Vereador publicou crítica a colega suspeito de crime sexual um dia antes de ser afastado por 'rachadinha'
Rafael Souza (PDT) postou nota de repúdio contra suplente exonerado ontem e que fazia parte do alto escalão da Prefeitura de São Leopoldo. Nesta manhã, ele foi alvo de ação policial
Horas antes de ser alvo de uma operação da Polícia Civil nesta quinta-feira (22), o vereador de São Leopoldo Rafael Souza (PDT) havia postado em suas redes sociais uma nota de repúdio em que criticava o suplente de vereador investigado por estuprar as filhas adolescentes. Souza destacou em sua fala que nunca imaginou que ele fosse um "criminoso"."Deixo aqui registro meu total repúdio a este crime. Me encontro sem palavras para expressar a perplexidade e revolta que sinto com esta notícia. Nunca imaginei que em meio a tantos elogios à família, proferidos durante as sessões da Câmara inclusive, existisse um criminoso. Isso nos traz um alerta: a violência é silenciosa”, escreveu Souza.
O político suspeito de abusar das filhas era do alto escalão na Prefeitura de São Leopoldo e foi exonerado. O nome dele não é publicado para preservar a identidade das vítimas, conforme estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Vereador e secretário afastados
Rafael Souza, a esposa dele, o assessor do vereador, o secretário municipal de Administração, Thiago Gomes e um servidor do Serviço Municipal de Água e Esgotos (Semae) são investigados pelos crimes de concussão (extorsão para praticar algum ato de competência do serviço público) e "associação criminosa estável", cujo líder seria o vereador.
Conforme a Polícia, Souza é suspeito de cobrança para a liberação dos alvarás e de valores mensais a cargos em comissão conseguidos por ele, a chamada "rachadinha".
Segundo a investigação, CCs que ganhavam salários de R$ 4 mil eram obrigados a repassar, mensalmente, o valor de R$ 2,5 mil ao vereador e à esposa dele.
Pedido de prisão foi negado pela Justiça
De acordo com o titular da Draco, o delegado Ayrton Martins de Figueiredo Júnior, a Polícia havia pedido a prisão preventiva dos investigados, o que foi negado pela Justiça. Em vez disso, foram aplicadas medidas alternativas como o afastamento por tempo indeterminado dos cargos, sequestro de bens e bloqueio financeiro dos investigados.
Segundo o delegado, foram apreendidos computadores e celulares. Também, durante o andamento do processo os investigados foram proibidos de contatar testemunhas.
Conhecido como '8K'
Souza era conhecido no meio político como "Rafa 8K". O apelido foi criado quando ele ainda era titular da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Turístico e Tecnológico (Sedettec), cargo que assumiu em 2017.
O político começou a ser investigado em 2020 após denúncia à Polícia. O relato era de que, no auge da pandemia, ele exigia o pagamento de R$ 8 mil a empresários para a liberação de alvarás. O comportamento, segundo testemunhas, motivou o apelido. Nas redes sociais, a letra K é usada para representar "mil".
Contraponto
Uma assessora de Rafael Souza (PDT) contatada pela reportagem disse que o político falará nesta tarde sobre o caso. Até as 16h20, ele ainda não havia se manifestado. O espaço está aberto para contraponto.
Procurada, a prefeitura informou que o secretário de Administração envolvido no caso foi exonerado do cargo. O servidor do Semae investigado também foi afastado. (Leia as notas na íntegra abaixo).
Nota da prefeitura de São Leopoldo
"A Prefeitura de São Leopoldo comunica que na manhã desta quinta-feira, 22 de dezembro a Polícia Civil cumpriu mandado de busca e apreensão da Operação Consiglieri no gabinete do secretário municipal da Administração, e o servidor em questão foi exonerado. Informamos ainda, que zelando pela conduta ética e adequada dos princípios públicos, estamos contribuindo com todos os processos de investigação para que os fatos sejam apurados. Com relação às denúncias envolvendo alvarás, referidas na Operação, a Administração Municipal informa que nunca houve registro oficial envolvendo este tema e determinou a imediata abertura de processo administrativo para apurar tais fatos, do período 2017/2020."
Nota do Semae
"O Serviço Municipal de Água e Esgotos de São Leopoldo (Semae) comunica que, diante da Operação Consiglieri, deflagrada pela Polícia Civil, na manhã desta quinta-feira (22), o servidor em questão foi imediatamente exonerado.
Com relação às denúncias, referidas na Operação, o Semae informa que não existe qualquer relação das questões apontadas com as atividades de competência da autarquia."