados, com cerca de 10 mil pés por hectare. Dos 804 agricultores com talão, 650 plantam aipim para vender, além das agroindústrias que funcionam na cidade tendo como base a mandioca. Conforme o secretário de Agricultura, Meio Ambiente e Turismo, Breno Käfer, a seca atrapalhou até quem plantou entre o final de setembro e outubro. "O aipim não cresceu porque a chuva não veio", diz. No entanto, a lei da oferta e da procura está favorecendo os negócios. A caixa de vinte quilos que antes era vendida por 25 reais, está saindo por 35 reais agora. "Tem agricultor que não está arrancando para guardar a rama e plantar depois. Então esse é um negócio que compensa para a agricultura porque o investimento é baixo", destaca.

Há 31 anos vendendo aipim na feira

Edson e Sônia Thiesen, de 51 e 50 anos, fazem a Feira do Produtor de Novo Hamburgo há 31 anos. De lá para cá, não houve uma feira que faltasse aipim para oferecer ao consumidor. Mesmo em tempos de estiagem, a mandioca sempre garantiu vendas.

O casal Edson e Sônia Thiesen está há 31 anos na Feira do Produtor em Novo Hamburgo Foto: Inézio Machado/GES

Eles plantam 2,5 hectares na localidade do Taimbé, entre verduras, frutas e raízes, e vendem a cinco reais o pacote de aipim descascado. "Deu 35% de perda este ano. Mas a venda continua boa, nunca voltamos pra casa com sobra de aipim", comenta. De acordo com eles, é difícil algum cliente pedir aipim com raiz inteira, para descascar em casa. "O pessoal não gosta da sujeira e nos apartamentos dá muito lixo", explica.

O comerciário Éverton Barchfeld, 50 anos, é um dos clientes assíduos da Feira do Produtor da Rua Lima e Silva, em Novo Hamburgo. Todos os sábados ele compra aipim para garantir as refeições da semana. "A gente faz cozido com farofa e vaca atolada. É muito bom, gostamos muito lá em casa", disse.

 

Família Parnow investe em agroindústria

O produtor de Campo Bom, Gilberto Parnow, 47 anos, há oito anos decidiu investir na propriedade e agregar valor à produção de aipim com a Agroindústria Fazenda Vitória, registrada no Programa Estadual de Agroindústria Familiar. Além disso, o negócio tem o selo Sabor Gaúcho, o que permite comercializar o aipim em todo o Estado.

Gilberto Parnow, produtor de Campo Bom Foto: Arquivo Pessoal
Parnow veio para Campo Bom por causa do calçado, mas deixou a indústria e voltou para a agricultura, que aprendeu quando ainda era criança. Primeiro ele investiu no gado leiteiro, mas depois partiu para a lavoura de mandioca, onde o investimento é baixo e a produtividade é garantida. Hoje ele comercializa o aipim embalado em 47 mercados de Campo Bom e do bairro Canudos, além da merenda escolar. São dez hectares, com 80 mil pés. "Com a seca, deu uma quebra grande. Antes eu arrancava sete pés para ter uma caixa de vinte quilos. Agora preciso de 19", avalia.

Por conta desta quebra na produção e com a manutenção da qualidade, Parnow aposta que até o final do ano deve faltar mandioca no mercado. Ele conta que deixou 12 mil pés para colher depois, justamente para atender esta demanda e melhorar o preço.

 

Chips de aipim e massa para bolinho em Hortêncio

Chips de aipim, receita da família Kunzler Foto: Divulgação
Agricultores desde sempre, há sete anos a família Kunzler, de São José do Hortêncio, investiu em uma agroindústria. A última invenção dos produtores foi a receita de chips de aipim, que foi lançada há dois anos na Festa do Aipim. “É ótimo no verão para acompanhar uma cervejinha ou um refri gelado”, garante Alexandre Kunzler, 53 anos. No entanto, como a pandemia reduziu o número de funcionários, a receita só deve voltar para os mercados e bares da região no verão.

Para dar conta de atender a produção da família, que inclui aipim descascado, sopa higienizada e massa para bolinho, os Kunzler compram aipim da vizinhança. “Por semana vendemos uns mil quilos para os mercados, fruteiras e restaurantes”, conta. A clientela é de todo o Estado.

A variedade vassourinha é a mais vendida. “O aipim com casca quase ninguém mais quer, principalmente por causa da sujeira. Daqui uns anos acredito que só vamos mais vender aipim embalado”, comenta.

Maior produtor do mundo de mandioca

Originária da América do Sul, a mandioca (Manihot esculenta Crantz) é um dos principais alimentos energéticos para mais de 700 milhões de pessoas no mundo, principalmente nos países em desenvolvimento. Mais de 100 países produzem aipim. O Rio Grande do Sul, segundo a Embrapa, em 2008 era o quarto maior produtor de mandioca do Brasil, com área colhida de 55.205 hectares e produção de 959.212 17,38 hectares. O Pará é o Estado que lidera a produção.

Dados da Ceasa

Em 2019, foram comercializados 9,4 milhões de quilos de aipim nas Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa).

O valor obtido com essas vendas chegou a R$ 18, 6 milhões.

Os três maiores fornecedores de aipim foram:

Os dados são da Gerência Técnica da Ceasa.

Receita de bolinho de aipim

Ingredientes

Modo de preparo

Fazer pequenas porções e fritar quando o óleo estiver quente.

 

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