Alimentos sobem mais que a inflação e cesta básica custa mais de R$ 750 no RS
Itens mais importantes de consumo doméstico têm acumulado de 12,58%. Inflação do período foi 6,47%
Notado cotidianamente pelo consumidor, o aumento de preços nos alimentos atinge principalmente os itens da cesta básica. São os produtos considerados essenciais pelo Ministério da Saúde como batata, pão, carne, óleo, banana e farinha. De janeiro a outubro de 2022, a cesta básica acumulou alta de 12,58%. No mesmo período, o Índice Naiconal de Preços ao Consumidor Amplo apurado pelo IBGE, um dos índices que medem a inflação no País, registrou 6,47%.
Dados divulgados em novembro pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apontam que de 13 produtos alimentícios pesquisados, 11 registraram alta. Porto Alegre foi a capital onde o conjunto dos alimentos básicos apresentou o maior custo (R$ 768,82), entre setembro e outubro o aumento foi de 3,34%.
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Fatores envolvidos
Ainda segundo o economista, há diversas situações e fatores que compõem o cenário inflacionário que atinge com força os alimentos. A dinâmica cambial e global, pelas commodities, é o principal fator. "Tivemos os preços impactados pela guerra Rússia e Ucrânia, com a suspensão de insumos. Também existe uma diferença de preço entre produtor e supermercado, envolve custo de frete, lucro. E as questões climáticas que influenciam o custo. As produções foram afetadas pelo La Ninã, com inverno rigoroso, seca rigorosa, pouca pastagem que influenciou o preço do milho, por exemplo, que é o alimento do gado", explica Moura.
Outro fator é a lei da oferta e demanda. "Na oferta de alimentos, quando se aumenta a demanda tem que haver aumento da oferta também, mas a oferta no mundo caiu, a produção caiu com a guerra e impactou os preços em geral. Um exemplo é o leite. Ele subiu muito porque o preço da carne estava melhor, se abateu muito gado, faltou o leite. O governo tem que ter estoque regulador de produtos essenciais", avalia o economista.
Salário deveria ser cinco vezes maior
O Dieese realiza periodicamente uma avaliação estimando o valor do salário mínimo necessário, levando em conta a determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e sua família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência.
Em Porto Alegre, que tem a cesta básica mais cara do País, em outubro o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas, pelas contas dos economistas do departamento, deveria ter sido de R$ 6.458,86. Ou seja: 5,33 vezes o mínimo vigente no País, que é de R$ 1.212,00.
Como a conta não fecha, grande parte das famílias tem um desafio crescente para equilibrar o orçamento e suprir suas necessidades básicas.
Problema mundial e solução interna
O economista lembra que a inflação é um problema mundial e que a tendência é que a situação seja estabilizada.
"O mundo sofre com a inflação. Os combustíveis, que também registram alta de forma constante e impactam outros setores, dependem do preço internacional. A tendência do mercado é estabilizar, EUA e Europa já estabilizaram a taxa de juros. Por aqui também devemos estabilizar."
Sobre o preço dos alimentos, Moura alerta para um cenário um pouco diferente e defende uma medida interna no nível nacional.
"Nos alimentos não existe uma solução a curto prazo, eles sempre têm volatividade, tem que aumentar a oferta de produção. Temos feito isso internamente, mas o governo tem que ter um estoque regulador de produtos essenciais, como o arroz. Há receio e desinformação sobre o cenário atual e o que está por vir, mas a verdade é que o novo presidente terá desafios que qualquer outro teria. O momento é do País e não de um ou outro presidente", diz.
Cardápio é adaptado à realidade
Em Novo Hamburgo, os consumidores percebem o impacto da inflação no custo dos alimentos. A empresária Cristiane Amador, 47 anos, faz as compras para casa e também para seu restaurante. "Percebo o aumento dos alimentos ao longo do ano, às vezes há variação de qual subiu mais. Sinto a alta em alimentos como cebola, tomate, óleo, batata, arroz, café, legumes e verduras. Como tenho restaurante, não tem como não comprar, mas acabo adaptando, como por exemplo, trocar tomate e batata por beterraba e cenoura que estão custando menos. Também negocio com fornecedores", comenta.
O consultor técnico Augusto Hoff, 40, também sente a elevação dos preços dos produtos alimentícios em Novo Hamburgo. "Principalmente quando vou pagar a fatura de um supermercado que tenho cartão. Costumamos comprar as mesmas coisas e percebo que a fatura vai aumentando", relata.
Com os preços subindo, a venda também caiu. É o que constata Luís Kranz, que é proprietário do supermercado no bairro Liberdade em que Cristiane e Augusto fizeram compras na última segunda (28).
"Alimento não tem como não comprar, mas acabamos vendendo menos. Sempre tem um impacto. E agora com cenário econômico incerto acredito que vá piorar", conta Kranz, que tem apostado em produtos que tiveram queda no valor como leite e naqueles que possam ter relação com os jogos da Copa. "Acabamos vendendo algumas coisas a mais nos dias de jogo da Seleção, como a cerveja."
Prévia da inflação acelerou
O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor - Amplo 15), conhecido como a prévia da inflação, acelerou 0,53% em novembro, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados na semana passada.
A alta foi influenciada principalmente pelo preço de alimentos e bebidas, que subiram 0,54% no mês. Também pesou a alta nos grupos de produtos e serviços de saúde (0,91%) e de transportes (0,49%).
A alimentação fora de casa subiu 0,40%. O preço de uma refeição variou 0,36%.
Preço do tomate subiu e o do leite caiu
Conforme o IPCA-15, o grupo Alimentação e bebidas teve aumento expressivo na passagem de outubro (0,21%) para novembro (0,54%), puxado pelos alimentos para consumo no domicílio (0,60%).
Destacam-se, em particular, os aumentos nos preços do tomate (17,79%), da cebola (13,79%) e da batata-inglesa (8,99%).
Além disso, os preços das frutas subiram 3,49%, contribuindo com 0,04 p.p. no resultado do mês.
No lado das quedas de preços, cabe mencionar o leite longa vida (-6,28%), cujos preços já haviam recuado em outubro (-9,91%).