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Notícias | Rio Grande do Sul INVESTIGAÇÃO

Jovem morto em São Gabriel foi assassinado com golpe na região cervical por brigadianos

Gabriel Marques Cavalheiro desapareceu no dia 12 de agosto após abordagem policial; corpo foi encontrado uma semana depois, dentro de um açude

Por Eduardo Amaral
Publicado em: 29.08.2022 às 11:49

Em coletiva de imprensa realizada na manhã desta segunda-feira (29), em Porto Alegre, a Polícia Civil (PC), Brigada Militar (BM) e o Instituto-Geral de Perícias (IGP) confirmaram que Gabriel Marques Cavalheiro foi assassinado pelos soldados da BM Cleber Renato Ramos de Lima e Raul Veras Pedroso, e pelo sargento Arleu Junior Cardoso Jacobsen. Os três já estão presos e responderão por homicídio qualificado. O crime aconteceu em São Gabriel, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul.

Entrevista coletiva sobre a morte de Gabriel Marques Cavalheiro, de 18 anos
Entrevista coletiva sobre a morte de Gabriel Marques Cavalheiro, de 18 anos Foto: Eduardo Amaral/GES-Especial

A entrevista começou com a leitura do laudo da necropsia, que confirmou que o jovem de 18 anos morreu por uma hemorragia interna causada por golpe de "objeto contundente" na região cervical. "O laudo confirma a versão que as testemunhas tinham. A prova técnica corrobora aquilo que já tinha sido apontado nas investigações", afirmou o chefe da Polícia Civil, delegado Fábio Motta Lopes, acrescentando que manterá o pedido de prisão dos três policiais. 

O comandante da BM, Claudio dos Santos Feoli, seguiu na mesma linha e apontou que o trio também responderá na esfera militar, sendo pedida a expulsão dos três da corporação.

A coletiva teve a presença do secretário estadual de Segurança Pública, Vanius Cesar Santarosa, do comandante-geral da Brigada Militar, coronel Claudio dos Santos Feoli, da diretora-geral do IGP, Heloísa Helena Kuser, do chefe da Polícia Civil, delegado Fábio Motta Lopes, e, ainda, do representante do Ministério Público, Julio Melo.

O governador do Estado, Ranolfo Vieira Júnior, não participou da coletiva, mas manifestou-se sobre o caso em sua conta no Twitter. Confira:

Relembre o caso

Gabriel Marques Cavalheiro desapareceu no dia 12 de agosto após ser abordado pela BM na Avenida 7 de Setembro, no bairro Independência, na cidade de São Gabriel, Fronteira Oeste do RS. Seu corpo foi encontrado no dia 19 de agosto em um açude, numa comunidade conhecida como Lava Pé. Morador de Guaíba, na região metropolitana, ele estava na cidade para prestar serviço militar.

Segundo testemunhas, Gabriel estava na 7 de setembro, quando uma moradora acionou a Brigada Militar da cidade e reclamou que o jovem estava gritando. Os policiais chegaram ao local, e a mulher, incomodada com a abordagem dos brigadianos, começou a filmar a cena.

Na sequência, Gabriel foi algemado e retirado do local. O corpo do jovem foi encontrado no dia 19 de agosto, dentro de um açude na localidade do Lava Pé.

O que dizem as defesas

Procurada pela reportagem, a defesa dos soldados Lima e do Pedroso não se manifestou até as 21 horas dessa segunda-feira. Já a defesa do sargento Jacobsen, representada pelo advogado Maurício Adami Custódio, afirma que a versão dele é sustentada pelas provas. 

"O que a gente pontua é o seguinte: desde o início o sargento Jacobsen demonstrou que não teria visualizado agressões por parte da guarnição dele e ele por si nega qualquer tipo de agressão. As provas apontam que no momento da abordagem o sargento Jacobsen não se entrava junto com os demais integrantes da guarnição, ele se encontrava um pouco mais afastado revistando um terceiro, que se encontrava na esquina", explica o advogado, que reforça que em nenhum momento as testemunhas colocaram o seu cliente como agressor da vítima. " As testemunhas afirmam apenas dois policiais militares terem praticado as lesões, as testemunhas em momento algum colocam o sargento Jacobsen próximo a guarnição."

