O assunto mais falado em Novo Hamburgo e região tem a ver com uma das doenças que mais assustam e que mais demandam cuidados humanizados: o câncer. Pessoas acometidas pela doença e seus familiares precisarão se deslocar cerca de 90 quilômetros para realizar consultas, biópsias, exames e procedimentos, como cirurgias e quimioterapia. Por óbvio, é algo longe de ser uma notícia digerível, posso assim dizer. O que torna ainda mais complicado aceitar qualquer uma das versões trazidas pelos envolvidos - nenhuma parece razoável e convincente o bastante - é que, até há pouco tempo, Novo Hamburgo se vangloriava como sendo um polo da saúde!
Nada contra Taquara ou o seu hospital, mas aqui há um número maior de profissionais qualificados e temos uma boa rede assistencial. É difícil de entender essa situação e desconsiderar o sofrimento adicional que ela causará. Talvez alguma solução seja apresentada pelo governador nas próximas semanas, o que seria extraordinário. Talvez a Fundação de Saúde de Novo Hamburgo, empresa pública e extremamente capaz, que conseguiu ajudar a cidade a enfrentar tantos desafios, como as cirurgias cardíacas e a gestão de mais de 30 leitos de UTI na pandemia, possa entrar na jogada.
Quem sabe um tipo de financiamento emergencial do SUS via governo do Estado possa permitir que o tratamento volte a ser realizado aqui daqui a alguns meses, ou em 2023.
Mesmo que o atendimento em Taquara se mantenha, o SUS de Novo Hamburgo precisará se readequar para realizar consultas com oncologistas, biópsias e exames de imagem aqui mesmo - só garantir o transporte poderá não ser o suficiente. Enquanto médico e professor, analisando as pesquisas recentes, afirmo que há um risco real que essa distância impacte nos resultados clínicos dessas pessoas com câncer.
O pesquisador italiano Massimo Ambroggi e seus colegas publicaram, em 2015, no periódico científico The Oncologist, uma revisão de 27 estudos envolvendo 716.153 pacientes com câncer - o título do artigo é pertinente à situação de Novo Hamburgo: "Distância como uma Barreira para o Diagnóstico e o Tratamento do Câncer: uma Revisão." Eles encontraram que o aumento na distância do tratamento está associado a diagnósticos mais tardios (tumores sendo descobertos em estágio mais avançado), tratamento de pior qualidade, pior prognóstico (tempo de sobrevida) e qualidade de vida.
Ocupo hoje o espaço do brilhante Cláudio Brito e, por isso, tentei seguir sua linha de indignação, de justiça e de busca por soluções.