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Opinião

Nosso coronavírus

Por Marina Mentz
Publicado em: 07.02.2020 às 07:00

Dezenas de países têm casos confirmados ou suspeitos. Milhares de pessoas infectadas, diversas mortas e, em partes da China, até fronteiras fechadas por sua causa. Além disso, ele está para receber um nome próprio, mas por enquanto causa temor com a nomenclatura provisória: coronavírus. Mas esse, na verdade, é o nome do grupo de vírus a que ele pertence - só que isso não vem ao caso aqui.

O caso é que todo mundo já ouviu falar dele, já teve dúvidas, já se apavorou e se surpreendeu com a velocidade da epidemia. Uma coisa dessas se espalha muito rápido mesmo e claro que é motivo para que nos sintamos temerosos. Buscar as melhores formas de informação e prevenção é o melhor caminho nestes casos.

Neste espaço, no entanto, quero pedir ao estimado leitor que preste atenção aos dados que trarei aqui. Faço isso porque vejo que nos espantamos com os números do coronavírus, mas não damos tanto valor para as vidas perdidas de crianças todos os dias por aqui. Isso mesmo: o Brasil é o país que mais mata crianças todos os dias no mundo. Eu já falei outras vezes e repito aqui: neste País, cerca de 31 crianças são assassinadas todos os dias - a maioria por ferimento de arma de fogo.

O assunto, com frequência, aparece nas páginas do Jornal NH. Mas com ainda mais frequência, os casos acontecem por aí: nas ruas, nas escolas, nas casas e na Internet. A violência contra crianças é, infelizmente, comum e, apesar de termos leis de proteção a elas, pouco desta defesa se concretiza no cotidiano.

Quantas crianças precisam morrer para que se dê o destaque ao assunto assim como um morto por coronavírus? Por aqui, desde 2012, adolescentes são proporcionalmente mais vítimas de homicídios do que a população em geral, sendo os negros com três vezes mais risco de serem mortos do que brancos. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) dizem que 61% das crianças brasileiras vivem na pobreza, em suas múltiplas dimensões.

Quando elevamos a idade do público para o qual estamos olhando e falamos de jovens, entre 15 e 29 anos, 30 mil são assassinados por ano. Isso significa que, a cada dois dias, é como se caísse um avião só com jovens. Se preferir outra métrica: são sete jovens assassinados a cada duas horas no Brasil. Ou ainda, é uma boate kiss a cada três dias. Menos de 8% destes casos de homicídios chegam a ser julgados.

Lamento profundamente a epidemia que está se espalhando e causando sofrimento a tantas pessoas. Mas gostaria de pedir a atenção a assuntos cotidianos para os quais, frequentemente, escolhemos não olhar.


O artigo publicado neste espaço é opinião pessoal e de inteira responsabilidade de seu autor. Por razões de clareza ou espaço poderão ser publicados resumidamente. Artigos podem ser enviados para opiniao@gruposinos.com.br
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