Custódio ainda afirma que pontos do laudo da perícia precisam de melhor esclarecimento, referindo-se as lesões causadas e tempo em que elas ocorreram. "A perita descreve que a agressão teria ocorrido de modo a ocasionar um trauma cervical que decorre de choque polvolêmico oela hemorragia ocasinada pela lesão contusa, isso significa, e aí tem que ser melhor esclarecido pelos profissionais da medicina legal, o tempo em que a hemorragia se espargindo pelo corpo do Gabriel poderia ocasionar perda da consciência, perda da mobilidade e demais efeitos necessariamente decorrentes dessa ação."

O advogado do sargameto declara que acredita na inocência dele.  "Uma injustiça muito garnde vem sendo praticada, pois não descartamos a hipótese do sargento Jacobsen ser vítima, agora, de uma trama por não ter conhecimento do fato e não ter sido comunicado pelos subordinados dessa agressão, o que teria levado ele a adotar outra medida, que não essa que ocorrera", finaliza. 

Confira o posicionamento da defesa do sargento Jacobsen na íntegra 

A defesa do sargento Jacobsen entende que a versão dele é sustentada pelas provas, embora a divulgação do laudo possa estar, de certa forma, ainda a ser melhor esclarecida. O que a gente pontua é o seguinte: desde o início o sargento Jacobsen demonstrou que não teria visualizado agressões por parte da guarnição dele e ele por si nega qualquer tipo de agressão. As provas apontam que no momento da abordagem o sargento Jacobsen não se entrava junto com os demais integrantes da guarnição, ele se encontrava um pouco mais afastado revistando um terceiro, que se encontrava na esquina. Nesse momento, que a defesa entende que, se as agressões ocorreram da forma como a testemunha Paula menciona, o sargento não compreendia porque ele não tinha visibilidade, não viu essa cena. A perita descreve que a agressão teria ocorrido de modo a ocasionar um trauma cervical que decorre de choque polvolêmico oela hemorragia ocasinada pela lesão contusa, isso significa, e aí tem que ser melhor esclarecido pelos profissionais da medicina legal, o tempo em que a hemorragia se espargindo pelo corpo do Gabriel poderia ocasionar perda da consciência, perda da mobilidade e demais efeitos necessariamente decorrentes dessa ação. O que pode ser claramente perceptível, até 10 minutos, por exemplo, que esse fato levasse ele a uma imobilização, por conta própria dos seus movimentos, o que não teria sido percebido pelo sargento Jacobsen. As testemunhas afirmam apenas dois policiais militares terem praticado as lesões, as testemunhas em momento algum colocam o sargento Jacobsen próximo a guarnição. A defesa entende que nesse momentom há uma quebra, um recorte, um decorte em relação aos fatos e nós entendemos que ele não tem conhecimento do fato a ponto de assumir o risco da morte do menino Gabriel, no âmbito de ter dado carona para ele e ele ter descido da viatura. O encarregado do inquérito policial militar, a major que concluiu e acionou a solução do comandante geral, apontam que o Gabriel desceu caminhando da viatura, o que também converge com o depoimento do sargento Jacobsen de que ele foi deixado ali. Nesse sentido, a defesa entende que os pontos interrogatórios do sargento Jacobsen mais uma vez encontram elementos na prova. E só não encontram elementos na prova, como também a defesa entende que além da inocência, uma injustiça muito garnde vem sendo praticada, pois não descartamos a hipótese do sargento Jacobsen ser vítima, agora, de uma trama por não ter conhecimento do fato e não ter sido comunicado pelos subordinados dessa agressão, o que teria levado ele a adotar outra medida, que não essa que ocorrera.

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