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Notícias | Rio Grande do Sul JUSTIÇA

Três brigadianos presos pela morte de Gabriel são indiciados pela Polícia Civil

Investigadores afirmaram que a abordagem dos PMs foi violenta e que a vítima pode ter morrido na viatura, no trajeto até onde o corpo foi encontrado

Por Ubiratan Junior
Publicado em: 01.09.2022 às 19:05 Última atualização: 01.09.2022 às 21:03

A investigação sobre a morte de Gabriel Marques Cavalheiro, de 18 anos, foi concluída pela Polícia Civil (PC) e apresentada nesta nesta quinta-feira (1º). O inquérito indicia o sargento da Brigada Militar (BM) Arleu Júnior Cardoso Jacobsen e os soldados Cléber Renato Ramos de Lima e Raul Veras Pedroso, por homicídio triplamente qualificado por crime de motivo fútil, emprego de tortura e impossibilidade de defesa da vítima. Os acusados estão presos preventivamente desde 23 de agosto no Presídio Militar de Porto Alegre.

Em coletiva na tarde desta quinta-feira (1º) no Palácio da Polícia, em Porto Alegre, os investigadores detalharam o inquérito polocial que foi encaminhado ao Poder Judiciário
Em coletiva na tarde desta quinta-feira (1º) no Palácio da Polícia, em Porto Alegre, os investigadores detalharam o inquérito polocial que foi encaminhado ao Poder Judiciário Foto: Leandro Reis/Polícia Civil

Os três brigadianos já haviam sido denunciados pela Corregedoria-Geral da BM, que apontou homicídio doloso, falsidade ideológica e ocultação de cadáver. Além disso, as investigações militares indicaram transgressões disciplinares previstas no Estatuto dos Militares Estaduais do RS e Regulamento Disciplinar da Brigada Militar.

De acordo com PC, ainda há diligências em andamento mas já se tem provas que sustentam a acusação contra os policiais. Em coletiva realizada na tarde desta quinta-feira, o delegado de São Gabriel, José Soares Bastos, o delegado regional do município onde o crime aconteceu, Luís Eduardo Benites, o subchefe da Polícia Civil, Vladimir Urach, o chefe de polícia, Fábio Motta Lopes e o diretor do departamento de Polícia do Interior, Nedson Ramos de Oliveira, explicaram à imprensa no Palácio de Polícia, na Capital, a motivação e detalhes da investigação concluída.

Conforme os investigadores, na abordagem policial do dia 12 de agosto Gabriel teria caído e batido com a cabeça em um paralelepípedo após ser agredido por um dos brigadianos. Em seguida a vítima foi algemada e, segundo testemunhas, quando já estava de pé, um dos PMs o agrediu com golpes de cacete na região cervical.

Inicialmente foi registrado apenas o desaparecimento do jovem pelos pais dele, no dia 15 agosto. No mesmo dia, após receber imagens a PC e o Corpo de Bombeiros iniciaram as buscas em torno da barragem na localidade de Lava Pés, onde dias depois o corpo da vítima foi encontrado.

“Depois o laudo pericial, divulgado na segunda-feira (29), constata que a morte foi em decorrência da utilização de um instrumento contundente que causa a hemorragia interna. Esse golpe no pescoço rompe vasos sanguíneos, que faz com que o sangue fosse jorrado para a cavidade torácica e essa, portanto, é a causa da morte”, explica Lopes. “Quando o corpo do Gabriel foi colocado na água ele já estava morto”, completa. Ele ainda afirma que essa morte é por causa da abordagem inicial da guarnição.

O delegado Bastos, da Delegacia de Polícia de São Gabriel, disse que todos depoimentos das testemunhas apontam que desde o começo a abordagem foi violenta. Ele reforça que as descrições condizem com os resultados do laudo pericial. “Isso sugere que Gabriel tenha falecido na viatura no trajeto ao local onde foi deixado ou em momento brevemente posterior”, afirma. Segundo o delegado o momento da morte é difícil de ser esclarecido, mesmo pela perícia, pois o corpo foi encontrado uma semana depois da morte e já estava em decomposição.

Bastos explica que o indiciamento de tortura por conta das agressões, a impossibilidade de defesa da vítima em razão da abordagem "ocorreu em superioridade numérica e das agressões relatas pelas testemunhas mesmo Gabriel estando algemado”. Ainda de acordo com o delegado, outra qualificadora é o motivo fútil. “Foi relatado que a questão da abordagem violenta foi suscitada por um eventual desacato do Gabriel em relação aos policiais no início da abordagem”, revela.

Gabriel teria chamado um dos brigadianos de “fraco” e após isso as agressões teriam começado. Bastos afirma que a abordagem durou em torno de 10 minutos. Inicialmente o policial desacatado teria dado um tapa no Gabriel, enquanto outro identificava ele e o terceiro conversava com a solicitante. A BM foi acionada porque a vítima estaria embriagada e tentando invadir uma residência. O delegado explica que um dos agentes teria colocado Gabriel a força na viatura e os outros dois não teriam sido contrários a ação. “Não há indícios de que nenhum dos policiais tenha discordado dessa abordagem violenta e da decisão de levar o Gabriel e abandonar no local ermo. Não há indícios de que ninguém tenha discordado ou se oposto a essa conduta”, afirma.

A polícia ainda pretende realizar uma reconstituição do crime para melhor elucidação dos fatos. Segundo Bastos, telefones dos policiais estão apreendidos e a investigação ainda aguarda o resultado de algumas perícias que estão em andamento. “Todos esses elementos que estão em andamento serão encaminhados em complemento ao Poder Judiciário”, finaliza.

O dizem as defesas?

Procurada pela reportagem, a defesa dos soldados Lima e Pedroso não se manifestou até as 18 horas. Já a defesa do sargento Jacobsen, representada pelo advogado Maurício Adami Custódio, reforçou que ele “jamais participou de qualquer agressão, contribui para qualquer tipo de agressão e se omitiu frente a qualquer tipo de agressão contra o Gabriel”.

Custódio afirma que nos próximos dias apresentarão provas que vão contribuir e reforçar a inocência do seu cliente. Para o advogado os inquéritos das Polícias Militar e Civil divergem. “O Gabriel desceu caminhando da viatura, segundo o próprio encarregado que é policial militar”, afirma referindo-se a conclusão da PC de que possivelmente a vítima morreu na viatura ainda no trajeto. “O sentimento é de indignação pela transformação de inquéritos que deveriam ser técnicos e se transformaram em figuras políticas”, acrescenta. Sem detalhar ele revela que houve desentendimento entre as instituições nos bastidores das investigações.

O advogado ainda disse que “a condução do Gabriel no primeiro momento se deu exclusivamente pelos dois soldados. Quando o sargento se aproxima não lhe é passado e nem comunicação o tapa, o soco, enfim, a agressão que o Gabriel teria suportado.”

“Mas a defesa segue sempre crente que a Justiça vai ser mais efetiva que os órgãos policiais”, finaliza Custódio.

 


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